Pesquisar

Canais

Serviços

Publicidade
Publicidade
Publicidade

Qualidade em dose dupla

Nelson Sato - Folha de Londrina
18 mar 2006 às 12:07

Compartilhar notícia

siga o Bonde no Google News!
Publicidade
Publicidade

No dia 10 de março, uma sexta-feira, Marisa Monte encabeçava a lista dos CDs mais vendidos na maior loja virtual do País, a Submarino. Nenhuma surpresa, a não ser pelo detalhe de que era o dia anunciado para o lançamento simultâneo de seus dois novos discos, com as primeiras cópias de ''Infinito Particular'' e ''Universo ao Meu Redor'' ainda sendo empacotadas para o varejão.

Mais do que o impacto mercadológico, porém, a nova coleção de canções da cantora e compositora carioca vem reforçar os argumentos dos que lhe atribuem o título de maior talento musical de sua geração. Aos 38 anos, a diva preserva controle total sobre sua carreira, não se atrelando a regras ditadas pela indústria fonográfica. Mantém-se íntegra nas opções estéticas, ostentando autonomia para gravar quando e como quer seus discos.

Cadastre-se em nossa newsletter

Publicidade
Publicidade


Montou um estúdio dentro de sua casa. Criou um selo próprio, Phonomotor, com distribuição mundial pela EMI. Despontou como intérprete-revelação no final da década de 80, ainda que de gosto excessivamente eclético para o paladar de alguns. Hoje, além de cantar como poucas no mundo, compõe, produz e toca vários instrumentos.

Leia mais:

Imagem de destaque
Apoio

Chico Buarque assina manifesto em defesa do padre Júlio, alvo de CPI

Imagem de destaque
Homem atemporal em 2023

Men of the Year: Dr. JONES elege Péricles como homem atemporal em categoria inédita

Imagem de destaque
The Tour em São Paulo

Jonas Brothers anunciam único show em São Paulo em abril de 2024

Imagem de destaque
The Eras Tour

Guinness confirma que Taylor Swift fez a turnê mais lucrativa da história


Agora resolveu lançar dois álbuns de uma só vez para dar vazão a um vasto material inédito acumulado, garimpado durante o período em que cuidou de seu filho, Mano Wladimir (fruto de seu casamento com o músico Pedro Bernardes, conhecido também pelo heterônimo Wladimir Gasper). A decisão de lançá-los simultaneamente soou-lhe natural. Não queria desovar um deles, sair em turnê e deixar o outro criando teias de aranha na gaveta.

Publicidade


Seu último disco-solo, ''Memórias, Crônicas e Declarações de Amor'', saiu em 2000. Dois anos depois, lançou ''Tribalistas'', projeto coletivo gravado em parceria com Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown. Os dois parceiros voltam a bater ponto em ''Infinito Particular'' e ''Universo ao Meu Redor''. O primeiro disco, o mais autoral de sua trajetória, tem vocação pop.


O outro é dedicado ao samba, ou melhor, à atmosfera do samba, como ela frisa no DVD promocional distribuído à imprensa. Marisa assinou a produção de ''Infinito Particular'' com Alê Siqueira, um paulista radicado em Salvador (BA) e com quem ela já havia trabalhado em ''Tribalistas''. E convocou nomes de peso para escrever os arranjos de cordas e metais: Philip Glass (famoso na seara da música minimalista), Eumir Deodato (maestro brasileiro radicado desde os anos 70 nos Estados Unidos) e João Donato (figura de proa da Bossa Nova).

Publicidade


A eles deve ser creditada uma parte considerável das virtudes do disco, que se revela rico em timbres, extraídos particularmente de instrumentos como violoncelo (executado por Jaques Morelenbaum), violino, fagote, trompete e flugel horn. Como se fosse uma continuação de ''Tribalistas'', o álbum traz Marisa, Arnaldo e Brown na autoria de 7 faixas. Há parcerias ainda com Adriana Calcanhotto, Nando Reis, Marcelo Yuka, Seu Jorge, Leonardo Reis e Rodrigo Campello.


Desta vez, ela acertou em cheio na escolha da canção de trabalho, não repetindo a gafe de seis anos atrás quando pinçou a cafonérrima ''Amor I Love You'' para promover ''Memórias, Crônicas e Declarações de Amor''. O cartão de apresentação do novo repertório é ''Vilarejo'', de melodia cativante e cuja letra projeta (não sem um certo travo hiponga) um lugar ideal para o convívio entre os seres humanos:

Publicidade


''Há um vilarejo ali / Onde areja um vento bom / Na varanda, quem descansa / Vê o horizonte deitar no chão / Pra acalmar o coração / Lá o mundo tem razão / Terra de heróis, lares de mãe / Paraíso se mudou para lá / Por cima das casas, cal / Frutas em qualquer quintal / Peitos fartos, filhos fortes / Sonho semeando o mundo real / Toda gente cabe lá / Palestina, Shangri-lá'' canta ela, com voz cristalina.


Sobressaem também no CD a abolerada ''Aquela'' (parceria de Marisa com o percussionista Leonardo Reis), ''Levante'' (com o trompete destacando-se em primeiro plano no arranjo), ''Pelo Tempo que Durar'' (com letra de Adriana Calcanhotto) e a faixa-título (''O mundo é portátil / Pra quem não tem nada a esconder / Olha minha cara / É só mistério, não tem segredo / Vem cá, não tenha medo / A água é potável / Daqui você pode beber / Só não se perca ao entrar / No meu infinito particular'').

Publicidade


Há ainda duas faixas de mesmo quilate, ambas com acentuada influência de Gal Costa: ''A Primeira Pedra'' e ''Pernambucolismo'' a faixa mais surpreendente do disco, trazendo um misto de Tropicália com trip hop em instrumental executado apenas por Dadi na percussão e pela própria Marisa no baixo. Ao longo do disco, além do baixo, Marisa toca violão, xilofone, kalimba, vocoder, Lixa de unha, metalofone, baby shaker, auto-harpa e ukulele (espécie de precursor do cavaquinho).


Menos empolgante, a popenta ''Pra Ser Sincero'' soa como uma faixa-bônus de ''Memórias, Crônicas de Declarações de Amor'', tal a afinidade com o material anterior. O disco traz ainda as dispensáveis ''O Rio'' (feita para seu filho) e ''Gerânio'' (de Nando Reis e Jennifer Gomes, remetendo diretamente a ''Diariamente'', faixa do ex-Titãs registrada no álbum ''Mais'' e que brevemente será relançada em versão drum'n'bass pelo DJ Patife).

Publicidade


No depoimento para o DVD de divulgação, Marisa conta que o embrião do álbum nasceu enquanto catalogava seu acervo de composições gravadas. Ao digitalizar o material contido em fitas cassete, ouviu uma centena de registros de áudio recuperando músicas prontas, algumas inacabadas e outras esboçadas. No mesmo período, ela tocou outra frente de pesquisa, voltada exclusivamente para o samba. Um terceiro projeto, focado em interpretações de canções antigas das décadas de 20 e 30, ficou para a próxima.


O samba como celebração
A inspiração para gravar ''Universo ao Meu Redor'' veio de seus contatos com os compositores da Velha Guarda da Portela, dos quais produziu CDs nos últimos anos. Mas foi além, dando início a um levantamento do samba carioca antigo, como ela revela no DVD promocional: ''Sabia que existia uma grande quantidade de músicas inéditas que sobrevivia apenas na tradição oral, que estava apenas na memórias das pessoas e que estava se perdendo. Fiz uma pesquisa. Conversei com os compositores, com seus parentes e parceiros''.

Publicidade


Depois, ela convidou vários bambas para gravar informalmente em seu estúdio. Descobriu um mundo peculiar: ''Nesse universo, muitos compositores não são músicos profissionais, principalmente entre o pessoal da velha guarda. Você encontra ali técnico de refrigerador, feirante, pedreiro, enfermeira. Eles faziam samba como uma celebração da vida, para falar de suas dores, sofrimentos, para falar da natureza e da própria música. Eles faziam sem segundas intenções, não para tocar em rádio, para estourar, para ser hit, para vender. O cara faz porque precisa tirar aquilo de dentro dele''.


Do que registrou em seu estúdio, peneirou algumas composições para o disco. Excluiu a maioria das músicas pelo teor masculino das letras. De toda a pesquisa, aproveitou faixas de Casemiro Vieira (''Perdoa, Meu Amor''), Argemiro Patrocínio (''Lágrimas e Tormentos'') e Jayme Silva (''Meu Canário''). Incluiu também inéditas de Paulinho da Viola, Dona Yvonne Lara, Adriana Calcanhotto, Moraes Moreira & Galvão e uma parceria com David Byrne e Fernandinho Beat Box na canção mais fraca do disco (''State of Liberty'').


Completou o repertório com sambas assinados em parceria com Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown. ''Não sou uma cantora de samba, nem queria me tornar uma'' explica ela, no DVD. ''Queria fazer um disco meu, de repertório de samba, com as minhas referências sonoras, com as coisas que acho interessantes. Por isso, eu não o vejo como um disco de samba, mas um disco com a atmosfera do samba, que fala da condição humana, da solidão, do amor, os temas mais frequentes do universo do samba. Acho que conseguimos fazer um disco clássico, elegante, mas com uma sonoridade contemporânea''.


De fato, ''Universo ao Meu Redor'' respeita a tradição, mas não se prende a purismos empoeirados. Tanto que, para produzir o álbum, Marisa recrutou Mario Caldato brasileiro radicado nos Estados Unidos que já trabalhou com Beastie Boys, Beck e Jack Johnson. Com exceção da já citada ''State of Liberty'' e da deslocada ''Três Letrinhas'' (composta por Moraes Moreira e Galvão em 1969), mais para canção do que para samba, prevalece uma homogeneidade no material reunindo várias canções excepcionais.


O disco abre com um sample da ''Voz da América'' narrando a chegada do homem à lua na faixa-título. Na deslumbrante ''O Bonde do Dom'', também escolhida acertadamente para ser a música de trabalho do CD, o instrumental combina violão e ukelele com órgão farfisa, baixo elétrico e hammond. Os encontros improváveis de timbres pontuam todo o disco, o que provocará certo estranhamento em ouvidos tradicionalistas.


Quem imaginaria Paulinho da Viola tocando cavaquinho entre tubas, fender rhodes (piano elétrico muito popular nos anos 70) e beat box (percussão feita com voz muito utilizada no rap)? É o que está presente em ''Quatro Paredes'' (''Eu só não te convido para dançar / Porque eu quero encontrar com você em particular / Há tempos tento encontrar um bom momento / Alguma ocasião propícia / Pra que eu possa pegar sua mão, olhar nos olhos teus / Seria bom, quatro paredes, eu, você e Deus'').


Há ainda harpa cruzando com cuíca em ''Perdoa, Meu Amor'', cavaquinho em harmonia com mini-moog e vibrafone em ''A Alma e a Matéria'' e ainda theremin e clavinete convivendo com violão, tamborim e reco-reco em ''Lágrimas e Tormentos''. Uma reunião inusitada de instrumentos espanta os desavisados também em ''Satisfeito'' (''Quem foi que disse que é impossível ser feliz sozinho / Vivo tranquilo, a liberdade é que me faz carinho''). Tais licenças, contudo, não subvertem o gênero. Apenas lhe aplicam uma lufada sutil de modernidade.

Os dois CDs estão saindo simultaneamente em Portugal, Espanha, México, Chile, Colômbia e Argentina. Em abril, chegarão a mais 38 países europeus, e em agosto, nos Estados Unidos, onde a cantora excusionará a partir de novembro. A turnê, batizada ''Universo Particular'', estréia dia 28 de abril no Teatro Guaíra, em Curitiba.


Publicidade

Últimas notícias

Publicidade
LONDRINA Previsão do Tempo