A trajetória do maestro e violonista paranaense Waltel Branco ilustra, como poucas, a memória musical brasileira. Convidado do 27º Festival de Música de Londrina, ele se apresenta nesta sexta-feira, 13 de julho, logo após a exibição do documentário ''Descobrindo Waltel'', às 18h15, no Espaço Caixa (ex-Associção Médica). No palco, será acompanhado pelo músico curitibano Kito Pereira, que tocará tabla indiana.
Aos 78 anos, o artista nascido em Paranaguá continua em atividade, embora padeça de problemas de audição. ''Componho todo dia'', diz ele, ostentando uma discografia de mais de 20 títulos, hoje mais cultuados do que ouvidos.
Longe dos holofotes, e distante da badalação da mídia, Branco foi figura anônima até ser tema do documentário de Alessandro Gamo. O curioso é que seu currículo é daqueles capazes de intimidar qualquer aspirante ao estrelato.
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Só para ter uma idéia da dimensão de sua obra, vale lembrar que é dele o arranjo da trilha sonora do famoso filme ''A Pantera Cor de Rosa''. E é ele também quem dirigiu dezenas de trilhas sonoras de novelas, minisséries e especiais exibidos pela Rede Globo de Televisão entre as décadas de 60 e 90.
''Eu fui uma espécie de guru do Bôni (ex-diretor geral), ele sempre me chamava para fazer alguma coisa. Recentemente, fizeram uma pesquisa interna e constataram que sou autor de 5.300 arranjos musicais para a emissora. Eu produzia muito, era mais ligeiro que um computador'', salienta.
O documentário ''Descobrindo Waltel'' foi lançado em 2005. Conquistou o Prêmio ABD-SP de Melhor Documentário no IX Festival Internacional de Documentários ''É Tudo Verdade'', em 2004; prêmio de Melhor Pesquisa no RECINE (Festival Internacional de Cinema de Arquivo 2004); e Menção Honrosa e Segundo Lugar na escolha do júri popular no CINESUL 2004.
Com 15 minutos de duração, traz depoimentos e músicas do homenageado, além de imagens de arquivo, trechos de apresentações inéditas e entrevistas de personalidades importantes do meio musical nacional como Hermínio Bello de Carvalho, Ed Motta, Sergio Cabral, Roberto Menescal, Dom Salvador e Sérgio Ricardo.
Branco tocou com alguns deles e com outros tantos numa verdadeira galeria de notáveis que inclui, entre outros, Dizzy Gillespie, Stravinsky, Quincy Jones, Andrés Segovia, Baden Powell e João Gilberto. Sobre este último, lembra que dividiu uma mesma casa na época da juventude, antes de seu casamento. ''Fiz o arranjo e toquei violão em 'Chega de Saudade' no disco 'Amoroso', conta.
Dos músicos com quem tocou, porém, ele faz menção especial a Luiz Bonfá. ''Fizemos um duo, gostava muito de tocar com ele'', assinala. O violonista explica que trabalhou também com o jazzman norte-americano Booker Pittman (1909-1969), pai da cantora Eliana Pittman e que chegou a morar em Londrina e cidades da região na década de 50 (a passagem do músico pelo Norte do Paraná será contada num curta-metragem produzido pelo Instituto de Cinema e Vídeo Kinoarte, de Londrina).
''Ele foi um dos maiores sax-soprano do mundo. Trabalhamos juntos, depois eu fiquei no Rio de Janeiro e ele decidiu vir para cá'', lembra. Antes de se estabelecer no Brasil, como contratado da Globo, Waltel Branco viveu um tempo no exterior. Aos 20 anos, um ano antes de ser ordenado padre, deixou o seminário e seguiu para Cuba acompanhando a cantora Lia Ray como arranjador, diretor musical e violinista.
Depois mudou-se para os Estados Unidos, onde estudou música incidental com o maestro Stanley Wilson. Fez várias apresentações em Nova York. Integrou a banda que acompanhava Dizzy Gillespie e gravou com Quincy Jones, Franco Rossolino, Charles Mariano, Sam Noto, Mel Lewis e Maxi Bennet. Tocou jazz-rock em plenos anos 50 no Chico Hamilton Trio. Foi precursor do fusion.
Chegou a tocar em um trio com Nat King Cole, além de ter produzido o disco de seu irmão Fred Cole e, mais tarde, o de Natalie Cole, filha de Nat. Esteve também na Espanha, onde venceu o concurso da Rádio Difusora Francesa e, como prêmio, ganhou uma bolsa para estudar com Andrés Segóvia, o maior violonista clássico do século 20.
Fã de Segóvia, que tocava desde criança, Waltel se lembrava de peças das quais o próprio mestre se esquecera. Em vez de aulas, passou a tocar junto com Segóvia. Essa foi uma entre outras ousadias do sujeito, que a memória musical brasileira vai finalmente tirando do anonimato.
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