Quem gosta da música sertaneja feita atualmente está acostumados a escutar letras que falam de balada, em que os homens bebem mesmo, beijam mesmo, pegam mesmo e, no dia seguinte, nem se lembram de nada, como canta a dupla Fernando & Sorocaba na música "É Tenso". Ou então as que defendem que, para conquistar garotas, basta ter um carrão, como em "Camaro Amarelo", de Munhoz & Mariano. Dentro do gênero, porém, já existem mulheres que fazem sucesso com canções diferentes, cheias de atitude feminista.
As irmãs Simone & Simaria, de Fortaleza (CE), são um exemplo disso. Ex-backing vocals de Frank Aguiar e desde 2012 se apresentando como dupla de forró-sertanejo, elas decidiram tocar na ferida da violência doméstica e cantam "Ele Bate Nela", composta por Simaria. Como uma balada romântica, a música vai revelando a história de uma mulher que acreditava ter conhecido um cara especial, até que um dia, ele começa a bater nela.
"Quando componho, penso no que as pessoas passam. E a verdade é que isso [violência doméstica] é bastante comum ainda. Eu queria falar disso, mas de um jeito que não fosse muito pesado. Então compus essa história com amor", disse Simaria, ao UOL.
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Lançado em maio de 2014, o clipe da música (assista aqui) tem mais de 2 milhões de visualizações. O vídeo mostra Simone cantando grávida, além de uma dramatização da letra da música, em que uma atriz vive uma mulher que é espancada pelo marido.
Simaria diz ter se surpreendido com a quantidade de acessos do clipe, o que, segundo ela, não é comum para artistas do Nordeste. "Em São Paulo tem mais gente, mais visibilidade. Aqui [Ceará] é mais difícil, então a gente fica muito feliz com esse trabalho", disse ela.
Ao final do clipe, surge a mensagem "Não se cale. Denuncie. 180", com o telefone da Central de Atendimento à Mulher. A repercussão da música, segundo a dupla, é sentida principalmente ao final dos shows, quando as fãs as abordam e agradecem. "Algumas dizem que se libertaram", afirma Simone.
As irmãs dizem que o alcance não fica restrito às mulheres. Em fevereiro, elas lançaram o DVD "Bar das Coleguinhas", carregado de sofrência, o que atraiu muitos fãs homens. "É claro que a gente canta músicas de festa, de bebida e pegação, mas queremos que os homens abram os olhos, porque o mundo é machista. Se você só ouve música sobre bebida e raparigada, só vai querer saber disso mesmo", diz Simaria.
Confira o clipe de "Ele bate nela":
Resposta à altura
Quando escutou a versão gravada por Munhoz & Mariano da música "Sou Foda", do grupo de funk "Os Avassaladores", a paranaense Naiara Azevedo ficou irritada. Mas, graças a isso, conseguiu destaque no mercado sertanejo. Em 2011, ela lançou "Coitado", uma paródia da música . Enquanto eles cantam "Sou foda, na cama te esculacho/ Na sala ou no quarto/ No beco ou no carro", Naiara responde: "Coitado! /Se acha muito macho/ Sou eu que te esculacho/ Te faço de capacho".
Veja o clipe:
"Entendo que sejam músicas divertidas para uma festa, mas, se você para um pouco para pensar, fica mal de perceber que é assim que os homens veem as mulheres. As mulheres nas letras são objetos descartáveis, quando, na verdade, somos sensíveis e não enxergamos dessa forma". Depois do sucesso de "Coitado", que rendeu participações em alguns programas de TV, Naiara é constantemente solicitada para responder várias músicas, como "Lepo, Lepo", do Psirico, e "Não Tô Valendo Nada", de Henrique & Juliano.
(Fonte: Portal UOL)