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Show do Dead Kennedys em Curitiba deixa pergunta: Jello Biafra faz falta?

Rodrigo Juste Duarte
04 dez 2001 às 17:29

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Se os punks acreditassem em milagres, na certa diriam que esta foi a explicação para o retorno dos Dead Kennedys e da turnê brasileira, realizada poucos meses após a reunião da banda. Ao lado dos Sex Pistols e dos Ramones, os californianos do Dead Kennedys completam o triunvirato do punk, que anarquisou o planeta do final dos anos 70 em diante.

A volta do grupo ocorreu em setembro deste ano, num show super concorrido em Los Angeles. Porém este retorno não está sendo pacífico. O guitarrista East Bay Ray, o baixista Klaus Flouride e o baterista D.H. Pelligro entraram na justiça contra o vocalista Jello Biafra, proprietário do selo Alternative Tentacles, que lançou todos os discos do grupo. Eles alegaram o não recebimento de royalties e que Biafra estaria roubando os músicos. Conseguiram os direitos sobre os discos e continuaram a banda sem o antigo vocalista.

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O show que marcou história no Moinho São Roque em 02 de dezembro começou tarde - levando-se em consideração que o dia seguinte era uma segunda-feira brava de trablalho. Somente por volta de 1h da madrugada, os Dead Kennedys pisaram o palco, após três bandas de abertura. A primeira, Pelebrói Não Sei, mandou bem no aquecimento. Seu punk rock "ramônico" de letras divertidas fez todos que estavam na pista pular. Foram muito bem sucedidos, ao contrário dos cariocas do Rivets, que vieram na seqüência. Hardcore melódico com certeza não era uma boa opção para abrir o show de uma banda punk clássica. Resultado: receberam uma chuva de latas e garrafas plásticas cheias d'água páreo a que Carlinhos Brown ganhou no último Rock in Rio.

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A esta altura, o público não queria saber mais de bandas abrindo e estava afim de ver logo os Dead Kennedys no palco. Mas ainda havia o show dos Limbonauatas antes dos californianos. Deram sorte. Seu punk billy foi bem aceito e abriram-se rodas de pogo (a "dança" à base de empurrões e cotoveladas dos punks) violentas no meio daquele mar de gente - mais de 2.000 pessoas estavam presentes na casa.

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Bons velinhos
Após meia hora de intervalo para preparar o palco, aparecem os tão esperados Dead Kennedys diante de uma multidão insandecida de fãs que provavelmente não acreditavam que um dia fosse presenciar um show do grupo. O vocalista convidado era Brandon Cruz, da banda punk Dr. Know. Antes mesmo de chegar ao Brasil, a banda tinha avisado que ele tinha as mesmas características vocais de Jello Biafra. Realmente tinha. Além disso, fazia os mesmos trejeitos de Biafra. Com isso, corria-se o risco do grupo cair no caricatural, tornando-se banda cover de si mesma. Mas quem foi ao show pouco se importava com isso.


Os músicos estavam mudados devido a idade e a vida punk. East Bay Ray tinha um jeito de velho ranzinza e aparentava estar usando uma peruca. Klaus Flouride, pelo contrário, era só sorrisos. Muito simpático, o baixista de cavanhaque e cabelos brancos mais parecia um vovô que queria voltar a ser jovem para se divertir com os netos. Vestia uma calça larga de skatista e uma camiseta com os personagens Calvin & Hobbes estampados. O baterista D.H. Pelligro foi o que menos mudou. Apenas estava musculoso e não magrela como antigamente.

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Avalanche de clássicos
No repertório, somente clássicos. Sete deles retirados do primeiro disco do grupo, "Fresh fruit for rotting vegetables". A música "Forward to death" deu início à destruição. Curiosamente, o público pogava de um jeito mais moderado (provavelmente porque estavam muito extasiados) que no show dos Limbonautas. Na seqüência, vieram "Police truck", "Insight", "Kill the poor" e "Let's lynch the landlord". A essa altura do campeonato, muita gente subia ao palco para dar seu stage dive (mergulho no público), reprimidos com estupidez pelos seguranças que não queriam enteder que aquele era um hábito normal em shows punks. Houve momentos de tensão em que o público tentou revidar. Se a banda não parasse para apartar, algo trágico poderia ter acontecido.


O show seguiu com mais clássicos: "Dogbite", "Government flu", "Too drunk to fuck", "Moon over Marin", "Buzzbomb from Pasadena" e "Nazi punks fuck off", até a banda se despedir. Mas era óbvio que eles voltariam para um bis. Como é que eles iriam vir ao Brasil sem tocar "California Über Alles"?. Foi justamente com esta música que eles voltaram a dar as caras no palco. A divertida "Viva Las Vegas" veio na seqüência e a banda se despediu pela segunda vez. Com mais uma enxurrada de pedidos, veio o segundo bis com "Chemical Warfare" e o consagrado hino punk "Hollyday in Camboja".

De alma lavada, o público se convence de que o show havia terminado. A pergunta que ficou no ar é se Jello Biafra fez falta. Na minha opinião, fez sim, mesmo com a ótima performande de Brandon Cruz, que é um vocalista muito bom, interage com o público, tem carisma e presença de palco. Mas substituir Jello Biafra é uma tarefa muito ingrata. Melhor avaliar os músicos. Ver East Bay Ray reproduzindo ao vivo a introdução de "Hollyday in Camboja" foi indescritível.


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