Depois de três semanas, é possível observar que "A Regra do Jogo" guarda duas semelhanças importantes com "Avenida Brasil" – a capacidade de produzir excelente entretenimento bem como a de capturar o espírito do seu tempo.
João Emanuel Carneiro foi muito perspicaz em 2012. Enquanto o país vivia um importante momento de mobilidade social, com a ascensão da classe C ao mercado de consumo, ele criou uma história que agradou em cheio a diferentes públicos e classes.
A novela se passava num bairro fictício, o Divino (olha o nome), uma espécie de Madureira desidratado – sem conflitos sociais, diversidade racial, tráfico de drogas ou problemas de saneamento básico e habitação comuns em lugares como esse. Mais radical ainda, o autor propôs que o protagonista, Tufão (Murilo Benício), um ex-jogador de futebol bem-sucedido, preferisse morar no bairro em que nasceu do que migrar, como seria de se esperar, para a mais abastada zona sul da cidade.
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Olhando para trás, me parece fazer sentido entender "Avenida Brasil" como um sonho, uma fantasia, sobre um Brasil que seria capaz de resolver os seus problemas com trabalho honesto, dedicação às raízes e muito baile charme.
aregradojogoorlandoromuloTrês anos depois, Carneiro opta por uma história realista até a medula, sobre como uma facção criminosa se entranhou na sociedade, com ramificações em todas as classes sociais. "A Regra do Jogo" é uma novela de raiz policial, que reflete, ao menos até o momento, um grande desencanto do autor com a situação da sua cidade, o Rio de Janeiro, e, em última instância, do país.
Desculpe a sociologia de botequim, mas não consigo deixar de pensar na guinada de humor que o novo folhetim reflete. A visão proposta em "A Regra do Jogo" vai ao encontro, novamente, do que os espectadores de diferentes classes sociais estão sentindo em relação ao país.
Como disse Carneiro em uma entrevista à "Folha'' antes da estreia: "Me fascina o caráter das pessoas. Até que ponto elas podem ir, se redimir. (O dramaturgo Bertolt) Brecht falava que quem tem fome não pode ter moral. Nós brasileiros somos coluna do meio muitas vezes, perdoamos muito.''
Outro mérito do autor é construir uma história intrigante, com um protagonista ambíguo e aparentemente amoral. Com sua ONG em defesa de pessoas presas injustamente, que serve de fachada para acobertar graves crimes, Romero Rômulo (Alexandre Nero) tem tudo para entrar na galeria de grandes personagens das novelas brasileiras.
Diferentemente de "Avenida Brasil", muito mais fácil e digerível, "A Regra do Jogo" tem se mostrado, até agora, uma novela que exige atenção e reflexão do espectador. É sempre uma aposta de risco propor ao público uma história adulta, com temas pesados, em um momento difícil
(com informações do site UOL)