Não é qualquer um que pode pedir a Roberto Justus que ele mesmo fale de sua relação com a escova e os cuidados capilares. Dono de fios alinhadíssimos, o publicitário e apresentador não se acanhou em comentar o quanto faz gosto no próprio penteado, durante a gravação de um dos 32 novos episódios do Tudo Pela Audiência. O título que Fábio Porchat e Tatá Werneck tentam honrar ao máximo já tem uma 2.ª temporada gravada, mas estreia só em março, no mesmo Multishow que este ano investiu em 22 episódios, com grata surpresa: o programa foi capaz de levar para a frente da TV o público de faixa etária que hoje menos vê TV, entre 12 e 24 anos.
Justus é recebido com confetes. Desafiado a cantar, a princípio resiste, argumentando que isso não foi combinado. Embora o programa tenha lá seu roteiro, a liberdade para fugir do script é total, e quando o convidado menos espera, já está disputando um microfone com uma senhorinha da plateia, aparentemente figurante, em uma espécie de Qual é a Música. A produção capricha nos hits de Frank Sinatra e lá vai Justus, que há pouco dizia que não ia cantar, correndo para exibir seus dotes como tal.
O apresentador da Record logo é convidado a desempenhar seu papel mais famoso, o do chefe que decreta demissões sem piedade, diante das câmeras. As vítimas são as "porchetes", bonitonas que dançam em trajes mínimos, anões, travesti e marombados, figuras habitués dos auditórios tradicionais da TV. Todos levam a proposta a sério e a perda de um emprego, ao final, é cercada de tensão e choradeira - todos estavam crentes de que a demissão era para valer.
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Agora ciente do efeito que a plateia traz ao programa, a dupla usa e abusa das chacotas com o público presente, que se entrega às mais improváveis bizarrices. "A plateia está muito mais disposta", conta-nos Porchat, colunista do Estado, no camarim. "A gente grita: ‘quem quer participar?’, e todo mundo, ‘eeeeeuuuuu!’; ‘quem quer beijar?’, ‘eeeuuuuu!’; ‘quem quer baixar a calça?’ Não tem erro", diverte-se o humorista.
A nova temporada conta com participações de Zezé Di Camargo e Luciano, Luciana Gimenez, Otávio Mesquita, Carlos Alberto de Nóbrega, Luiz Bacci, Rafinha Bastos, Alexandre Frota e Caio Castro, entre outros. Nóbrega é homenageado pela Praça é Nossa. "Rafinha toma torta na cara do anão", conta Tatá, e Castro é convidado pela dupla a fazer uma série de teatro, arte que ele não aprecia, segundo entrevista dada a Marília Gabriela no ano passado. "A gente diz: ‘teatro é legal, vamos fazer’. Só que a peça é horrível e a gente então fala: ‘ah, teatro é chato mesmo, vamos acabar com isso’", completa Porchat.
Com Frota, contam, a conversa beirou detalhes que nenhum dos dois ousa antecipar. "Ele disse coisas do Collor (Fernando), que você nem queira saber". E pode tudo, nesse programa? "A gente não tem limites, mas o Multishow sabe até onde a coisa pode ir e isso fica a critério do canal", admite.
A graça que se permite a quase tudo, no entanto, tem um princípio: o deboche ocorre na primeira pessoa do plural. Tatá e Fábio conjugam o verbo a partir do "nós", e não de quem aponta o dedo aos convidados. "A gente sempre tentou fugir disso: ‘olha como eu sou superior’, rindo da cara dele. A gente se sacaneia muito, e todas as provas que a gente submete a nossa entourage, por exemplo, a gente também faz. É meio uma homenagem, junto com paródia e crítica", fala. Tatá completa: "A gente zoa na mesma medida em que se zoa e que a gente zoa a plateia. Não estamos ali numa redoma".
Se há uma lente de aumento sobre os auditórios atuais da TV? Sempre há. Mas quando digo que o figurino das dançarinas do Tudo Pela Audiência remete mais ao passado de Faustão e Gugu do que a auditórios atuais, a dupla logo cita Pânico e Legendários como modelos de inspiração. "Não tem como a gente vencer. Eles são programas de humor muito melhores que o nosso", conclui Porchat. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.