Um assalto a uma agência bancária no Hospital Universitário (HU) de Londrina, há cerca de um mês, motivou a direção da instituição a promover modificações na atuação de grupos religiosos na unidade. A atitude foi tomada porque os criminosos entraram no hospital após se identificarem como membros de pastorais. Agora, apenas pessoas previamente cadastradas e portando documentos de identificação poderão entrar para oferecer conforto espiritual aos pacientes.
Além disso, o horário de visitação agora está restrito ao período das 10 às 14 horas. A direção alega ainda que o combate à proliferação de bactérias, sobretudo multirresistentes, contribuiu para a mudança.
Se por um lado a medida "dificulta" a atuação dos grupos, por outro, fortalece e faz ressurgir a Comissão de Capelania da instituição, formada por funcionários. Segundo um dos integrantes, Paulo Roberto da Rocha, até então o trabalho era realizado por iniciativa voluntária e pontual de funcionários. "Com o grupo formado, vamos retomar, de forma organizada, uma série de atividades, como divulgação e formação dos agentes religiosos. É preciso haver um comportamento específico dentro de uma unidade hospitalar, como (respeitar o) acesso a determinados locais, abordagem ao doente e familiares, bem como correta higienização, muito importante para a contenção de bactérias. Temos que ter o controle de tudo isso", explica.
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O trabalho da Comissão de Capelania pôde ser acompanhado pela reportagem. As missas e cultos evangélicos promovidos semanalmente na capela do hospital são concorridos. Nessas ocasiões, a celebração fica por conta de um padre ou pastor da comunidade. Ao meio-dia, pontualmente, começa a cerimônia, que conta com a participação de funcionários, familiares e internados que podem locomover-se. "Vir aqui me traz apoio espiritual e tranquilidade para lidar com o dia a dia. Trabalho no pronto-socorro diretamente com as pessoas que chegam doentes das mais diversas formas; preciso estar em equilíbrio para poder ajudá-las", diz o auxiliar de enfermagem Roberto Mauro de Oliveira.
E é exatamente conforto espiritual que buscava a paciente Renata Duarte, de 21 anos, internada há uma semana. "Faço cirurgia em breve. A paz espiritual me fortalece para continuar otimista."
E se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé. Os doentes impossibilitados de ir à capela não são esquecidos. Os grupos religiosos vão de maca em maca oferecendo uma palavra de conforto. No caso dos católicos, os doentes podem comungar e ouvir leitura de passagens bíblicas.
Entre os pacientes estava Amós Bradbury, de 78 anos. Visivelmente emocionado, ele disse que o apoio é fundamental para que os doentes consigam restabelecer-se. "Estamos aqui debilitados e frágeis. Esse trabalho é importante para que a gente consiga ver o lado bom das coisas e ter fé de que vamos melhorar", comenta ele, que acabara de fazer uma cirurgia de próstata.
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