Unindo religião e ciência, a Casa de Apoio Madre Maria Gertrudes passa a abrigar, a partir desta terça-feira (10), o primeiro consultório no Brasil do PSF (Psicólogos Sem Fronteiras) para atendimentos psicológicos à comunidade do bairro União da Vitória, na zona sul de Londrina.
O espaço, que é alugado e mantido pela comunidade católica, terá uma psicóloga voluntária, que atenderá de segunda a sexta-feira, de maneira presencial, no período da tarde.
Uma cerimônia de inauguração foi feita na tarde desta terça com a presença de diversas autoridades religiosas. Entre elas, o Monsenhor Bernard Gafá, que já esteve à frente da Catedral Metropolitana de Londrina e hoje atua na Paróquia Imaculada Conceição. Ele ressaltou a importância dos atendimentos.
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"Os psicólogos aqui fazem uma obra de Deus. Tudo que ajuda a pessoa humana a ser melhor, é bom. É uma obra muito importante, principalmente por atender pessoas de graça. Vai ajudar a curar traumas, dificuldades e orientar para uma vida melhor", discursou.
A porta-voz e assessora de comunicação do PSF, Gabriela Pifer, também esteve presente e ressaltou que o projeto é uma vitória para os moradores locais, principalmente por levar à população um trabalho sério, importante e gratuito.
"Existem muitas situações de vulnerabilidade quando se trata de saúde mental. Nosso objetivo é proporcionar a democratização do acesso. Hoje, a gente inaugura esse primeiro espaço aqui em Londrina, mas é um movimento que já vem acontecendo pelo Brasil. Atingimos cerca de 7 mil atendimentos", explicou.
Ela também ressaltou que novas parcerias já estão sendo feitas para expandir o PSF para outros municípios. Londrina foi escolhida como a primeira cidade do país a ter uma cliníca permanente do projeto por influência do líder Roderlei Nagib Goes.
"O nosso cordenador é de Londrina, mas reside em Brasília. É um psicólogo docente. E foi isso que influenciou a trazer o projeto para o União da Vitóra, porque já conhecíamos o trabalho da casa, que é sério e respeitoso. E por ser um bairro grande, a escolha foi estratégica para atender mais pessoas."
São esperados cerca de 20 atendimentos por semana, mas a expectativa é que esse número seja ampliado logo, já que a fila de espera já tem 35 pessoas. "Estamos aceitando novos voluntários. A ideia é ampliar esse movimento. Hoje contamos com apoiadores, mas o voluntariado é que faz o projeto acontecer", salientou.
O Psicólogos Sem Fronteiras conta com o apoio de cinco empresas para se manter ativo e não recebe apoio de órgãos públicos. A profissional responsável por acolher os moradores será Rosa Alves de Lima, psicóloga que tem ligação íntima com o bairro e com as necessidades locais.
"Eu fui agente comunitária de saúde na UBS [Unidade Básica de Saúde] do bairro por alguns anos, então eu conheço bastante as necessidades da comunidade e também moro aqui. Foi um processo de ir às casas e ver as necessidades, que não eram só médicas. Muitas pessoas queriam conversar e pôr as dores para fora, e isso me desencadeou o desejo de ser psicóloga", contou.
Como agente de saúde, ela percebeu que a região apresentava casos constantes de depressão, uso abusivo de drogas psicoativas, relacionamentos abusivos e tóxicos, ansiedade e síndrome do pânico. Lima afirmou que o projeto é uma quebra de tabu que engrandecerá o debate social sobre a saúde mental.
"Muita gente acha que psicólogo é para louco, ou é muito caro, que depressão é frescura, falta de trabalho, falta de ir à igreja, mas não é. São problemas graves. Esse projeto é para pessoas que não tem acesso à saúde mental, para que eles percam esse medo de ir ao psicólogo."
Trabalho prévio
Antes do PSF se instalar no local, irmãs salesianas vindas da Índia já desenvolviam trabalhos relacionados na Casa de Apoio Madre Maria Gertrudes, aberta em 2006. A irmã Pushpa Mary é uma das atuantes mais engajadas no projeto social.
"Desde 2001, eu já trabalhava visitando famílias que tinham problemas com drogas, achando maneiras de ajudá-las."
A religiosa é formada em Assistência Social na Índia, mas, ao chegar ao Brasil, formou-se também na UEL (Universidade Estadual de Londrina) em Serviço Social. Ela ainda é pós-graduada em Aconselhamento Psiquiátrico e tinha projetos sobre saúde mental em seu país de origem.
Ela contou que já atendeu cerca de 1.500 pessoas ao longo de sua jornada profissional. A sua especialidade são técnicas alternativas, como auriculoterapia e florais, mas sempre instigou a participação de psicólogos, convidando-os para formarem uma espécie de terapia integrativa.
"A Rosa [psicóloga do PSF] já trabalhava aqui antes como voluntária. Diversas pessoas que vieram aqui foram curadas. Uma mulher, por exemplo, chegou com depressão e hoje trabalha conosco como voluntária", iniciou.
"Seguimos trabalhando. Agora, falta só um médico psiquiatra. Queremos ter um, pelo menos, em telemedicina para encaminhar pessoas para esse atendimento", concluiu Pushpa, ressaltando ainda que atende, em média, seis pessoas por dia.
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