No dia 11 de julho de 2012, durante audiência pública na Câmara dos Deputados, a campanha "Não à Medicalização da Vida" foi aprovada. Com a intenção de debate sobre o tema da medicalização da educação nas escolas, que se tornou um problema de saúde pública e coletiva, no Brasil e no mundo, a discussão teve que ser iniciada dado a incidência de crianças, adolescentes e jovens sendo excessivamente medicalizados para aumentar o rendimento escolar e para se adequar aos padrões exigidos pela sociedade atual.
Hoje, por exemplo, a indústria farmacêutica é a segunda em faturamento no mundo, perdendo apenas para a indústria bélica. No Brasil, a substância dada para crianças e adolescentes com a pretensão de diminuir o chamado "déficit de atenção" subiu de 70.000 caixas vendidas em 2000 para dois milhões de caixas em 2010 (dados do IDUM – Instituto de Defesa de Usuários de Medicamentos, em pesquisa de 2010), transformando o Brasil no segundo maior consumidor dessa droga no mundo, perdendo somente para os Estados Unidos.
Ciente dessas pesquisas, Maria Teresa Guimarães Pinto Peixoto, psicoterapeuta, comenta que "a criança é, naturalmente, dispersa. Ou melhor, a criança os quatro anos de idade, apresenta um tempo de concentração e atenção bastante reduzido, o que é natural. O seu foco de interesse é imediato, ela está ligada ao prazer do aqui e agora. São muitas coisas novas interessantes para ver, ouvir, pegar, etc., o que é bastante saudável". Maria Peixoto ressalta que a medida que a criança vai crescendo, ela passa a ter uma mudança gradativa no seu tempo de atenção e concentração, e isso acontece naturalmente.
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A especialista alerta para, antes de começar a dar qualquer medicação desse tipo para alguma criança, é preciso observar a situação com bom senso. Se a dúvida continuar angustiando os pais, eles devem buscar um segundo profissional que conheça o assunto e possa fornecer, adequadamente, respostas e uma possível ajuda para encontrarem a solução para o bem estar comum.
A psicoterapeuta comenta que o que tem visto ao longo da sua experiência profissional, é que o ser humano tem uma necessidade generalizada de nomear, diagnosticar, rotular, acreditando que isto poderá trazer para si certezas que ele poderá controlar. Maria Teresa explica que é a favor de um diagnóstico baseado no conhecimento, mas que ele precisa ser acompanhado de "bom senso".
"É preciso que se olhe para uma criança, primeiramente, enquanto criança, com todas as suas características peculiares e, que a princípio, são saudáveis. Cada indivíduo é um ser único e que deve ser aceito e respeitado nas suas diferenças. Portanto, um olhar mais cuidadoso deve ser o ponto de partida para se chegar a qualquer diagnóstico que indique alguma patologia", conclui.