Alimentação saudável e prática de atividades físicas são essenciais para a prevenção de vários tipos de câncer – especialmente os de próstata, mama e cólon e reto (conhecido como câncer de intestino). Esta é a mais importante mensagem do Instituto Nacional de Câncer José de Alencar Gomes da Silva (INCA), órgão vinculado ao Ministério da Saúde, para a campanha "Nós podemos. Eu posso", lançada nesta quinta (04), no Rio de Janeiro (RJ) para marcar o Dia Mundial do Câncer.
"O Dia Mundial do Câncer é uma oportunidade de o Ministério da Saúde e a sociedade brasileira estimularem hábitos de vida saudáveis e uma alimentação saudável. O tema destacado pelo Inca é extremamente importante, pois lança luzes sobre um fator de risco para câncer ainda pouco conhecido da população, que é a obesidade", enfatizou no evento o Secretário de Atenção à Saúde do ministério, Alberto Beltrame, que também assinou o texto preliminar das Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo do Útero. O documento ficará em consulta pública por 30 dias a partir da publicação no Diário Oficial da União.
A campanha "Nós podemos. Eu posso" é promovida mundialmente pela União Internacional para o Controle do Câncer (UICC), que congrega mais de 800 organizações em 155 países, os quais também adotarão o lema "We can. I can". O objetivo é estimular a população de todo o planeta a adotar, individualmente ou em grupo, hábitos de vida saudáveis, como não fumar, reduzir o consumo de bebida alcóolica e evitar exposição aos raios ultra-violetas, além de comer de modo saudável e se exercitar.
Leia mais:
Projeto de Londrina que oferece música como terapia para Alzheimer é selecionado em edital nacional
Unindo religião e ciência, casa católica passa a abrigar consultório psicológico gratuito na zona sul
'Secar' o corpo até o verão é possível, mas exige disciplina e acompanhamento
Ministério da Saúde inclui transtornos ligados ao trabalho na lista de notificação compulsória
Segundo estimativas do Inca, cerca de 15 mil novos casos de câncer no Brasil em 2016 deverão ser atribuídos ao excesso de peso e à obesidade, que aumentaram de forma alarmante nas últimas décadas. De acordo com o órgão, os três tipos de câncer responsáveis pela maior parte dos novos casos da doença em 2016 (excluindo o de pele não melanoma) são fortemente relacionados ao excesso de peso e à obesidade: próstata, mama e cólon e reto.
Mudanças no padrão de alimentação tradicional do brasileiro e o elevado índice de sedentarismo, entre outros fatores, criaram condições para a deflagração de uma verdadeira epidemia de obesidade no país, seguindo tendência verificada em países desenvolvidos.
"O brasileiro está trocando o tradicional feijão com arroz e os alimentos frescos por produtos industrializados de toda sorte, fast food, bebidas açucaradas, biscoitos. Esse processo aconteceu ao longo das últimas décadas e já provoca impactos diretos na incidência de câncer", afirma Luis Fernando Bouzas, diretor-geral do Inca.
Bouzas enfatiza que a mobilização para o controle da obesidade deve ser ampla e contar com o apoio de entidades médicas, como a Sociedade Brasileira de Cardiologia, a Sociedade Brasileira de Pediatria, a Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica, a Sociedade Brasileira de Nutrição Oncológica e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, entre outras. Ele informou, em sua fala no evento, que o Inca recebeu da International Agency for Research on Cancer um documento oficial considerando o instituto exemplar em ações de conscientização para o controle da obesidade.
ESTIMATIVAS PARA 2016 - O Inca estima que haverá no Brasil este ano 61.200 novos casos de câncer de próstata, que é o tipo mais comum entre os homens, e 57.960 novos casos de câncer de mama, o mais incidente entre as mulheres. Colón e reto será o terceiro mais incidente, com 34.280 novos casos (16.660 em homens e 17.620 em mulheres).
Além desses três tipos principais, há evidências da relação entre o excesso de peso/obesidade com os seguintes cânceres: esôfago, pâncreas, endométrio (corpo do útero), ovário, rim e vesícula biliar.
Endométrio e ovário apresentam posição relevante em determinadas regiões do país. Entre as mulheres, em 2016, o câncer de endométrio será o quinto mais incidente na Região Sudeste (4.180 novos casos), enquanto o câncer de ovário será o quinto mais incidente (530 novos casos) na Região Centro-Oeste.
AVANÇO DA OBESIDADE - As pesquisas sobre a saúde dos brasileiros indicam com clareza o avanço da obesidade nas últimas décadas. Enquanto na década de 70 cerca de 24% da população adulta apresentavam excesso de peso e 6% obesidade (Estudo Nacional de Despesa Familiar - Endef 1974-1975), na primeira década de 2000 em torno de 41% da população com mais de 20 anos apresentavam excesso de peso e 11% obesidade (POF, 2003).
Dez anos depois, a Pesquisa Nacional de Saúde – PNS de 2013 revelou que esses valores saltaram para 56,9% de excesso de peso e 20,8% de obesidade, o que significa que 82 milhões de brasileiros com mais de 18 anos estão acima do peso adequado.
O processo de mudança do padrão alimentar da nossa população é preocupante, afirma o INCA. A quantidade média per capita comprada de arroz polido e feijão caiu 40,5% e 26,4%, respectivamente, no período de 2003-2009 (Pesquisa de Orçamento Familiar 2002-2003; 2008-2009). Por outro lado, a compra de alimentos ultraprocessados - ou seja, caracterizados por densidade energética elevada e alto teor de gordura, açúcar e sódio -, passou de 20% entre 2002-2003 para aproximadamente 28% entre 2008-2009 (POF 2008-2009).
Em 2013, cerca de 22% da população consumiam doces e bebidas açucaradas em cinco ou mais dias da semana (Pesquisa Nacional de Saúde - PNS, 2013) e 63% dos brasileiros não consumiam a quantidade recomendada de frutas e hortaliças (pelo menos 400 gramas por dia). Para completar o quadro, 46% dos brasileiros eram, em 2013, insuficientemente ativos, ou seja, não praticavam atividade física regularmente.