Cientistas do prestigiado Instituto Karolinska, da Suécia, decidiram propor a criação de um "imposto do açúcar" no país, a fim de reduzir o índice de consumo de balas e doces pela população – que seria, segundo eles, o mais alto do mundo.
"Já é hora de a Suécia debater um imposto do açúcar, e usar o dinheiro arrecadado para reduzir os preços de frutas e verduras", dizem os pesquisadores, em artigo publicado nesta semana no jornal sueco Dagens Nyheter.
O texto afirma que os suecos são os maiores consumidores globais de balas, doces e chocolates. O total seria de quase 17 quilos por pessoa ao ano. Também a cada ano, os suecos consomem em média 90 litros de refrigerantes e outras bebidas à base de açúcar.
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Em entrevista à BBC Brasil, o cientista Lennart Levi, um dos autores do artigo e também deputado do Parlamento sueco, afirmou que levará a proposta de criação do imposto do açúcar ao governo sueco. Segundo ele, o objetivo central é alertar as pessoas sobre as consequências graves do alto consumo de açúcar:
"As pessoas gostam de coisas doces, mas é impressionante a ignorância generalizada de que o consumo elevado de balas, doces, refrigerantes e bebidas à base de açúcar representam uma exposição desnecessária ao risco de morte prematura como resultado de diabetes, câncer e ataques cardíacos", ressaltou Levi, Professor Emérito do Instituto Karolinska.
'Proposta realista'
Segundo ele, não se trata de proibir, e sim reduzir o consumo de açúcar. De acordo com os cientistas, o exemplo do tabaco e do fumo é prova do êxito da iniciativa de aplicar mecanismos de preço e impostos para reduzir o consumo.
Na Suécia, a introdução de altas taxas sobre os cigarros fez o país conquistar um dos mais baixos índices de fumantes do mundo, em torno de 12% da população.
"O governo tem vários instrumentos à sua disposição para alterar padrões indesejáveis de consumo: informação, impostos e subvenções, leis e normas, apoio direto, pesquisa científica e educação. No trabalho contra o consumo de cigarros e álcool, o governo usou todos estes instrumentos. O mesmo deve ser feito contra a obesidade e seus riscos", diz o artigo, observando que os preços de balas e refrigerantes não aumentaram tanto quanto os de frutas e verduras entre 1985 e 2008.
Para Lennart Levi, a proposta do imposto sobre o açúcar é "realista".
"Não é nada muito dramático. Basta introduzir um elevado imposto sobre balas, doces, refrigerantes e outras bebidas à base de açúcar", disse ele.
No artigo do jornal Dagens Nyheter, os autores indicam que Noruega, Dinamarca e Islândia já introduziram algum tipo de imposto sobre refrigerantes e determinados alimentos de alto teor de açúcar, e que a Finlândia planeja fazer o mesmo ainda este ano.
Na Suécia, de acordo com os autores do artigo, a população consome o dobro da média europeia de balas e doces.
Segundo estatísticas do Instituto Nacional de Saúde Pública da Suécia (Folkhälsöinstitutet), mais de dez por cento da população adulta do país é classificada como obesa. Entre as crianças, o índice é de três a cinco por cento - o dobro dos números registrados em 1990.
O artigo observa ainda que, de acordo com a Agência Nacional de Alimentos (Livsmedelsverket), quase 25 por cento da energia consumida por crianças de até 15 anos de idade provém de alimentos ricos em gordura e açúcar e de baixo teor de nutrição.
"É claro que praticar exercícios é importante, mas na realidade a questão é reduzir o consumo deste tipo de alimentos", observa o artigo.
Além de Lennart Levi, o artigo é assinado pelos cientistas Claude Marcus e Stephan Rössner. O artigo teve ainda a contribuição de André Persson e Thomas Hedlund, autores do popular livro Godis år folket ("Balas para o povo", em tradução livre).