Comfort food, ou comida afetiva, é um termo utilizado para definir um tipo de alimento que desperta reações emocionais nas pessoas, como uma lembrança do passado ou sensação de conforto imediato. A psicóloga do Grupo São Cristóvão Saúde, Aline Melo, explica que isso ocorre porque a mente humana relaciona alguns ingredientes, devido aos seus sabores e aromas, a situações e experiências de vida.
Dessa forma, a busca por determinados alimentos pode não estar apenas atrelada à questão nutricional. Segundo a psicóloga, devido a esse "poder" da comida afetiva, as pessoas podem recorrer a essa fonte de prazer quando se sentem estressadas, desmotivadas ou deprimidas. "É nesse ponto que a relação com a comida afetiva pode deixar de ser saudável", alerta.
Alimentos considerados comfort food
Leia mais:
Projeto de Londrina que oferece música como terapia para Alzheimer é selecionado em edital nacional
Unindo religião e ciência, casa católica passa a abrigar consultório psicológico gratuito na zona sul
'Secar' o corpo até o verão é possível, mas exige disciplina e acompanhamento
Ministério da Saúde inclui transtornos ligados ao trabalho na lista de notificação compulsória
Segundo a psicóloga, podemos classificar como comfort food alimentos de quatro categorias distintas:
- Nostalgia
Grupo de alimentos que são buscados por remeterem a um período vivenciado no passado, pode ser de uma região específica onde o indivíduo vivia quando criança ou, por exemplo, a refeição preferida feita pela mãe. "Ao ativar nossos sentidos, esse tipo de comida nos reconecta com o passado", explica a psicóloga do São Cristóvão.
- Indulgência
Quando a pessoa busca por um alimento específico, geralmente rico em gorduras, como uma forma de recompensar uma situação negativa, por exemplo, problemas no trabalho, uma briga no casamento etc.
- Conveniência
Neste grupo estão os alimentos que podem ser consumidos de forma mais prática e acessível, como os industrializados de preparo instantâneo e os fast foods. "A intenção aqui é obter a satisfação e o prazer de forma rápida e simples, o que pode ser bastante prejudicial para a saúde em médio e longo prazo", comenta a nutricionista do Grupo São Cristóvão Saúde, Ana Paula Gonçalves.
- Conforto físico
Alimentos que geram sensações boas devido a ação química comprovada no cérebro. Podem ser alimentos ricos em açúcar, café, bebidas alcoólicas entre outros.
Quando o comfort food pode ser prejudicial
Aline Melo ressalta que, quando a pessoa recorre à comida em busca dessa sensação de prazer instantânea, o ato de comer passa a significar algo que vai além do fornecimento de nutrientes para o funcionamento do corpo. "Nesse caso, o ato de comer se torna uma maneira de depositar e compensar sentimentos e emoções, como a ansiedade, o que pode gerar um hábito nocivo ao organismo", comenta.
A busca frequente por essa sensação que o comfort food provoca pode levar a uma compulsão alimentar, que ocorre quando a pessoa ingere altas quantidades de comida em um pequeno intervalo de tempo. "Quanto mais o ‘comer emocional’ estiver presente na alimentação, maiores as chances de isso afetar negativamente sua saúde física e mental", diz a psicóloga.
Além disso, conforme explica a nutricionista, é muito comum fazer essa associação afetiva a comidas gordurosas, como uma pizza ou lasanha. "É importante ter consciência sobre o consumo desses alimentos, que geralmente possuem teor mais elevado de carboidratos e calorias", lembra.
Um exemplo disso são os fast foods, que também são alvos nesses momentos por proporcionarem satisfação imediata. "Muitas pessoas justificam o fast food como um ‘presente’ em meio a um dia desgastante, por exemplo, e essa atitude quando se torna frequente pode ser prejudicial, uma vez que lanches rápidos são mais calóricos e possuem baixo valor nutricional", reforça a nutricionista.
A especialista alega que alimentos reconfortantes, em geral, são ricos em gordura saturada, que fazem com que o cérebro demore mais tempo para perceber o grau de saciedade, e nutrientes que agem como estimulantes na produção de hormônios ligados à sensação de prazer. "Normalmente, esses alimentos são consumidos sem maiores reflexões e assumem a característica de apenas proporcionar o prazer imediato", completa a psicóloga.
Como ficar somente com o "lado bom" do comfort food
A maioria das comidas afetivas nos remetem à infância, refeições em família com receitas caseiras. Assim, a nutricionista aproveita esse aspecto para recomendar o uso de ingredientes naturais e menos calóricos que têm grande poder de instigar os sentidos humanos, como:
alecrim
tomilho
manjericão
cúrcuma
salsinha
alho
molho de tomate caseiro
adoçantes naturais (stevia ou xilitol)
massas integrais
Ingredientes como estes possuem aromas e sabores característicos que aguçam os sentidos e podem ser associados a refeições mais saudáveis, com menos condimentos e ingredientes industrializados, conforme explica Gonçalves.
"O prazer de se sentir bem não deve ter como única e exclusiva fonte uma refeição", afirma a nutricionista, que recomenda incluir outras atividades na rotina diária para evitar o consumo excessivo de comida afetiva. Entretanto, mudar esse comportamento é um "processo muito importante e complexo, que exige um comprometimento do paciente em se conhecer e entender suas tensões emocionais, podendo contar com apoio profissional nessa jornada", finaliza a psicóloga.