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Após redução na pandemia, transplantes voltam a crescer

Ana Bottallo - Folhapress
09 nov 2020 às 11:31
- iStock
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As cirurgias de transplantes de órgãos e tecidos voltaram a crescer no Brasil nos meses de agosto e setembro após uma queda de quase 40% nos meses anteriores devido à pandemia.


Os dados da ABTO (Associação Brasileira de Transplantes e Órgãos) apontam um crescimento de 11% em agosto e setembro, o que pode fazer com que o número absoluto de transplantes em 2020 seja cerca de 30% menor do que o realizado em 2019.

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Atualmente, há 41.026 pessoas na fila de espera para transplantes de órgãos sólidos (rins, fígado, coração, pulmão e pâncreas) e tecidos (córnea) no país.

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Até 31 de julho, segundo o Ministério da Saúde, havia 46.181 pacientes na fila. Para comparação, em setembro de 2019 havia 37.212 pessoas.
A queda acentuada, verificada entre os meses de abril a junho, foi decorrente da pandemia de Covid-19. A situação não só gerou um menor número de doadores como também fez com que as pessoas que estão na fila de espera tivessem medo de se infectarem durante as cirurgias.

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Para José Huygens Garcia, presidente da ABTO, o crescimento nos meses de agosto e setembro é resultado de uma campanha de conscientização da entidade junto ao Ministério da Saúde e das Cihdotts (comissões intra-hospitalares de doação de órgãos e tecidos para transplantes) para estimular o retorno às doações e cirurgias.


A redução não foi linear em todo o país, segundo ele, e acompanhou o processo de reprodução e contágio do coronavírus no país. "Nos primeiros meses, a região mais impactada foi a Nordeste, com uma redução de 74% nos transplantes. Já na região Sul, os casos de Covid-19 começaram a crescer em julho e agosto, e por isso lá a queda foi de aproximadamente 5%."

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São Paulo e Rio de Janeiro, embora tenham tido número elevado de casos de Covid-19, tiveram uma redução de 10% a 15% nos transplantes.
O cadastro de pacientes ativos em lista de espera no país é centralizado no Ministério da Saúde, mas cada estado possui sua central estadual. Assim que há disponibilidade de um órgão, confirmada pelo diagnóstico de morte encefálica de um potencial doador e com o aceite da família, o receptor é escolhido seguindo critérios rigorosos de acordo com cada caso.


A queda nos transplantes afetou também a meta de 20 doadores por milhão de população (PMP) até o final de 2020. Nos três primeiros meses do ano, a taxa estava em 18,4, a mais alta dos últimos oito anos. Entre os meses de março a junho, porém, essa taxa caiu para 15,8.

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A taxa de doadores PMP difere entre os estados. Santa Catarina e Paraná têm as taxas mais altas (mais de 40 doadores PMP), comparáveis às de países europeus como Espanha (49,6). Em 2019, São Paulo (22,7) e Ceará (23,7) também apresentavam taxas acima da média nacional.


Em SP, a retomada já pode ser observada em números absolutos. Em agosto de 2019 foram realizados 208 transplantes no estado, número idêntico ao do mês de agosto deste ano, mesmo com a pandemia. Já em setembro de 2020 foram realizados 251 transplantes, um aumento de 13% em relação ao mesmo mês do ano anterior (222). Em outubro foram feitas 221 cirurgias, alta de 7,8% em relação a outubro de 2019 (205).

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José Eduardo Afonso Júnior, coordenador do programa de transplantes do Hospital Israelita Albert Einstein, diz que a ocupação de leitos para a Covid-19 e o fato de os pacientes transplantados serem imunossuprimidos, nos quais uma eventual infecção por Sars-CoV-2 poderia levar a um quadro até morte, são os principais motivos para a queda no início da pandemia


Mas mesmo esses fatores foram desiguais no país. "Em São Paulo, que foi o estado mais afetado pela pandemia, estão também centros de referência para transplantes, com recursos para isolar os transplantados de uma eventual infecção. Então a queda aqui não foi tão acentuada. Por outro lado, estados como Ceará e Bahia simplesmente pararam [os transplantes] e isso é preocupante."

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Os dados da ABTO apontam que o transplante de pulmão foi o mais impactado pela pandemia, com redução de 63,2% das cirurgias entre janeiro e setembro deste ano em relação ao ano anterior. Os outros órgãos que tiveram maior impacto foram rim (-26,6%), coração (-24%) e fígado (-10,9%).


Para Afonso Júnior, essa redução seria menor se quatro novos centros de transplantes no país –de pulmão no Rio de Janeiro, de fígado no Pará, e de rim em Sergipe e Mato Grosso do Sul– tivessem sido concluídos neste ano. "O projeto, que tem apoio do Ministério da Saúde, está na etapa final de treinamento dos profissionais no centro do Einstein, mas, por causa da pandemia, foi adiado para 2021."

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A abertura de novos centros nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste ajuda a descentralizar os procedimentos, concentrados principalmente nas regiões Sul e Sudeste, e visa também economia de recursos para o Sistema Único de Saúde (SUS), uma vez que os pacientes na fila de espera muitas vezes têm de se deslocar para outros estados para receber os órgãos.


Foi o caso do empresário Rogério Fasano, dono do grupo de hotelaria e restaurantes Fasano, que viajou ao Rio de Janeiro para realizar um transplante de fígado, no mês passado, após descobrir uma doença hepática.


Gero, como é conhecido, publicou nas redes sociais do grupo Fasano uma mensagem em que fazia um apelo às pessoas: doem órgãos.
"Além da destreza e da genialidade dos cirurgiões, é você a grande estrela. Só você pode semear esta segunda vida a teu semelhante e evitar que uma pessoa fique cega, por falta de córnea, por exemplo. Volto a dizer, passar por esta lista é das experiências mais desafiantes deste mundo."


Para Garcia, conscientizar a população é ainda a principal ferramenta para que a taxa de doadores no país aumente. "Infelizmente, o país uma taxa de negação muito alta, de quase 40%. Nosso papel é também orientar a família, dizer que a pessoa não morreu em vão."

"O Brasil é um país heterogêneo em todos os aspectos: sociais, econômicos, de recursos hospitalares. Mesmo assim acho um orgulho nacional termos o maior sistema público de transplantes do mundo. Infelizmente, a taxa de mortalidade na fila de espera ainda é alta, mas estamos caminhando para melhorar isso, e uma das formas é treinar mais equipes médicas tanto para os transplantes quanto para diagnosticar a morte encefálica e orientar os familiares da importância da doação de órgãos", diz Afonso Júnior.


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