Quatro horas por dia, três dias por semana, 52 semanas por ano. Esse é o tempo levado por Márcio Mariano, 50, em uma máquina de hemodiálise nos últimos oito anos. Um tratamento rotineiro, mas que tem garantido sobrevida a mais de 120 mil pessoas no Brasil, segundo dados de 2016 da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) o ramo da medicina dedicada ao diagnóstico e tratamento das doenças do sistema urinário, principalmente relacionadas ao rim.
Mariano tem insuficiência renal crônica, um dos problemas que afetam o rim e que tornam ele um dependente da hemodiálise, "rins" artificiais que fazem o papel do órgão na filtragem do sangue. Aposentado por invalidez, Mariano lamenta o fato de não poder mais praticar esportes e trabalhar. "Eu não me sinto inválido, mas tive que me aposentar por invalidez. Nenhum patrão no mundo vai querer que o funcionário saia para fazer o tratamento".
A hemodiálise é usada também para o tratamento de insuficiência renal aguda, quando os rins paralisam as atividades por conta de acidentes e problemas momentâneos, mas voltam a funcionar após um tempo. O procedimento de filtragem artificial deve ser feito em clínicas especializadas, três dias por semana, durante quatro horas. Nos primeiros seis anos, Mariano, que é de Rolândia, vinha até Londrina para fazer o tratamento, e, nos últimos três, descobriu um câncer no rim direito que culminou na retirada do órgão. Com apenas um rim afetado pela insuficiência, ele realiza o precedimento a fim de se manter vivo até que consiga um transplante do órgão. No Paraná, mais de 2 mil pessoas aguardam por um transplante; cerca de 1,1 mil esperam por rins; 300 delas na macrorregião de Londrina.
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O procedimento que durava de 12 a 13 horas, hoje dura de quatro a cinco.
Mariano lamenta alguns problemas que, segundo ele, são decorrentes do tratamento: inchaço, dores nas pernas, problemas de pressão, fraqueza e queda na atividade sexual. Apesar de ser fumante e reconhecer isso, ele acredita que a hemodiálise tenha encadeado os fatores paralelos. Entretanto, de acordo com o médico nefrologista Anuar Matni, os problemas ocasionados pelo tratamento podem surgir mas são contornados pelos médicos, e que o cuidado do paciente com a saúde em casa, como consumir alimentos com pouco sódio e não fumar, evitariam demais efeitos colaterais.
Anuar enfatiza como o tratamento por hemodiálise tem evoluído ao longo das décadas, desde os anos 1960, quando se tornou mais viável, e relembra que um procedimento que durava de 12 a 13 horas, hoje dura de quatro a cinco. "O objetivo seria transplantar todo mundo, mas tem uma certa limitação, como a da idade", explica. Crianças têm prioridade, pois quando se é mais velho há riscos na operação, e optar pela sobrevida por meio da hemodiálise é o melhor caminho.
Na hemodiálise a máquina recebe o sangue do paciente e depois é impulsionado por uma bomba até o filtro.
Procedimento alternativo
O médico Anuar Matni lembra que existem duas formas de se fazer a diálise (filtragem do sangue). Além da hemodiálise, é possível realizar o procedimento em casa por meio da diálise peritonial, com cateteres internos. Esse meio alternativo é tão eficaz quanto a hemodiálise e necessita da presença do paciente na clínica pelo menos uma vez no mês, evitando o desgaste das viagens constantes.
Para Matni, esse tratamento é uma boa opção para pacientes jovens, muito ativos profissionalmente, que podem levar a vida normalmente, ou para pacientes que não podem se locomover; e ressalta que, em muitos casos, a escolha só depende da pessoa a ser tratada e da família, que é instruída a realizar, periodicamente, o procedimento.
Os resultados dos tratamentos por diálise peritoneal e hemodiálise são iguais. A escolha depende das condições clínicas e do próprio paciente.
A vida sustentada pela máquina
A vida de mais de 120 mil brasileiros, atualmente sustentada pela máquina, já não é mais a mesma; entretanto, os avanços da medicina, aliados à tecnologia, tem dado, literalmente, vida para essas pessoas. E Márcio Mariano reconhece isso: "hoje em dia eu não vejo tanta dificuldade porque eu me habituei ao tratamento, mas a minha vida gira em torno disso; se você não faz, você morre".