Com os avanços da medicina ajudando mais pessoas a viver vidas mais longas, o número de pessoas com mais de 60 anos deverá duplicar até 2050 e exigirá uma mudança social radical, de acordo com novo relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para o Dia Internacional do Idoso (1 de Outubro).
"Hoje, a maioria das pessoas, mesmo em países mais pobres, vivem por mais tempo", diz a Dra. Margaret Chan, diretora-geral da OMS. "Mas isso não é suficiente. Precisamos assegurar que esses anos extras sejam saudáveis, significativos e dignos. Alcançar esse objetivo não será bom apenas para os mais velhos, será bom para a sociedade como um todo."
Vida longa não é necessariamente vida saudável
Ao contrário das suposições generalizadas, o relatório conclui que há poucas evidências de que os anos adicionais de vida são desfrutados com melhor saúde do que no caso das gerações anteriores na mesma idade. "Infelizmente, os 70 ainda não parecem ser os novos 60. Mas poderiam ser. E eles devem ser", diz o Dr. John Beard, diretor do Departamento de Envelhecimento e Curso de Vida da OMS.
Enquanto algumas pessoas mais velhas podem de fato estar passando por vidas mais longas e saudáveis, a probabilidade é de que elas tenham vindo de classes mais favorecidas da sociedade. "Pessoas de idade mais avançada, de meios desfavorecidos, em países mais pobres, com menos oportunidades e recursos para serem independentes quando mais velhos, também são suscetíveis a ter menos saúde e mais necessidade", explica o Dr. Beard.
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O relatório enfatiza que os governos têm de garantir políticas que permitem às pessoas mais velhas continuar participando da sociedade e que evitam as desigualdades que muitas vezes sustentam a pobreza de saúde em idade mais avançada.
Envelhecimento - uma oportunidade perdida para a sociedade
O relatório rejeita o estereótipo dos idosos como frágeis e dependentes afirmando as muitas contribuições deles que são esquecidas, enquanto as demandas do envelhecimento sobre a sociedade são frequentemente sobrevalorizadas ou exageradas.
O relatório enfatiza que enquanto algumas pessoas mais velhas exigirão cuidados e apoio, as populações idosas, em geral, são muito diversas e podem fazer várias contribuições para as famílias, comunidades e sociedade em geral. O estudo cita uma pesquisa que sugere que essas contribuições superam quaisquer investimentos que podem ser necessários para fornecer serviços de saúde, cuidados de longa duração e de segurança social necessárias para as populações mais velhas. Outra constatação é de que a política tem de mudar de uma ênfase no controle de custos, a um foco em permitir que as pessoas mais velhas façam o que importa a elas.
Isso será particularmente essencial às mulheres, que constituem a maioria das pessoas mais velhas e fornecem grande parte dos cuidados da família para aqueles que não podem cuidar de si mesmos. "Ao olharmos para o futuro, temos de apreciar a importância do envelhecimento na vida das mulheres, especialmente em países mais pobres. E precisamos pensar muito mais sobre como podemos garantir a saúde das mulheres frente ao curso da vida", diz a Dr. Flavia Bustreo, diretora-geral da OMS para a Família, Mulher e Saúde da Criança.
Entretanto, um fator desempenhará papel chave como oportunidade no envelhecimento das sociedades, se elas puderem se reinventar – a saúde das pessoas mais velhas.
Um futuro brilhante nos espera
O relatório destaca três áreas-chave de ação que exigem uma mudança fundamental na forma como a sociedade pensa sobre o envelhecimento e as pessoas mais velhas. Essas ações podem dar aos idosos de hoje e amanhã a capacidade de inventar novas maneiras de viver.
O primeiro é tornar os lugares em que vivemos em ambientes amigáveis para as pessoas mais velhas. Bons exemplos podem ser encontrados na Rede Global de Cidades e Comunidades Amigáveis aos Idosos da OMS que conta com mais de 280 membros em 33 países. Isso vai de melhorar a segurança dos idosos nas favelas de Nova Délhi ao projeto "Men’s Shed", na Austrália e Irlanda que combatem o isolamento social e solidão.
Realinhar sistemas de saúde às necessidades dos idosos também será crucial. Isso exigirá mudança nos sistemas projetados para curar doenças agudas, em sistemas que podem fornecer cuidados contínuos para as condições crônicas que são mais prevalentes em idade avançada. Iniciativas já reveladas como bem-sucedidas podem ser ampliadas e introduzidas em outros países. Os exemplos incluem a criação de equipes compostas por diferentes especialistas como fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas, terapeutas ocupacionais, médicos e enfermeiros no Brasil, bem como a partilha de prontuários informatizados entre instituições de assistência no Canadá.
Os governos também precisam desenvolver sistemas de cuidados de longo prazo que podem reduzir o uso inadequado dos serviços de saúde agudos e garantir às pessoas viverem seus últimos anos com dignidade. As famílias necessitarão de apoio para prestar cuidados, liberando as mulheres, que muitas vezes são os principais cuidadores de familiares mais velhos, a desempenhar papéis mais abrangentes na sociedade. Mesmo estratégias simples, como suporte online para familiares cuidadores nos Países Baixos ou apoio às associações de pessoas mais velhas que fornecem suporte de pares no Vietnã são uma grande promessa.