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Pior momento da dengue ainda está por vir, dizem especialistas

08 fev 2024 às 12:50

O Brasil iniciou 2024 com explosão no número de casos de dengue em diversos estados. Ao fim de janeiro, o país já marcava aumento expressivo nos registros da doença em relação ao ano anterior.


Segundo o Painel de Monitoramento de Arboviroses do Ministério da Saúde, nas cinco primeiras semanas epidemiológicas de 2024 foram registrados 392.724 casos prováveis da doença. No mesmo período de 2023, foram 93.298 registros.


O pico da doença em 2023 ocorreu em abril, na 15ª semana epidemiológica, quando o país registrou 111.840 casos prováveis. Neste ano, o Brasil ultrapassou esta marca já em janeiro, na quarta semana, quando marcou 114.636 casos prováveis.


Para especialistas ouvidos pela Folha de S.Paulo, o pior ainda está por vir.


Para Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), o pico de casos e de transmissão é esperado para após o Carnaval. Segundo ele, há a expectativa de melhora do cenário em meados de abril, com a diminuição da chuva e da temperatura.


"É a sazonalidade da dengue. Lógico que em lugares mais quentes e chuvosos você terá uma curva epidêmica mais constante. Em locais em que há grande variação de temperatura e que o inverno é mais seco isso não vai acontecer de forma tão intensa", afirma.


Para o infectologista o manejo clínico é motivo de preocupação.


"Nesse momento que o estrago está feito e os casos já estão em número absurdo, a nossa principal preocupação é com o atendimento médico ser feito de forma correta. As medidas de prevenção foram efetuadas em paralelo, mas o mais urgente é que se crie uma estrutura dentro de municípios e dos estados em relação ao manejo adequado do paciente com dengue", afirma.


David Uip, diretor nacional de Infectologia da Rede D'Or e reitor do Centro Universitário FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), afirma que o pico da dengue acontecerá em épocas diferentes no país: no Sudeste e Sul, entre fevereiro e março, e no Nordeste e Norte de um a dois meses depois. Sobre o Centro-Oeste, Uip indica que não tinha dados suficientes para análise.


"A incidência está diferente pelo país", diz ele, que também foi secretário de Estado da Saúde e da pasta de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde de São Paulo. "O que estamos vendo na região metropolitana de São Paulo, no Vale do Paraíba, em outros locais do Sudeste e em Brasília é diferente do Norte e Nordeste, onde tem poucos casos e não há pressão nos hospitais. Mas vai aumentar. O pico da doença terá diferentes momentos."


O QUE ESTÁ POR TRÁS DO AUMENTO DE CASOS?


Há diferentes explicações, segundo especialistas. Uma delas diz respeito à circulação de quatro sorotipos de dengue, o que indica que cada pessoa pode pegar a doença quatro vezes. Quando um indivíduo é infectado por um deles adquire imunidade contra aquele vírus, mas ainda fica suscetível aos demais.


Outra razão é a mudança no perfil geográfico. Locais que antes não tinham dengue passaram a ter, fazendo com que novas populações fiquem expostas à doença.


Além disso, há um processo de expansão da área de transmissão de dengue para o Sul do país, o que é observado nos últimos anos e está associado a mudanças climáticas e ambientais, segundo os médicos. A chuva e o calor cada ano mais intensos facilitam a formação de focos do mosquito Aedes aegypti e a sua proliferação.


"Dengue mata. No ano passado, o Brasil bateu o recorde histórico de mortes por dengue. Nunca na história desse país morreram tantas pessoas de dengue como em 2023. Em 2022, já tinha acontecido isso, ou seja, nós estamos piorando. Com o número de pacientes que a gente já tem nas primeiras quatro semanas de janeiro de 2024 vai, infelizmente, bater todos os recordes anteriores", pontua Barbosa.


A dengue começa com febre alta -geralmente acima de 38,5ºC, segundo Barbosa. Outro sintoma é dor muscular pelo corpo, nas articulações, nos olhos e abdominal, além de manchas vermelhas na pele. Queda acentuada na pressão arterial, sangramentos e desmaios são alguns sinais de gravidade.


Segundo o infectologista, o paciente que busca atendimento rápido, ainda nos primeiros sintomas, e recebe o tratamento adequado, tem baixo risco de morte.


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