A oferta de alimentos semiprontos nas gôndolas do supermercado é crescente e, com certeza facilita a vida de muita gente. Especialmente nos dias atuais, onde o corre-corre diário rouba o direito de muitos de preparar cuidadosamente suas refeições em casa. Mas para alguns médicos, a praticidade pode ser inimiga de uma alimentação saudável. É que os hábitos inadequados causam uma série de problemas de saúde, em especial os gastrointestinais.
Para o gastroenterologista Pedro Humberto Perin Leite estes problemas podem começar na hora das compras. ‘Há pessoas que preferem os produtos industrializados, uma pizza ou lazanha, por exemplo, porque são mais fáceis de serem preparados, mas são produtos em que há uma grande concentração de óleos e gorduras". O médico cita ainda os alimentos enlatados, que por terem uma grande quantidade de sódio, acabam prejudicando as pessoas que têm hipertensão (pressão alta).
O médico explica que a redução no consumo de frutas, legumes e verduras, e o aumento no de carboidratos, estão entre as causas dos problemas digestivos. ‘Com esta inversão, o intestino tende a se prender e a pessoa vai evacuar menos vezes e com maior dificuldade". Outra situação observada atualmente é o que se chama refluxo gastricoesofásico, que atinge entre 10 a 20% da população. ‘O refluxo é aquela azia, a queimação no estômago. A pessoa tem a sensação de que o alimento vai voltar. A ingestão de bebidas gasosas ou de outros líquidos, principalmente junto à refeição, favorece muito o refluxo". Os sintomas podem ser observados também em pessoas obesas ou que estejam acima do peso.
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Perin Leite afirma ainda que estes problemas estão associados aos hábitos de consumo dos tempos modernos. ‘Hoje, quando você vai a uma praça de alimentação, o que você vai encontrar é a picanha, a pizza, a batata frita, o lanche; é lógico que tem o alimento saudável, porém, não é o que mais chama a atenção; o restaurante vegetariano não é o que predomina em um shopping", afirma.
O médico aponta ainda outras duas situações muito comuns que acontecem com frequência atualmente. A primeira é a pessoa ficar muito tempo sem comer, em função do trabalho, e comer demais quando vai se alimentar. ‘A recomendação é a pessoa comer uma fruta no meio da manhã, outra no meio da tarde, fazer um lanchinho ou comer uma barra de cereal para não ficar várias horas sem se alimentar".
Outra observação do médico é que boa parte das pessoas fazem as refeições com pressa, o que também não é saudável. ‘Até mesmo em casa as pessoas alimentam-se em poucos minutos, o que não é bom. Se você come muito rápido e sem mastigar direito, você está sobrecarregando o estômago, que precisa trabalhar muito mais para dar conta daquilo que você não fez com a boca".
Para o médico, uma forma de melhorar esta situação é reverter a cultura da urgência que está inserida em todas as camadas sociais. ‘A pessoa deve estabelecer prioridades e se conscientizar de que a saúde é o mais importante. Será que é preciso comer com tanta pressa? Não dá para parar 15 minutos no almoço, no jantar e relaxar um pouco no meio da tarde? Será que esse tempo faz tanta diferença assim?", pergunta, indignado.
Perin Leite destaca ainda a importância da convivência familiar, porque as crianças assimilam muito facilmente as atitudes dos adultos e o que acontece em seu ambiente. ‘Se a pessoa tem o hábito errado de comer com pressa ou de sair de casa para comer lanches, ela está passando isso para seus filhos; o que é perigoso. A tendência de obesidade infantil é maior em quem tem algum obeso na família. Além do aspecto genético, tem ainda a questão da convivência".