Da vitamina A ao zinco, nacionais e importados, suplementos com vitaminas e minerais fazem parte do cotidiano de milhões de pessoas em todo o mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), pelo menos um terço da população global toma esses complexos diariamente. Só nos Estados Unidos existem 29 mil marcas à venda. Mas na verdade, tanto lá, como no Brasil, pouco se sabe sobre o funcionamento ou a necessidade desses micronutrientes.
É preciso ter muito cuidado com as vitaminas. As lipossolúveis – solúveis em gordura: A, D, E, K – se depositam no organismo, ao contrário das solúveis em água – como as do complexo B e C – que são eliminadas na urina. Doses altas dos dois tipos são capazes de intoxicar o organismo e os sintomas são muito parecidos com os da deficiência desses micronutrientes. "A melhor medida é procurar orientação antes de tomar qualquer vitamina, elas só devem ser incorporadas à dieta, a partir de uma indicação médica e em quantidades adequadas. Doses exageradas podem causar danos sérios, como sangramentos e distúrbios neurológicos", alerta a endocrinologista Ellen Simone Paiva, diretora do Citen, Centro Integrado de Terapia Nutricional, em Curitiba.
A seguir, a médica esclarece os mitos mais comuns em relação ao uso das vitaminas:
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Quem realmente precisa de suplementação vitamínica?
"A suplementação vitamínica em condições fisiológicas é recomendada em condições muito especiais, nas quais a alimentação não pode suprir tais necessidades. Entre elas, podemos citar a suplementação de vitamina D para crianças com consumo restrito de leite materno; a suplementação com ácido fólico para mulheres, antes e durante a gestação; a suplementação de cálcio e vitamina D, na menopausa e após os 60 anos", informa Ellen Paiva. Além dessas condições fisiológicas, temos as suplementações em decorrência de doenças carenciais: como é o caso do ferro, nas anemias por carência desse mineral; nos pós-operatórios de doenças que impedem a alimentação adequada; e atualmente, nos pacientes submetidos à cirurgia da obesidade, que apresentam extrema necessidade de múltiplas suplementações, uma vez que passam a não absorver vários tipos de vitaminas e minerais. O cansaço e o estresse da vida moderna não são indicações para suplementação vitamínica, pois não há benefício algum nessa conduta.
A vitamina só tem efeito se ingerida na sua forma natural
Não. Apesar dos efeitos das vitaminas in natura serem favorecidos pela atuação conjunta de outros fitoquímicos, presentes nos alimentos ricos em vitaminas, elas também são ativas quando consumidas em suplementos. "Essa atividade é inquestionável no que se refere à correção da hipovitaminose ou das doenças carenciais com a suplementação vitamínica. O que se questiona são os efeitos antioxidantes das vitaminas suplementadas, principalmente aqueles referentes à proteção cardiovascular e ao câncer, questionamento esse facilmente compreendido devido ao aumento na taxa de mortalidade nos grupos de pacientes submetidos à suplementação, quando comparados com grupos não suplementados, não havendo nenhum efeito positivo para a longevidade", afirma a endocrinologista Ellen Paiva.
Vitamina C combate e cura a gripe
A maioria dos trabalhos científicos não consegue demonstrar qualquer poder preventivo ou curativo da vitamina C em relação à gripe. Recentemente, um grande estudo envolvendo mais de 11 mil pessoas avaliou o efeito de doses de vitamina C de no mínimo 200mg como forma profilática ou após o aparecimento dos sintomas gripais. "Resultado: as mega doses de vitamina C não reduziram a incidência da gripe, nem a gravidade ou a duração dos episódios gripais", diz a médica.
Vitaminas e sais minerais podem prevenir o câncer
A maioria dos trabalhos científicos de maior credibilidade atesta que o consumo de uma dieta rica em frutas e vegetais está associado à proteção contra várias formas de câncer. Esse efeito é referido como proveniente das vitaminas antioxidantes presentes nesses alimentos, principalmente as vitaminas E, C e betacaroteno. Apesar das evidências vindas de estudos populacionais epidemiológicos sobre a prevenção do câncer através das dietas, a suplementação através das cápsulas vitamínicas, incluindo as mega doses de vitaminas não parecem ajudar na prevenção do câncer. "Muito pelo contrário. O beta caroteno (precursor da vitamina A), muito utilizado em fórmulas vitamínicas milagrosas, já demonstrava seu poder deletério ao aumentar a incidência de câncer de pulmão, de acordo com os dados do estudo ATBC – The Alpha-Tocopherol, Beta Carotene Cancer Prevention Study Group, publicado no New England Journal of Medicine. A pesquisa chegou a ser interrompida muito antes da data programada devido ao aumento da incidência de câncer de pulmão e da taxa de mortalidade dos pacientes que tomaram o suplemento", informa Ellen Paiva. Os autores chegaram a conclusão que esse carotenóide não deveria ser utilizado em cápsulas vitamínicas. Uma publicação mais recente da revista da American Medical Association resume o resultado de nada menos do que 385 trabalhos científicos com 232.600 pacientes, avaliando o efeito antioxidante dos suplementos vitamínicos sobre a taxa de mortalidade por doenças em geral. O resultado só vem confirmar os estudos anteriores: "o tratamento com beta caroteno, vitamina A e vitamina E pode aumentar a taxa de mortalidade... Não há evidência de que a vitamina C possa aumentar a longevidade..", informa o artigo.
O tabagismo e o álcool destroem as vitaminas
A ingestão freqüente de álcool pode comprometer a nutrição de uma maneira geral, na dependência da intensidade da ingestão alcoólica. "No caso das vitaminas, o álcool pode comprometer desde a ingestão de vitaminas - uma vez que essas pessoas comem menos e comem mal - como pode interferir também na absorção, na ativação e no armazenamento das vitaminas", diz a endocrinologista Ellen Paiva. As deficiências vitamínicas mais importantes relacionadas ao abuso de álcool ocorrem com as vitaminas do complexo B, com exceção da B12 e da vitamina C. "Já o fumo não diminui os níveis de absorção das vitaminas. Essa crença provavelmente veio da indicação equivocada do uso de altas doses de vitamina C para a prevenção do câncer de pulmão em tabagistas. A dose diária recomendada de vitamina C é de 60mg para indivíduos saudáveis. Propaga-se que fumantes possam necessitar de no mínimo 140mg de vitamina C por dia, mas essa recomendação adicional tem opiniões muito divergentes entre os estudiosos do assunto", alerta a diretora do Citen.
Polpas congeladas não têm valor nutritivo
"Polpas congeladas geralmente tendem a ser nutricionalmente viáveis. Um exemplo dessa característica é a polpa da acerola que mantém quase intactos os seus níveis de betacaroteno e vitamina C, após o processo de congelamento. Seu teor de vitaminas cai, entretanto, com o passar do tempo de congelamento", informa a médica.
Refeições muito aquecidas perdem os nutrientes
O processamento térmico dos alimentos é necessário para impedir a proliferação de microorganismos patogênicos, além de melhorar as condições de palatabilidade e digestibilidade dos mesmos. Assim, cozinhar os alimentos é indispensável para muitos deles, principalmente as carnes. "A perda de nutrientes durante processos de cozimento ocorre de maneira proporcional ao tempo de exposição ao calor. Ou seja, os processos que usam altas temperaturas, por menos tempo, provocam uma perda menor de nutrientes do que aqueles que usam baixas temperaturas por tempos prolongados. Algumas vitaminas por serem solúveis em água e pouco resistentes ao calor são perdidas durante o cozimento. Entre elas destacam-se a vitamina C e a maioria das vitaminas do Complexo B", informa Ellen Paiva, que também é médica nutróloga.
Vegetarianos precisam consumir um maior número de vitaminas
"Não, eles precisam apenas consumir as quantidades vitamínicas recomendadas para as pessoas de um modo geral. Quanto mais rigorosa for a dieta vegetariana, chegando à exclusão de leite, ovos e carnes, menor será a ingestão de vitaminas, principalmente B12, cálcio, zinco e ferro nas suas formas mais facilmente absorvíveis pelo organismo", alerta a médica. Logo, as dietas vegetarianas podem ser saudáveis e compatíveis com a boa nutrição, para adultos e crianças, mas para isso deve haver rigor na formulação dessas dietas, devendo ser acompanhadas por médico nutrólogo ou nutricionista.
A carne de soja é tão rica em ferro quanto a de origem animal
A proteína texturizada de soja pode conter até três vezes mais ferro do que a carne vermelha. "Entretanto, o ferro presente na carne de soja, assim como aquele presente no feijão tem uma absorção muito menor do que o ferro da carne vermelha. Para ser melhor absorvido, esse tipo de ferro dos vegetais precisa ser consumido com a presença de vitamina C nas refeições, o que pode ser alcançado com molhos a base de limão ou sucos de frutas cítricas. Ainda assim, boa parte do ferro presente nesses alimentos vegetais não será absorvida pelo organismo", informa a nutróloga.