As estatísticas mostram que metade dos pais considera seus filhos enjoados para comer. Isso faz com que busquem ajuda frequente dos pediatras.
Nos Estados Unidos criou-se o termo "picky eater" para designar uma parcela das crianças com problemas alimentares, as "enjoadas para comer".
A criança picky eater, por definição é aquela que não come a variedade e/ou a quantidade adequada de alimentos, de acordo com a observação dos pais.
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Isso é determinado por três fatores: aversão sensorial à comida- textura, cor, sensação na boca; neofobia alimentar - medo de tentar alimentos novos e tentativa de chamar a atenção ou controlar os pais através do comportamento alimentar. Geralmente os três fatores encontram-se associados em doses variadas.
Se fizermos uma graduação das dificuldades alimentares em crianças, os "enjoados" podem ser classificadas como mais graves que as crianças que são normais, mas têm pouco apetite e menos graves que aquelas que têm problemas alimentares sérios muitas vezes associados às desordens comportamentais graves ou problemas médicos.
Por que é preciso se preocupar?
Obviamente a baixa qualidade ou quantidade de nutrientes traz consequências no desenvolvimento da criança. Porém, outro aspecto mais importante, é que as divergências na hora da comida trazem problemas sérios para a relação entre pais e filhos (às vezes entre os dois pais) e também no desenvolvimento emocional da criança.
E o que fazer?
Procurar um médico, geralmente um pediatra. É preciso que alguém experiente faça o diagnóstico. Será que essa criança tem apenas baixo apetite ou é um caso mais grave, de distúrbio de comportamento ou um problema físico?
O médico poderá avaliar se é um caso de criança "enjoada para comer" e orientar os comportamentos da família. Se necessário poderá investigar ou encaminhar para outro profissional, psicólogo ou nutricionista, por exemplo.
Comportamento da família
É preciso entender que são as atitudes tomadas pela família que vão melhorar a alimentação da criança. As mães possuem um "programa" que as impulsiona a nutrir o filho, quando a criança não come o sentimento de frustração e ansiedade aparece e se não houver calma, erros graves acontecem. Brigas, chantagem, substituição por alimentos não adequados (mamadeira ou guloseimas) são bastante comuns nesses casos. E o problema agrava, pois a criança continua sem experimentar novos alimentos, come pouco e consegue exercer controle sobre os pais.
Existem algumas regras que deves ser seguidas, principalmente nestes casos:
1- Estabeleça regularidade nas refeições;
2- Encoraje a criança a comer sozinha. Evite empurrar a comida na criança, nossa boca é maior e temos a tendência de oferecer colheradas maiores e em intervalos curtos. A criança comendo sozinha descobre o prazer de comer;
3- Dê o exemplo. Não adianta querer que a criança coma frutas e legumes se os pais não comem;
4- Evite televisão e distrações durante as refeições. Desfrute o alimento e aproveite o momento social que é a refeição;
5- Retire o prato se a criança parar de comer por 15 minutos. Ou se ela se tornar raivosa ou beligerante;
6- O paladar pode demorar em se adaptar a um novo sabor, muitas vezes é necessário dar um pedaço pequeno de uma fruta, todos os dias para que ela passe a gostar dessa fruta.
7- Mantenha uma atitude calma, neutra e firme diante dos comportamentos alimentares de seu filho;
8 - Não dê excessiva atenção se a criança comer pouco. E se comer bem tenha uma atitude positiva, porém em exageros. Um "muito bem" é o suficiente.
Mudar hábitos requer esforço e determinação, mas traz grandes vitórias, tenha paciência, procure um profissional capacitado para as orientações e para ter apoio. Também procure estabelecer um elo com todas as pessoas envolvidas na alimentação da criança, pai ou mãe, avós e babá, para que todos sigam os mesmos planos e se apóiem mutuamente.
*Por Cícero Alaor Kluppel, pediatra especializado em homeopatia e acupuntura (www.cicerokluppel.com.br)