Óleo de peixe e farinha de soja são uma combinação excelente para tratar dos fatores que compõem a síndrome metabólica. É o que comprovou uma pesquisa inédita feita na Universidade Estadual de Londrina (UEL), que pode mudar o protocolo médico de tratamento desse tipo de caso. O estudo é resultado da tese de doutorado da farmacêutica bioquímica Andréa Name Colado Simão, com orientação do médico clínico Isaias Dichi.
O objetivo do estudo era buscar uma substância que pudesse diminuir os efeitos adversos do óleo de peixe (ômega 3) quando usado em altas doses. O óleo de peixe, segundo o médico, é indicado para pacientes com síndrome metabólica que precisam diminuir os níveis de triglicérides, a pressão arterial e a viscosidade do sangue.
Mas, para que a substância faça efeito, é preciso uma dosagem alta, o que, por sua vez, traz efeitos indesejáveis, como aumento do colesterol ruim (LDL) e da glicose no sangue. Por dosagem alta entenda-se 3 gramas por dia, o equivalente a 10 cápsulas de óleo de peixe.
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Com o uso de 25 gramas de soja na forma de pó, associado às cápsulas de óleo, o que se conseguiu foram todos os benefícios do peixe, sem os malefícios da alta dosagem.
Participaram da pesquisa, desenvolvida entre 2006 e 2008, 70 pacientes obesos, com síndrome metabólica diagnosticada, com idade entre 25 e 60 anos. Os voluntários eram pacientes atendidos no ambulatório de clínica médica do Hospital Universitário (HU).
Os pacientes foram divididos em quatro grupos. O primeiro, controle, não recebeu nada. O segundo, só as cápsulas de óleo de peixe. O terceiro fez uso apenas da farinha de soja. E o quarto grupo recebeu a associação de óleo de peixe e farinha de soja. Foram necessários apenas três meses de uso da combinação para que os resultados se mostrassem positivos. ''Uma parcela significativa teve os benefícios do óleo, sem seus efeitos colaterais'', atesta Andréa.
Outra forma de controle dos fatores que levam à síndrome metabólica, segundo o médico, é com o uso de várias medicações, que apresentam, por sua vez, efeitos colaterais. O padrão para controle do triglicérides, por exemplo, é o uso de fibratos, mas se o paciente não responde ao medicamento ou tem efeitos colaterais como taquicardia e dores musculares, parte-se para o óleo de peixe.
Para quem deseja manter hábitos saudáveis, o uso de óleo de peixe também é recomendado, tanto pela associação americana de nutrição, quanto de cardiologia. Mas, neste caso, o indicado é a ingestão do alimento - peixes gordurosos de água marinha, como sardinha, atum, salmão. ''Sabe-se que, quem tem arritmia, tem menos risco de morte súbita se comer esse tipo de peixe de duas a três vezes por semana'', afirma Dichi. O ômega 3 também é relacionado a um menor risco de doença cardíaca. Mas, o uso de óleo na forma de suplemento deve ter orientação médica ou de nutricionista.
Transformada em artigo, a pesquisa foi encaminhada para publicação na revista científica American Journal of Clinical Nutrition. O estudo teve apoio financeiro do CNPQ através de projeto de pesquisa de nutrição e alimentação com enfoque no Sistema Único de Saúde (SUS).
Mais disposição e centímetros a menos na cintura
Três centímetros a menos na cintura nos primeiros 15 dias, e dez no total, sem contar uma maior disposição. Estes foram alguns dos resultados que a técnica em laboratório Eronisa de Souto Severino, de 49 anos, conseguiu com óleo de peixe e farinha de soja.
''Sempre ouvi falar que peixe era bom para um monte de coisa, mas, no começo, confesso que fiquei descrente (da pesquisa)''. Ela controlava a hipertensão com medicamentos, o diabetes com alimentação, mas o colesterol estava alterado.
Não foi difícil utilizar na dieta as cápsulas de óleo de peixe, apesar do gosto residual que ficava, e as 25 gramas de soja. ''A soja é gostosa. O óleo de peixe nem tanto, mas você se acostuma. E depois que vê o efeito, quer continuar'', afirma.
O primeiro resultado foi a disposição, depois a perda de gordura na região abdominal, e depois melhora no colesterol e na glicemia mostrados por exames. ''Melhorou até minha memória'', diz.
Eronisa gostou tanto que incorporou os alimentos na rotina. ''Adoro sardinha feita na panela de pressão. Era um hábito que não tinha''.