Três dias após a data mundial de prevenção ao suicídio, marcada para o dia 10 de setembro, um caso marcou a cidade de Londrina. Imagens de um homem sentado na beirada de uma das janelas do nono andar do edifício Julio Fuganti circulou pelas redes sociais. Algumas pessoas pararam para acompanhar o caso, que se desenrolou na rua Souza Naves com a Alameda Manoel Ribas. As vias foram interditadas para que o Corpo de Bombeiros pudesse realizar o serviço para salvar a vida do homem.
A ação, que durou cerca de duas horas, foi coordenada pelo Tenente Batisti. Durante a conversa que é estabelecida com quem ameaça tirar a própria vida, ele explica que a pessoa pode ter recaídas e ameaçar se matar, novamente. "É uma situação complicada, que precisa ter muito cuidado e cautela. Qualquer movimento mais brusco que a equipe faça pode ser prejudicial para o trabalho", explica Batisti.
Inaugurado em 1959, o edifício comercial Julio Fuganti ficou conhecido como o "prédio do suicídio". Devido a grande incidência de casos, o edifício precisou ganhar barras de proteção nos últimos andares.
De acordo com o Tenente Gorges, quando há uma ameaça de suicídio, o Corpo de Bombeiros é acionado. Uma das primeiras medidas tomadas é isolar o local, para que não haja aglomerações e "curiosos" que possam vir a atrapalhar o caso.
Segundo Gorges, é necessário escolher um dos bombeiros para intervir e dialogar com o potencial suicida. Os profissionais precisam também, conversar com as pessoas que estão no local. O intuito é colher informações que possam ajudar no resgate da pessoa (caso a conheçam): os motivos que levaram o indivíduo a atentar contra a própria vida, se ele faz uso de algum remédio controlado e outras informações.
Gorges também alerta para o perigo de pessoas que estão no local e incitam a pessoa a se matar. "Além de incentivar o indivíduo em questão, esse tipo de ação pode até mesmo fomentar a ideia de outras pessoas que estão no local e têm pensamentos suicidas", orienta.
Neste ano, só em Londrina, o Corpo de Bombeiros atendeu a 31 ocorrências de tentativa de suicídio sem nenhum óbito registrado. Desse número, algumas não conseguiram tirar a própria vida, outras desistiram ou foram convencidas a desistir após o diálogo com bombeiros.
Além das 31 ocorrências que foram registradas em Londrina, o 3° Grupamento de Bombeiros atendeu 55 casos dessa natureza em 2018, enquanto que, em todo o Paraná, houve 510 tentativas de suicídio.
Empatia
Um caso semelhante ao do ocorrido no Julio Fuganti também marcou o mês do Setembro Amarelo. No Estado do Espírito Santo, no último dia 10, um homem ameaçava se jogar da principal ponte que liga Vilha Velha a Vitória enquanto um aglomerado de pessoas gritava frases como "se quiser eu te empurro", "se mata, mas não ferra minha vida" e "pula, pula, pula".
O caso foi registrado em um texto de Facebook pelo motorista de aplicativo Henrique Romero. A postagem chegou a mais de 60 mil compartilhamentos na rede social. No texto, Henrique narra a cena e ainda aponta para a falta de empatia das pessoas que estavam ao redor.
O homem sobreviveu e foi retirado da ponte, porém Henrique conclui seu texto com uma crítica: "Termino este relato secamente, quase em silêncio, com o célebre minuto de silêncio, pois aquele senhor viveu, mas a humanidade morreu um pouco ali no alto daquela ponte", encerra.
Em Londrina, um homem foi preso pela Polícia Militar por estar supostamente incentivando o homem que tentava pular do Julio Fuganti.
A psicóloga Sephora Cordeiro explica que essa falta de empatia está diretamente ligada à banalidade da morte. "Hoje estamos em contato com mortes violentas todos os dias pela televisão e outras mídias. Então precisamos de uma grande tragedia para que as pessoas se mobilizem com o sofrimento do outro. Um outro fator a ser considerado é o individualismo que permeia a sociedade, as pessoas não estão dispostas a olhar para o sofrimento do outros, elas estão centrados nas suas dificuldades e prazeres", afirma a psicóloga.
Nesta quinta-feira (27), o Portal Bonde publica a última matéria sobre o assunto, que trata de serviços públicos oferecidos. A primeira reportagem trata sobre as discussões responsáveis sobre o suicídio. Já a segunda traz um relato de uma menina que tentou suicídio e como o acompanhamento com psicóloga foi importante na recuperação.
*Sob supervisão do editor on-line Rafael Fantin