Sexualidade

Personalidade nem sempre revela sexualidade

05 abr 2011 às 15:57

O que somos, isto é, nossa forma de pensar, sentir e agir, influi, sim, na visão que temos da sexualidade e de todas as questões ligadas a ela, como é o caso da masturbação, do corpo, da relação sexual, da diversidade sexual etc. Influi, ainda, na forma como agimos em relação a isto tudo e na forma de vivermos a nossa sexualidade.

No entanto, nosso jeito de ser, nossa personalidade, não é algo que nos é dado pronto, que recebemos ao nascer.


Pelo contrário, a personalidade vai se constituindo e se desenvolvendo à medida em que crescemos e nos relacionamos com diversas pessoas. Tem a ver, também, com a forma como a humanidade, ao longo da história, foi encarando este assunto até os dias de hoje.


Assim, o que somos é fruto das relações pessoais presentes, da cultura e da história. Esta é uma visão histórico-social da formação do psiquismo humano. ''Toda pessoa sempre é as marcas das lições diárias de outras tantas pessoas'', diz Gonzaguinha numa de suas músicas.


Durante nossa infância e adolescência, a maneira como nossos pais, amigos, irmãos e professores tratavam as questões ligadas ao corpo e ao sexo, e o modo como eles reagiam às nossas atitudes e perguntas levaram-nos a formar ideias positivas ou negativas a respeito, e, sem dúvida, influenciaram e influenciam a maneira como encaramos a sexualidade.


Também nossa formação religiosa, a mídia e a cultura na qual estamos inseridos, paulatinamente, vão determinando quais valores e normas vamos adotar, e portanto, nossos pensamentos e sentimentos.


Daí a importância e a necessidade de nos reeducarmos sexualmente, de buscarmos uma revisão constante da maneira de pensar, para que possamos chegar a ser sujeitos de nossa sexualidade, com liberdade e responsabilidade.


Estamos passando por processos de transformação e revisão no que diz respeito a vários comportamentos sexuais, assim como em relação a algumas leis que são decisivas no campo da sexualidade, tais como: a união civil homossexual, a criminalização da homofobia e a questão do aborto.


A experiência com Grupos de Estudo sobre Educação Sexual, que vem sendo desenvolvida desde 1995, na UEL, tem mostrado que as pessoas que se dispõem a ler sobre o tema, a refletir, debater em grupo e rever o seu modo de pensar e sentir, acabam mudando a sua forma, muitas vezes, repressora e negativa, de encarar o sexo e modificando o seu comportamento e, assim, passam a colher os resultados disto na vida pessoal e profissional.


Vemos, desse modo, a importância e a responsabilidade que temos na educação das crianças e jovens, em todas as áreas, sobretudo, a moral e a sexual. Se quisermos indivíduos autônomos, preocupados em criar relações interpessoais sadias e menos conflituosas, com vistas à cooperação e ao respeito mútuo, é fundamental creditarmos um peso considerável ao papel da educação.


Mesmo na terceira idade ainda podemos continuar revendo o que pensamos e sentimos; isto significa crescimento pessoal e uma vivência mais saudável e feliz.


Outras perspectivas teóricas sobre o desenvolvimento da personalidade veem, de modo diferente, a formação da mesma. No caso da psicanálise, credita-se grande influência às relações paternas e maternas infantis (nos primeiros anos de vida) na formação da personalidade e, consequentemente, na forma adulta de vivenciar a sexualidade.


Às vezes, é necessário terapia para superar bloqueios; contudo, a educação sexual pode ajudar, em muitos casos, na superação de traumas e visões negativas em relação ao sexo.

Mary Neide Damico Figueiró e Solange Maria B. Mezzaroba, psicólogas e doutoras em Educação (Londrina)


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