Confesso: sou um rato de biblioteca. Desde que cheguei a Londrina, em 1989, nunca passei mais do que alguns dias sem ir à Biblioteca Pública Municipal. Graças aos livros e autores ali encontrados, acumulei uma dívida moral que jamais conseguirei pagar. E serei eternamente grato por isso.
Por sinal, gosto de todo o chamado "quarteirão histórico" de Londrina, onde ficam a Biblioteca, a agência dos Correios, a antiga sede da AML (hoje Sesi), o Centro de Saúde, o antigo Grêmio (hoje igreja evangélica) e a sede da Secretaria Municipal de Cultura (antiga Casa da Criança). Tudo ali, pertinho da FOLHA, do Memorial do Pioneiro, do Bosque Marechal Rondon, da Concha Acústica, do Centro Comercial, do Edifício Júlio Fuganti e da Catedral. É um lugar mágico de nossa cidade. O coração de Londrina bate naquele chão.
Tempos atrás, sempre que passava na frente da Secretaria de Cultura, sentia um aperto no coração. E pensava naquele verso de Drummond: "Itabira é apenas um retrato na parede mas como dói!" Era doloroso ver a antiga Casa da Criança vazia e aparentemente abandonada. Mas, há alguns meses, vencidos os entraves burocráticos, as obras no local foram retomadas, e o prédio projetado por Villanova Artigas recuperou as suas características originais.
Nesta semana visitei o prédio restaurado, onde fui recebido pela secretária de Cultura, professora Solange Batigliana. Foi um momento tão emocionante que eu até me lembrei do samba de Adoniran: "Venha ver, venha ver, Eugênia/ Como foi ficou bonito o Viaduto Santa Efigênia".
Ficou linda a Casa da Criança! E penso que a reforma na sede da Secretaria poderia ser modelo para as necessárias transformações na nossa querida Biblioteca Municipal. Como bem disse a professora Solange, a Biblioteca não pode continuar sendo a mesma de 30 anos atrás. Respeito à memória não deve ser confundido com saudosismo intelectual. A questão vai muito além do horário de abertura e fechamento da biblioteca: trata-se de atender às necessidades dos novos tempos e ao perfil dos novos leitores e usuários.
"Bom dia para nascer" é o título de um livro de Otto Lara Resende. Chegou a hora de renascer: o exemplo da Casa da Criança pode ser utilizado para que a comunidade londrinense abrace a Biblioteca Pública Municipal.
Um caminho interessante seria fazer parcerias com a iniciativa privada; uma grande empresa ou entidade local poderia "adotar" a Biblioteca, fazendo uma ampla revitalização do espaço. Da mesma maneira, as universidades locais poderiam ajudar nesse trabalho, sempre contando com a experiência e a dedicação dos funcionários da BPM, a quem sou imensamente grato por estes 27 anos de amizade.
Agora, só não me chamem para reuniões do Conselho de Cultura. Nesse ponto, eu me defino pelo título do livro que estou lendo: "O coração é um caçador solitário". Emprestado da Biblioteca, é claro.