Pai, meu amado e saudoso pai, já que não posso telefonar pra você, vamos conversar por esta coluna de jornal e imaginar que estamos sendo grampeados por nossos sete leitores. Assim, quem sabe, eles poderão dividir comigo um pouco da saudade que me enche o coração.
A situação está difícil, pai. Ninguém enxerga a tal luz no fim do túnel, mas estranhamente todos ainda continuam esperançosos. Nunca vi uma crise dessas e acho que você também não viu. É pior do que 1964. É pior do que 1989. É pior do que tudo. O jeito é trabalhar e rezar, além de protestar o que talvez seja uma forma de conjugar os dois primeiros verbos.
Você faz falta! Eu queria tanto que tivéssemos uma daquelas conversas na varanda, pai. Ou na Cantina do Nonoca. Ou na Toca do Bode, um barzinho delicioso que conheci tempos atrás. Apesar de que não estou bebendo há vários meses. Por motivo de economia. Mas eu tomaria água com você. Quem sabe pediríamos uma porção de pastéis.
Estamos apertando os cintos aqui em casa. Parei de beber cerveja, parei de comprar livros, parei de tomar café na padaria, parei de pegar táxi, parei de ir a restaurantes, parei de usar o cartão de crédito, parei, parei, parei. Cortamos tudo que não seja o estritamente necessário. Mesmo assim, temos dificuldade para fechar as contas no final do mês.
E não pense que estou reclamando do meu salário, não! Sinto-me até um privilegiado; penso nas dificuldades das pessoas mais pobres, dos desempregados, dos solitários. É que simplesmente o dinheiro está valendo cada vez menos, porque a economia foi destruída pelos companheiros. Estamos pagando o preço dos crimes do governo.
O aniversário de seu netinho, o Pedro, está chegando. Ele vai fazer seis anos! Nos últimos tempos, eu pensei muito nas festinhas de aniversário que você e a mãe faziam para mim e para a Fernanda, em São Paulo. Naquele tempo, não havia empresas especializadas em festas infantis. Vocês, com a ajuda da Vó Maria, faziam tudo às vezes trabalhando até de madrugada. Em 1973, você ficou doente, chegou até a ser internado numa clínica, mas não deixou de fazer uma bela festinha para meus três anos.
Agora, pai, com lágrimas nos olhos, eu tenho que dizer ao Pedro:
Papai e mamãe desta vez não vão poder fazer uma festa de aniversário para você, meu filho.
No ano passado, o herói chamado Sr. Lourenço, avô materno do Pedro, garantiu a festa. Mas agora não será possível, nem vou pedir nada a ele; tenho vergonha de pedir mais a quem nos ajuda tanto. Tenho certeza de que mesmo você, pai, entenderia que neste ano só podemos oferecer a ele um bolinho, um presente e o abraço da família. E, nessa hora, você estará ao nosso lado. Sorrindo.
(Publicado na Folha de Londrina.)