Bom dia, amiga. Você acaba de chegar ao Clube das Mães Órfãs. Sinta-se em casa. Aqui todo mundo já sabe o que aconteceu com você. Às vezes parece que o coração não vai aguentar, não é mesmo? No entanto, ele tudo suporta, porque é ao mesmo tempo um músculo e uma ferida. Jorra sangue milhões de vezes durante a vida; por que não suportaria a morte, mesmo a morte de um filho? Foi criado para isso.
Esta é a Cecília. Sua menina foi tomar um banho de mar e não voltou. Todas as noites ela sonha com a praia. As ondas conversam naquele idioma das águas, e quando Cecília começa a compreender o que estão dizendo, a menina volta, trazida pelas mãos de uma linda Senhora. A tristeza de Cecília é sempre acordar antes de abraçar a filha. Mas um dia ela abraçará, nós sabemos.
Esta é a Ana. Há 15 anos, perdeu os dois filhos, uma menina e um menino, atropelados quando iam comprar balas na Avenida Inglaterra. Hoje ela trabalha ajudando pacientes com câncer. Tenho plena certeza de que só o olhar dela já salvou muitas vidas.
Esta é a Cláudia. Seu menino ficou internado no Hospital do Câncer e se tornou amigo dos funcionários e da equipe médica. Até a moça da portaria gostava de conversar com ele. Agora, Cláudia vai sempre ao hospital, só para falar com aqueles que um dia falaram com seu filho. Para ela, fazer isso é como ouvir a voz do menino nas outras vozes.
Esta é a Marta. Perdeu sua princesa para o crack. O calvário da moça durou três anos. Começou fumando maconha em festinhas da faculdade, depois passou para drogas mais pesadas. De repente, passou a roubar os objetos da casa. Um dia, Marta abriu a porta e encontrou a sala vazia. Muitas vezes Marta foi buscar sua princesa na rua; numa das últimas madrugadas, ela estava careca; havia cortado os cabelos longos para vendê-los. Mas Marta sabe que, no dia do reencontro, a princesa estará de novo com suas longas tranças e uma coroa. Não de espinhos.
Esta é a Renata. Todos os dias ela arruma a cama do filho. Aos dez anos, ele foi brincar de skate, escorregou, bateu a cabeça no meio-fio, dormiu para sempre. Renata, assim como a Cecília, tem um sonho recorrente: está debaixo de uma árvore, uma castanheira de sua infância. Algo se move entre os galhos e as folhas: é ele. "Mamãe, posso descer?" E ele desce, e ela acorda.
Esta é a Sara. Militante feminista, participava a Marcha das Vadias e defendia o "direito de escolha" da mulher. "Meu corpo, minhas regras", gritava. Até o dia em que engravidou e decidiu fazer um aborto. Até hoje ela conversa com seu primeiro filho, que teria sete anos. Ele tem nome, tem rosto, tem até sapatinhos. Agora ela diz: "Minha alma, minhas regras".
E esta é a Maria. Mesmo inocente de qualquer crime, seu filho agonizou por três horas em um dos piores instrumentos de tortura já inventados. Após três dias, ressurgiu. Maria é a mais feliz de nós. Graças a ela, estamos aqui, esperando a volta dos nossos filhos.