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Minha amiga Adélia Prado

20 jun 2016 às 15:17
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Meninos costumam ter "namoradas", embora elas não saibam disso. Minha ligação com Adélia Prado tem natureza infantil: somos amigos, mesmo que ela não saiba que eu existo. Nos últimos tempos levo na pasta um livro da escritora de Divinópolis para que seus versos me socorram em momentos de dúvida, angústia ou falta de caridade. "Tenho dez anos e caminho de volta à minha casa."

Há exatos 40 anos, Adélia Prado surpreendeu o mundo literário ao lançar seu primeiro livro de versos, "Bagagem". Hoje ela está com 80 e continua produzindo belíssimas obras em poesia, ficção, crônicas e memórias. "Deus é mais belo que eu. E não é jovem. Isto, sim, é consolo."

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Vale a pena citar de novo a definição de Aristóteles para amizade: amar as mesmas coisas e rejeitar as mesmas coisas. É por isso que eu vejo Adélia Prado como amiga de todas as horas, especialmente as horas difíceis. Nos últimos tempos, quando a política e a economia roubam a minha paz, leio um poema de Adélia. É tiro e queda: a dor vai embora, ou se amansa, como um animal acuado pela beleza inexplicável. "O céu estrelado vale a dor do mundo."

Não gosto da palavra "poetisa" pelo mesmo motivo que não gosto da palavra "presidenta". Parece-me que essas palavras feias acabam por impedir o bom desempenho dos respectivos ofícios. Não é o caso de Adélia: para mim, ela é simplesmente poeta. "A essência da arte vem de uma instância mais alta. Beleza é forma, não é boniteza. A forma revela o ser das coisas. A arte, assim, nos revela a beleza suprema."

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Adélia ama a verdade, a beleza e a justiça. Rejeita a mentira, a corrupção e a vingança. Ama Jesus Cristo e a Igreja Católica. Rejeita o diabo e o poder que ele exerce no mundo. Não há em seus versos o mínimo traço de rancor ou ressentimento. A sábia de Divinópolis — poderia haver cidade com nome mais adequado? — eleva as pequenas coisas ao patamar do sagrado. Três aves pousadas no galho revelam uma centelha do mistério da Santíssima Trindade. "Mudam de galho as três, uma licença para eu também me mover e escapar como as rolas da perfeição do ser."


O verdadeiro poeta não é alguém que vive alheio ao seu tempo; pelo contrário, representa a voz profunda de uma cultura, de uma sociedade, de um povo. Adélia faz parte daquele restrito rol de poetas brasileiros realmente fundamentais, entre os quais incluo Bandeira, Drummond, Cabral, Cecília, Jorge de Lima, Ferreira Gullar e Bruno Tolentino. "Sei que Deus mora em mim como a sua melhor casa."

O nome Adélia quer dizer "nobre". Nobreza de alma é o que eu vejo em nossa maior escritora viva. Se você quiser conhecê-la, vá até a Biblioteca Municipal ou algum dos sebos e livrarias da cidade. Ela está lá, esperando para revelar a forma de nossa alma. "Se for só isso o céu, está perfeito."


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