A morte de Celso Daniel, em janeiro de 2002, é o marco zero da república petista. Cidades e países têm mitos fundadores; a era do PT possui um crime fundador. Os 13 tiros no prefeito de Santo André, que foi torturado antes de ser morto, e cujo corpo foi encontrado numa Estrada das Cachoeiras, na Grande São Paulo, marcaram o início da dominação e destruição do Brasil pelo Partido dos Trabalhadores. No final do ano de 2002, Lula se elegeu presidente da República, tendo como principais ministros José Dirceu e Antônio Palocci. Lembremos que Celso Daniel estava definido como coordenador da campanha presidencial do PT, função que acabou sendo desempenhada por Palocci. Naquele dia não morreu apenas uma liderança do PT; morreu um dos nomes mais importantes do partido em toda a sua história.
Meu saudoso pai, que sempre foi um homem de esquerda, nunca mais votou no PT depois da morte de Celso Daniel. Escandalizava-o a pressa dos dirigentes do PT em afirmar que a morte do prefeito havia sido um crime comum e não político. Escandalizava-o, também, o silêncio da oposição tucana, que jamais quis tocar no assunto nas campanhas presidenciais de 2002 e de 2006, nem que fosse para lançar alguma luz sobre um caso tão sombrio. Depois de Celso Daniel, morreram mais sete pessoas ligadas ao caso: dois sequestradores do prefeito (ainda em 2002); um investigador da Polícia Civil; o garçom que serviu Celso Daniel na noite do crime; uma testemunha da morte do garçom; o agente funerário que reconheceu o corpo do prefeito; e o médico legista que atestou as marcas de tortura na vítima.
O inquérito da Polícia Civil sobre a morte foi concluído em 1º de abril de 2002 e apontou que o ex-prefeito Celso Daniel havia sido sequestrado por engano, confundido com um comerciante e morto a tiros por um menor de idade. Segundo a polícia, portanto, uma triste coincidência causou a morte de Celso Daniel. Deve ser por coincidência que exatamente hoje, 1º de abril de 2016, tenha sido deflagrada a 31ª fase da Operação Lava Jato, denominada Carbono 14, com a prisão do empresário Ronan Maria Pinto e o do ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira.
Carbono 14, como se sabe, é um elemento químico radioativo capaz de elucidar fatos ocorridos há muito tempo. Quatorze são os anos que se passaram desde a morte de Celso Daniel. O fantasma de Celso Daniel, como o pai de Hamlet na tragédia shakespeariana, voltou para assombrar os antigos envolvidos com o crime.
Será a marco final da era petista? O Brasil quer saber a verdade sobre aquele caso que quiseram encerrar no Dia da Mentira.