Hoje vou fazer uma pequena palestra para alunos do ensino médio, com idades entre 13 e 15 anos. Nessas ocasiões, sempre gosto de falar aos jovens sobre o exemplo de Viktor E. Frankl (1905-1997), médico austríaco de origem judaica, um dos meus escritores preferidos. Jovens precisam de bons exemplos, e Frankl é um daqueles indivíduos que nos dão orgulho de pertencer à espécie humana.
Com pouco menos de 40 anos, já formado em medicina e estudioso de psicologia, Viktor Frankl foi aprisionado pelos nazistas em um campo de concentração. Os nazistas matariam toda a sua família: pai, mãe, irmão e a primeira mulher. Frankl passou por sete campos da morte, e só escapou de ser exterminado porque contraiu uma febre e foi "esquecido" em um ambulatório durante a evacuação do campo de Türkheimer.
Não era a primeira vez que Frankl escapava da morte por um triz. Quando chegou ao seu primeiro campo de extermínio, entrou numa fila para se apresentar diante de um oficial da SS. Com um pequeno gesto de mão, o militar ordenava que os prisioneiros se dividissem em dois grupos: um à esquerda, outro à direita. Quando chegou a vez de Frankl, o nazista hesitou por um instante; indicou a esquerda, mas logo depois se arrependeu e ordenou que o prisioneiro fosse para o grupo da direita. Esse pequeno gesto salvou a vida de Frankl: todos os que foram para o grupo da esquerda pereceram nas câmaras de gás.
Ao ganhar a liberdade, em 1945, Viktor Frankl começou a reescrever o livro de psicologia cuja primeira versão se perdera durante seu cativeiro. Esse livro, "O homem à procura de sentido", com o subtítulo "Um psicólogo no campo de concentração", tornou-se um best-seller mundial, com milhões de exemplares vendidos e traduções para diversas línguas. Na obra, Frankl analisa o perfil dos prisioneiros dos campos de concentração e afirma que a existência de um sentido externo aos indivíduos aumentava em muito a chance de sobrevivência ao inferno totalitário.
Em seu "Esboço Autobiográfico", Frankl escreveu: "Há três possibilidades que conferem à vida, até o último momento, até o último suspiro, um sentido: uma ação que realizamos; uma obra que criamos; ou uma vivência, um encontro, um amor. Mas também, quando somos confrontados com um destino inalterável (digamos, uma doença incurável, um câncer inoperável), até aí nós podemos dar um sentido à vida, ao dar testemunho da mais humana das capacidades humanas: a capacidade de transfigurar um sofrimento em realização humana".
Como os meus sete leitores já devem saber, tenho mania de pesquisar a origem e o significado dos nomes. Viktor quer dizer "vencedor"; Emil quer dizer "trabalhador"; Frankl quer dizer "homem livre". Poucas vezes um nome foi tão justo com o seu portador. E a melhor notícia, meus amigos, é que os livros de Viktor Frankl estão ao alcance de todos, na Biblioteca Pública Municipal, nos sebos da cidade e até na Internet.