Pesquisar

Canais

Serviços

Publicidade

A batalha

08 jun 2009 às 17:55
siga o Bonde no Google News!
Publicidade
Publicidade

Como prometi, segue a matéria sobre a geada. As fotos estão no post anterior.

O relógio aponta 5 horas da madrugada de quarta-feira (dia 3). O termômetro nas mãos do agricultor Valdemar Kawata, de Sapopema (132 km ao sul de Cornélio Procópio), registra 2ºC. O céu está estrelado. Vai começar uma batalha entre o homem e a natureza. Com a temperatura caindo a cada hora, Kawata sabe que três mil plantas de seu cafezal, que estão em uma área de baixada, correm perigo. No ano passado ele já sofreu uma triste derrota para a geada, sendo obrigado a cortar no tronco mil pés de café. Desta vez, espera sair pelo menos com um empate. Vai encarar o frio.

Cadastre-se em nossa newsletter

Publicidade
Publicidade


A FOLHA acompanhou o trabalho de Kawata na madrugada mais fria do ano no Paraná. No distrito de Entre Rios, que pertence ao município de Guarapuava (Campos Gerais), foi registrada a temperatura mais baixa do sul do Brasil. Por lá, a estação do Instituto Meteorológico Simepar detectou a mínima de -5,4ºC.

Leia mais:

Imagem de destaque

Até logo

Imagem de destaque

Veja as fotos do paraíso

Imagem de destaque

Mães devolvem filhos ao Cense

Imagem de destaque

Descanse em paz, João.


Em Sapopema, no sítio São Sebastião, o relógio agora marca 5h30 e a temperatura medida com o termômetro junto ao solo caiu ainda mais, está abaixo de zero: -0,5ºC. O semblante do cafeicultor descendente de japoneses é de total preocupação. O orvalho já está virando gelo nas folhas de seus cafezais. É hora do combate.

Publicidade


O aliado de Kawata contra a geada é um velho conhecido dos cafeicultores do Norte do Paraná para esse tipo de caso: o fogo. A meta é criar uma cortina de fumaça sobre o cafezal. A prática tem explicação científica. Segundo o meteorologista Cezar Gonçalves Duquia, do Simepar, acontece o seguinte: durante o dia, o sol aquece o bolsão de ar que fica junto ao solo, depositando ali energia. Quando o sol se põe, começa o processo inverso, com o solo emitindo energia para o espaço. Se houver nuvens no céu, parte dessa energia volta para o solo, mas com céu estrelado ela se perde. As nuvens de fumaça produzidas pelo fogo ajudam a armazenar energia, ou seja, calor. No sítio São Sebastião foram feitas três grandes fogueiras, com a lenha dos pés de café arrancados no ano passado. O fogo custou a pegar na madeira gelada, encoberta por uma fina camada de gelo, mas logo o barulho das labaredas ardendo romperam o silêncio da madrugada. Uma cortina de fumaça se formou, mas não impediu a presença do gelo nas folhas das plantas. Contudo, desta vez a geada não vai obrigar o cafeicultor a derrubar nenhum pé de café, vai resultar apenas em algumas folhas queimadas.


''Faço isso por gostar do café, da minha lavoura. Além disso, é um capital da minha família que está aí investido. Quando a geada nos castiga, é muito triste, pois em uma noite perdemos todo o trabalho de um ano. Na nossa batalha contra a geada, a natureza acaba vencendo na maioria das vezes, mas não podemos desanimar'', destaca o agricultor que comprou os 22,5 hectares onde trabalha com o dinheiro de quatro anos de trabalho como operário no japão. Ele também industrializa a maior parte de sua produção, colocando no mercado o café Sol Nascente.

Publicidade


Lágrimas nos olhos e água nas plantas


Em Londrina, no patrimônio Selva (região sul da cidade), o olericultor Eliel dos Santos Silva também lançou mão não só do fogo, mas de outros instrumentos para não perder suas hortaliças para o frio. Em 10 hectares de terra ele cultiva 26 variedades de verduras e legumes, abastecendo o mercado de Londrina, sul de São Paulo e Mato Grosso do Sul.

Publicidade


Habituado às geadas, ele só lamenta pelo fato de a temporada de frio de 2009 ter começado mais cedo. ''Nos anos anteriores estava geando em agosto e setembro'', comenta. No entanto, como não adianta lamentar, ele adiantou a colheita do que era possível, cobriu com sacos de estopa outra parte da roça e decidiu irrigar durante a madrugada o que fosse possível do restante.


Acostumado a passar as noites frias de termômetro nas mãos, Eliel já estava preocupado à 0h30, quando o aparelho marcava 4ºC. Às 3h40, a temperatura já havia caído para 0ºC e as bombas de irrigação tiveram que funcionar. ''Consegui salvar as abobrinhas e parte da horta de alface. Mas perdi muito


do couve e do próprio alface. Cheguei a ficar emocionado com a situação, pois vi que acabou dando resultado o trabalho meu e da minha família'', comemorou.

Também há explicação para a eficiência da irrigação. De acordo com o meteorologista Cezar Gonçalves Duquia, a água tem maior capacidade térmica do que o solo, assim, demorando mais tempo para perder energia, evitando que as folhas das hortaliças congelem.


Publicidade

Últimas notícias

Publicidade