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As formigas molhadeiras

06 jun 2009 às 11:35
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Segue mais um dedo de prosa. Este publicado originalmente na FOLHA RURAL de hoje, 06/06. Amanhã, publico a foto e os bastidores da notícia que inspiraram a prosa. Não perca!

As formigas molhadeiras

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Pois é, compadre, ''geou na baixadinha''. O frio chegou para valer no nosso ''Paranazão'' nesta semana. E, como sempre acontece nos momentos em que o clima não nos ajuda, lá vamos nós tentar salvar a lavoura. Isso me lembra a história de um saudoso amigo, o João ''Italiano''. Plantador de hortaliças, ele parecia ser amigo de cada um dos seus milhares de pés de alface, couve, almeirão. Não era exagero. Aos 60 anos de idade, ele criara, junto de dona Isabel, os cinco filhos e as três filhas com o que ganhara plantando hortaliças.

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Descanse em paz, João.


Geada não era novidade para o italiano. Já havia enfrentado várias. Muitas vezes viu suas plantas amanhecerem congeladas. Mas daquela vez era diferente. Uma sucessão de acontecimentos o empurraram para as dívidas.

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Primeiro foi a tentativa do filho mais velho de abrir um mercadinho na cidade. O rapaz deu passos maiores do que a perna, comprando uma imensidão de mercadoria para vender à pequena freguesia. As contas com os fornecedores venceram e o filho ainda tinha o estoque cheio. O italiano não podia deixar o nome da família sujar, por isso assumiu as contas, gastando toda a poupança.


Logo depois, veio a doença da esposa. Era problema do coração. O médico foi taxativo: cirurgia urgente. No desespero, hipotecou o valente ''fenemê'' para a mulher poder operar. Foi tudo bem, mas os remédios que ela agora tomava custavam caro.

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Por isso, quando recebeu a notícia de que a próxima madrugada era de geada, João deixou uma lágrima escapar dos olhos. Não podia tomar prejuízo. Não daquela vez. Passou o dia cobrindo com sacos de estopa tudo o que pôde, mas faltaram sacos e a noite caiu depressa, estrelada, fria e de lua minguante.


A única saída seria irrigar o que estava descoberto - a maior parte da plantação. Porém, quando o italiano foi testar o sistema, ouviu um estrondo na bomba que captava água da sua represinha. A máquina estourou.

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Era oito da noite e a madrugada aproximava. Ele ouviu o filho mais novo balbuciar ''o velho ficou louco'' quando entrou em casa dizendo que ia molhar as plantas manualmente. Quem quisesse que ajudasse.


Quando viram que a coisa era séria, os dois filhos solteiros foram chamar os manos e manas casados que moravam na cidade. João ficou feliz quando viu o fenemê trazendo os cinco filhos, as três noras, as três filhas, os três genros, os sete netos mais velhos e mais meia dúzia de voluntários.

Quando o orvalho começou a virar gelo nas folhas das hortaliças, os baldes e regadores começaram a mergulhar na represa e a subirem cheios de água nas mãos daquele povo que fazia carreira feito formiga. Foi quase um milagre, mas nenhuma planta queimou. E a canjica com amendoim feita por dona Isabel, a única que não podia puxar baldes, esquentou aquele povo feliz.


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