Pesquisar

Canais

Serviços

Publicidade
Publicidade
Publicidade

Thadeu Wojciechowski: O dia que matei Wilson Martins

26 out 2011 às 08:30

Compartilhar notícia

Thadeu Wojciechowski. -
siga o Bonde no Google News!
Publicidade
Publicidade

Thadeu Wojciechowski, poeta curitibano, nasceu em 24 de dezembro de 1950. Foi professor de Comunicação e Expressão, Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, além de letrista e compositor é também publicitário. É autor de algumas centenas de músicas, algumas delas gravadas pelas bandas Beijo AA Força e Maxixe Machine. Já publicou 29 livros, entre eles, os livros de poemas "Ai dos que não são Thadeu", "Fausto", "Cri-me", um romance "Assim até eu", e uma adaptação do Tao, "Um Inferno", adaptação da Divina Comédia. E gravou também um cd com composições próprias "WOJCIECHOWSKI".

Nossa primeira pergunta: Thadeu, qual é a sua relação com a poesia? Ela é vital? Ela é uma amiga que só chega quando quer?

Cadastre-se em nossa newsletter

Publicidade
Publicidade


Thadeu: Uma relação de vida, é como ar que respiro. Não consigo viver sem ela. Tenho necessidade de. Ela chega a todo momento em forma de letras, poemas, contos, romances, novelas, aforismos, piadas, gargalhadas. É uma relação muito viva e se estende aos que me rodeiam.

Leia mais:

Imagem de destaque

Dia da Consciência Negra - Crônica de Flavio Madalosso Vieira Neto

Imagem de destaque

Amo Joanita (Crônica de Isabel Furini)

Imagem de destaque

Ontem ganhei o dia (Crônica de Marli Boldori)

Imagem de destaque

Banco de Primavera - por Vanice Zimerman



2) E o processo criativo? Você escreve sobre um assunto determinado ou você espera que a chegada das Musas?

Publicidade


Thadeu: Como dizia Pound "poesia é conversa entre pessoas inteligentes" e, pra mim, sensíveis, então, não tem essa de ficar esperando só as coisas do céu, tem muito assunto bom que por si só já são poesia.



3) Como você enxerga a poesia na atualidade? Quais são as características mais interessantes da poesia deste novo século?

Publicidade


Thadeu: Hoje em dia tem poeta pra tudo, até para a anti-poesia. Mas vejo, com alegria, pelo menos em Curitiba e Londrina, um grande número de bons poetas. Sabem ir da forma fixa às mais diferentes formas de expressão e de versejar. Os clássicos estão sendo diluídos e incorporados ao dia-a-dia e essa contribuição milenar é a grande novidade. Aliado a isso o progresso das comunicações e do acesso à informação e às obras dos poetas em todo mundo.


4) Quais são os poetas que mais influenciaram a sua obra?

Publicidade


Augusto dos Anjos e Cruz e Sousa, os principais. Mas não posso deixar de citar os russos Maiakovski, Kliebnikov nem os franceses Baudelaire, Rimbaud e Mallarmé. Poe e Yeats também me influenciaram. Mas não diria que foram somente poetas. Tenho uma curiosidade muito grande, filósofos, romancistas, cronistas estão na minha mira. Machado de Assis, Nelson Rodrigues, Dalton Trevisan são alguns mestres que deram à minha prosa a feição atual. Foi tentando superá-los que aprendi a escrever. A convivência com todos esses citados e alguns que deixei de citar é que me trazem luz das trevas.



5) Por que essa quase obsessão com o próprio nome, por exemplo: "Ai dos que não são Thadeu". Narcisismo ou um sentido de ter sido, de alguma maneira, abençoado com um nome significativo?

Publicidade


Nem uma nem outra. Como já disse, Augusto dos Anjos é o meu poeta preferido e o seu livro EU é meu livro de cabeceira. É em homenagem a ele e ao ponto de partida de minha poesia. É em mim que ela se realiza, como vida, sonho, intuição e desejo.E aí minha mais forte idealização: CRIAR UMA LITERATURA TÃO FORTE DE IMAGINAÇÃO QUE A REALIDADE NÃO POSSA MAIS INTERFERIR. Mas muito mais do que aqui eu poderia responder, acho que já disse tudo no capítulo 5 de minha Novelha O DIA QUE MATEI WILSON MARTINS, que deixo aqui na íntegra.



Capítulo 5
"Wilson, poeta sentado é poeta
em pé de guerra." (1)

Publicidade


Acho que você não está compreendendo.
Mas falo mesmo assim. A mim já não importa
Se me entendem, sacou? A idéia que estou vendo
Lá na frente, é nela que miro, na porta
Que vou abrir, quebrar em mais de mil pedaços
E você tem só que ir acompanhando, cada
Palavra é importante. Vá juntando os cacos
E subindo os degraus dessa esquálida escada.
Quando você cria, vai na direção de algo
Que não sabe o que é. Tomba e escorrega em falso,


Pisa na maionese, depois faz que vai
E vai mesmo ou nem isso e aquilo, sacou?
Você pega Jesus pra cristo ou Dalai
Pra lama e continua dando bola pro gol.
Foda-se o mundo todo, se você quer ir
Aonde ninguém foi, tem que querer viajar,
Tem que saber que lá pode não existir
Nem ser sua Eldorado e, mesmo assim, chegar,
Na terra do São Nunca, cafundó do Judas,
Onde o diabo doidão botou as ditas cujas.

Publicidade


O sentido é um detalhe, pesa quanto vale,
Um átimo de som pode ser suficiente
E te reconduzir de novo. Caso falhe
Mais essa tentativa de ir sempre em frente,
Você só abre a boca e deixa livre a fala.
Se nela nada se esconde, então, tudo é teu:
O sol, o sonho, o som, a luz, a gema, a água
E mais o que te fez vencer quando perdeu.
Sem trava no olho dá pra ver o céu da boca
E o que dela sai santo é coisa muito louca!


Estou dizendo agora o que nunca viu,
Ouviu? Você houve quando? Ontem havia e hoje há?
Perder tempo comigo é suicídio, sentiu?
Tua vida vai indo indo indo e você pra lá
E pra cá a escutar o que digo e não digo.
Isso não tem sentido. Mas vamos que vamos,
Até onde eu sabia, havia nenhum perigo,
Então vou começar para ver se começamos.
Ah! A idéia é esta e não dá pra saber
Se é tudo que nos resta, será que vai ser?


Bom, pelo menos, penso que estamos no rumo.
Mas o que você vai ser quando for alguém
Como eu? Será impossível? Melhor pegar prumo
O quanto antes, depois não fica sem também.
Poeta que tem de sobra, distribui de graça
O milagre de Deus; ao que falta, dá nada,
Não está nem aí. Para tua pouca desgraça,
É bobagem parar de disparar sem bala
Na agulha de um palheiro que perdeu o fio
Da meada bem no meio desta conversa, ouviu?


Poeta de ouvido estica o som, até lá não!
Lá não pode ser já, é bom ir devagar.
Essa lua tá que tá, olha só!, ê, mundão,
A luz do sol é que brinca de ser lunar.
Estrelas tem pra si e olhe lá uma caindo,
Ainda bem que do céu não passa disso, assa,
Cai no ponto final e o Caetano diz: "Que lindo!
Tudo é divino maravilhoso!" Trapaça
Da língua-mãe no cu dos outros é refresco.
Quero ver você cego quando me olhar vesgo!


Sentei, estou em pé de guerra? Tanto fez
Tanto faz, por enquanto, siga, engate a ré,
Mas se eu voltar atrás e ir em frente, talvez
Seja melhor você seguir o guia, não é?
Aonde vamos parar com essa conversa eu paro.
Não dá pra continuar assim, então, você
Trate de ir falando sozinho, meu caro,
Pra eu ouvir suas razões em silêncio e saber
Por que a chuva cai em pé, corre deitada,
Vai pro bueiro e depois eu puxo a descarga?


Ah! Nem me fale nada, mas aceite um chá,
Sem cerimônia. Vou te contar até dez
Pra você não perder a calma é pra já,
Não tenho tempo a mais para te dar a vez.
O tema do discurso? Bem, aí é demais
Pra mim. Volte ontem cedo, mas bem cedo mesmo,
Que te ensino a fazer renda para ganhar mais,
Muito mais, namorando só golpes de menos.
Um dia fui pra Maracangalha e não voltei
Nunca mais e ouvindo nunca mais eu fiquei.


Arranjei um corvo pra me coçar e o sarna
Não quis tirar o Poe dos meus sentidos, pode?
Claro que pode quem não pode se sacode,
Enrola a rima, faz de conta que é uma arma
Que o poeta tem nem vem que não tem pra ninguém.
Estamos entendidos? China é mais embaixo,
Mas está por cima da carne seca, neném!
Por outro lado, aqui, vamos fundo no tacho.
Queria o quê, melzinho na chupeta, amor?
Chupe o cu daquela abelha ali, por favor.


Poesia pode ser tudo e mais um pouco, ok!
Há quanto tempo estamos de papo pro ar?
Se não fosse a palavra, juro, já nem sei
O que seria de mim sem eu para falar
O que preciso ouvir. E, você, seria o quê?
Deus estava embriagado ao criar o ornitorrinco,
Você ficaria bem de. Não? Quanto quer valer?
Dinheiro não dá em cacho? Então, eu não brinco.
A fala diz, dê graças a Deus, Maomé,
E Alá meu bom Alá, repita se quiser.


Eu não estou aqui para fazer gracinhas,
Está pensando o quê? Eh, cara, cara a cara,
Não é bem assim, fale só as tuas, pois as minhas
Verdades em extinção são de uma espécie rara.
Tua interpretação de texto não me diz
O que eu te digo agora mesmo sem pensar.
Ah! Você é desse jeito mas é feliz.
Que dez! Será até bom revê-lo nunca mais.
Sendo assim, lá vou eu como não fui jamais!



(1) Verso do Solda, poeta, cartunista.

ANTONIO THADEU WOJCIECHOWSKI


Publicidade

Últimas notícias

Publicidade
LONDRINA Previsão do Tempo