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HISTÓRIA CONCISA DA VIDA

11 jul 2014 às 12:15

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Um dia, ele repousará as mãos sobre as mãos dela e com palavras cheias de ternura fará um pedido. Ela responderá sim, com voz doce e olhos brilhantes. E viverão dias de transbordante lirismo. Eles se casarão num mês de maio e irão morar numa casa pequena, tantas vezes desenhada em sonhos. Trabalharão nos dias uteis e farão passeios simples e maravilhosos nos fins de semana. Uma tarde irão passear à beira-mar e ouvir as canções do vento. Nesse dia concordarão que dois filhos será o numero ideal. E nascerão os filhos. E crescerão tão rápido que eles e os amigos nunca deixarão de se espantar. Ele trabalhará mais e ela ficará mais tempo com as crianças. E a velocidade dos anos será a mesma do crescimento dos filhos.

E ela se entristecerá com o cotidiano massacrante que experimentará. Ele mergulhará no tédio com seu trabalho repetitivo e sem gosto, mas sem o qual não sustentará a família. Nos finais de semana ele dormirá, exausto. Ela irá para um canto da casa, longe dos filhos e chorará. E ele irá olhar para a porta, que antes via como a entrada de um paraíso particular e verá a profunda transformação que os anos farão. E a mesma porta se tornará igual a entrada de uma prisão fria e úmida. E ela o verá sentado no sofá da sala. Os seus olhos, que tanto a encantaram pelo brilho e vivacidade, estarão baços e inexpressivos. Nesse dia dará conta de que terá a seu lado, para sempre, um homem comum e insípido. E pensará que promessas coloridas de amor e paz jamais estarão ao alcance das mãos.

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Os filhos um dia entrarão pela porta da frente e ela olhará para eles e não vislumbrará nem um pouquinho das crianças delicadas que foram. E um dia eles, inesperadamente, falarão palavras duríssimas e magoarão profundamente a ela e a ele. Ela, mais uma vez, chorará. Ele não demonstrará a dor e a esconderá, em algum canto da alma. E a vida parecerá aos dois, triste e sem sentido. E sobretudo injusta.

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O TEMPO


Um dia eles perceberão, com espanto, que os dois adultos que entraram em sua casa, são na verdade seus filhos. Espantados concluirão que o rio do tempo corre sem parar. E seus filhos também colocarão as mãos sobre as mãos de alguém e farão pedidos, que serão aceitos. E nesses novos tempos ele e ela se olharão nos olhos e sob as nuvens que turvam os anos, descobrirão novas doçuras e delicadezas, escondidas atrás do cotidiano. E novamente darão as mãos e retomarão velhas promessas. E nesse calmo e doce outono, se redescobrirão e farão longos passeios de mãos dadas e conversarão sobre o passado, as esperanças e desejos futuros.

Finalmente o destino escolherá qual dos dois será o primeiro a entregar a moeda ao barqueiro que nos transporta ao mundo desconhecido. O que ainda ficar na margem de cá, herdará a convivência com os filhos e os filhos dos filhos e será o guardador dos tesouros e dos segredos da vida. E terá o dever de saber que ela, a vida, sobe e desce, mas a nós foi dado o dever da escolha: Olhar tanto tempo para o lado brilhante, até deixarmos de ver as sombras.


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