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Caso Villela

Delegada é acusada de coagir acusado de matar ex-ministro

Agência Estado
03 fev 2012 às 21:12

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O advogado Geraldo Flávio Soares, militante de movimentos sociais de Montalvânia (MG), denunciou que a delegada Mabel de Faria, da Polícia Civil de Brasília, lhe propôs convencer o réu confesso Paulo Cardoso Santana a mudar o depoimento para incriminar a arquiteta Adriana Villela como mandante do assassinato do pai, o ex-ministro José Guilherme Villela, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Villela foi assassinado junto com a mulher, Maria e a empregada do casal, Francisca Nascimento, em agosto de 2009. Eles levaram 73 facadas e os corpos foram encontrados três dias depois no apartamento em que viviam, na Asa Sul, já em decomposição. O crime chocou pela brutalidade e chamou a atenção do País pela sucessão de atropelos cometidos pela polícia na investigação.

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O caso passou por três delegacias diferentes, que produziram resultados distintos e está eivado de barbeiragens de investigação. Em 30 meses de idas e vindas, foram presas 14 pessoas, dez delas soltas por falta de provas. Acusados foram torturados para confessar culpa e até uma chave do apartamento do casal assassinado foi plantada na casa de inocentes para fabricar culpados. Até uma vidente foi incluída nos autos, com supostas mensagens psicografadas do ex-ministro apontando os criminosos. Mas era também uma farsa.

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Respondem pelo triplo homicídio Leonardo Campos Alves, ex-porteiro do prédio onde o casal morava, seu sobrinho Paulo Cardoso Santana e Francisco Mairlon Aguiar, além da filha do casal, acusada pelo Ministério Público de ter encomendado o crime por motivos financeiros. Presos no final de 2010, Alves e Santana confessaram ter praticado o crime para roubar, mas meses depois passaram a incriminar a arquiteta como mandante.

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O processo encontra-se em fase final de instrução para julgamento dos réus em júri popular. Dois depoimentos prestados hoje deram novo rumo à investigação, com testemunhos formais que indicam suspeita de reciclagem de depoimento dos réus. Conforme relatou o advogado, Mabel lhe perguntou se conhecia Santana. A seguir lhe pediu que explicasse ao réu as vantagens de assumir crime de mando (encomendado por mandante), cuja pena é menor, em vez de latrocínio (roubo com morte), que estipula pena de até 30 anos.


Soares disse que foi então à cela do preso, explicou os riscos de manter a versão original e descreveu o seguinte diálogo com ele: "Paulinho, a casa caiu. Se alguém mandou, entrega logo, fala tudo". Ainda conforme o relato do advogado, o réu foi taxativo: "Não doutor, ninguém mandou. Eu e o Leonardo matamos. Não teve mandante".

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A revelação acabou provocando bate boca entre o promotor Maurício Miranda e o advogado da arquiteta, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakai. Irritado, Miranda interrompeu o depoimento, acusando Soares de cometer ato antiético ao violar segredo de confissão do cliente.


Kakai, também aos gritos, protestou contra a interrupção do depoimento, alegando que a testemunha trazia um fato relevante ao processo e deveria ser ouvido. "Imoral é uma delegada induzir alguém a distorcer a investigação de um crime", devolveu. "Ela (Mabel) usou seu poder de persuasão, sua autoridade, para pedir algo criminoso ao réu", explicou.

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O defensor público Frederico Donatti considerou "muito grave" a denúncia do advogado e pediu investigação rigorosa do caso, por enxergar indícios de prevaricação no ato de Mabel. "É mais um fato grave que revela manifesta ilegalidade da delegada na condução do inquérito, enxovalhando as investigações", criticou.


O delegado Renato Santos, de Montalvânia, que teria testemunhado a tentativa de reciclagem do depoimento do réu, será convocado para novo interrogatório. Pela assessoria, Mabel negou a acusação, mas se recusou a entrar em detalhes da conversa com o advogado.


O delegado Erivaldo Ferreira, que participou das primeiras diligências disse que Alves e Santana, inicialmente, sustentavam que cometeram o crime sozinhos. "Perguntei de forma incisiva se havia mandante e eles disseram que não. Depois citei nominalmente Adriana como suspeita e eles negaram". O delegado não soube explicar porque depois de algum tempo na Delegacia de Crimes contra a Vida (Corvida), comandada por Mabel, para onde o inquérito foi desviado, os dois mudaram a versão.

A fase de audiências será fechada na próxima semana, quando serão interrogados os réus e a delegada Deborah Menezes, que fará o depoimento mais aguardado. Ela desvendou o triplo homicídio numa iniciativa pessoal, diante de falhas grotescas na investigação que transcorria na primeira 1ª DP e chegou aos assassinos, que gastavam o dinheiro do crime no interior de Minas enquanto a polícia se dispersava em pistas falsas em Brasília.


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