Um casal morador de Sarandi, no Noroeste do Paraná, viralizou nas redes sociais ao compartilhar um vídeo do primeiro encontro presencial com seus dois filhos adotivos. A realização do sonho de Reniéslei de Lima Maciel, de 34 anos, e Marlon Walter da Silva, de 32, foi vista por milhões de pessoas, que puderam conferir o vídeo compartilhado em páginas de alcance nacional.
@reniesleimaciel Em um instante mágico, nossas vidas se entrelaçaram para sempre. O momento em que nos conhecemos, corações batendo como um só. O amor transcendendo palavras, o começo de uma jornada repleta de emoções, risos e lágrimas. Nossos filhos, nossos tesouros, agora e para sempre. ❤️👨👨👦👦 #FamíliaUnida #AmorIncondicional #EncontroDeAlmas #AmorDePai #VínculosFamiliares #Adoção #NovosComeços #JuntosParaSempre #LaçosDeAmor #HistóriasDeAdoção #CrescendoJuntos #FamíliaPorEscolha #AmorSemLimites #FamíliaDiversa #AdotarÉAmar #AventuraDaAdoção #AlegriasDaAdoção #ConexõesProfundas #AdoçãoLGBT #AdoçãoTardia #AdoçãoLegal ♬ Somewhere Only We Know - K.C.P Music
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Juntos há sete anos, Reniéslei e Marlon sempre sonharam em ser pais. Por isso, quatro anos atrás, o casal tomou a decisão de adotar e os primeiros passos envolviam conquistar a estabilidade financeira, comprar uma casa e comprar um carro para ter condições de receber a criança.
"Fiz trabalhos extras e conseguimos economizar para realizar esse sonho", conta Reniéslei, que trabalha como diretor de criação.
Apesar do desejo de ter filhos, o casal divergia em um aspecto: enquanto Reniéslei queria ter dois filhos, Marlon, inicialmente, queria apenas um. O cenário, contudo, mudou quando, em agosto de 2022, ambos iniciaram o processo de adoção.
O primeiro passo envolvia, conforme conta o diretor de criação, a realização do curso "Programa de Preparação Psicossocial e Jurídica para Adoção", que é ofertado somente duas vezes por ano em Sarandi. Segundo Reniéslei, o casal teve a sorte de ser chamado para as aulas apenas um mês após o início do processo.
E foi durante as aulas do curso que Marlon mudou de ideia e passou a querer adotar duas crianças. "No curso, nos mostram várias histórias sobre crianças, incluindo aquelas que ficam por muitos anos nos abrigos por serem irmãs, já que a procura é menor. Isso acabou mexendo com ele e, como eu já tinha esse desejo, também mexeu comigo. Por isso, optamos por adotar dois irmãos", revela Reniéslei.
Após a conclusão do curso, o casal precisou providenciar documentos para continuar com o processo, como atestado de antecedentes criminais e atestado físico e mental.
Depois dos trâmites burocráticos, Reniéslei e Marlon foram avaliados pela Vara da Infância por um profissional qualificado, assim como sua residência. Após a emissão dos relatórios que atestavam a aprovação, o casal foi habilitado, no dia 18 de janeiro deste ano, a adotar as crianças.
A PRIMEIRA LIGAÇÃO
Após concordarem com a adoção de duas crianças que fossem irmãs, Reniéslei e Marlon esperaram pela primeira ligação, que chegou no dia 21 de março. "Lembro como se fosse hoje: atendi a ligação e disseram que tinham dois meninos, um de cinco e um de nove anos. Perguntaram se gostaríamos de conhecê-los e aceitamos de imediato", conta.
As idades das crianças foram as únicas informações fornecidas ao casal nesse primeiro contato. A história dos irmãos Cristopher e Saymon só foi revelada ao casal após uma semana, quando as videochamadas foram liberadas.
"No dia e horário marcado para a primeira videochamada, recebemos a ligação do abrigo. Assim que entramos, o Cristopher já disse: 'Oi, pai!' Foi impactante! O Marlon chorou a chamada toda e eu fiquei sem reação, só seguia o roteiro que escrevi de perguntas para conhecê-los."
'ELES NASCERAM COMO NOSSOS FILHOS'
Reniéslei conta que, antes do primeiro encontro presencial, ele, Marlon e os meninos se viram sete vezes por videochamadas, que foram liberadas pela Justiça devido à distância entre Sarandi e a cidade paranaense de residência das crianças - que não pode ser revelada.
"Eu digo que foi um encontro de almas. Um pouco antes de uma das chamadas, recebemos um vídeo do abrigo mostrando uma foto minha para os meninos e perguntando se eles queriam me conhecer. Chorei muito. É indescritível e inexplicável. Quando ouvi eles me chamando de pai, eu não tinha mais dúvida: eles nasceram como nossos filhos e nós, como pai deles. Daquele dia em diante, eu decidi que ia lutar com todas as forças para que desse certo", afirma o diretor criativo.
O casal precisou se deslocar até a cidade em que Cristopher e Saymon moravam apenas quando a audiência para a decisão da guarda já estava marcada. No primeiro dia da viagem, Reniéslei e Marlon visitaram os irmãos e voltaram para o apartamento que tinham alugado. Já no segundo dia, buscaram os meninos para um passeio e os levaram de volta ao abrigo no final do dia.
Após esse período, Cristopher e Saymon passaram seis dias na companhia do casal. Segundo o diretor de arte, todos cozinharam juntos, passearam e vivenciaram um tempo de qualidade, que foi essencial para que todos se conhecessem melhor.
"Tivemos que deixar os meninos no abrigo em uma segunda-feira até a audiência de terça-feira. Foi de partir o coração, mas no dia seguinte a juíza nos deu a guarda e trouxemos eles para casa, que seria a nossa casa", conta Reniéslei.
HOMOFOBIA NAS REDES SOCIAIS
A adoção de Cristopher e Saymon foi possível graças ao trabalho de uma série de profissionais. O diretor de criação conta que, ao longo de todo o processo, ele e seu marido não se sentiram discriminados por serem um casal homoafetivo.
Apesar do bom trabalho executado pelos profissionais envolvidos na adoção dos irmãos, a família teve de lidar com uma série de comentários preconceituosos que surgiram após a viralização do vídeo.
"A parte de receber comentários homofóbicos sobre nossa família foi bem difícil. O Marlon lidou bem, mas eu, que achava que era blindado contra a homofobia, fiquei mal ao ler algumas declarações, porque não foram só dois ou três, mas milhares de comentários feitos por pessoas que não têm a mínima empatia."
Reniéslei aponta que a homofobia praticada por alguns dos usuários das redes sociais ultrapassou limites. "Vimos teorias em textos enormes de que seríamos pedófilos, além do clichê que não somos um casal, muito menos uma família. Religiosos que deveriam amar o próximo foram os que mais falaram em nossas redes. Eu consegui entender como lidar com isso e agora eu não ligo mais, não me afeta", declara.
'NÃO DESISTAM!'
A história de sucesso da adoção de Cristopher e Saymon pode ser considerada uma fonte de esperança para casais homoafetivos que desejam formar uma família. O diretor de criação ressalta que não desistir é um passo fundamental para que o processo dê certo.
"A adoção é a mais linda forma de amor. Não vamos dizer que é fácil, porque não é. Mas vale cada minuto, cada centavo gasto. O sorriso deles [das crianças], ouvir 'eu te amo', cada abraço. Tudo isso não tem explicação. O amor sempre vence", finaliza.