Sonho é uma das palavras que você mais ouve de um empreendedor. Talvez na mesma proporção, você escute também frustação e resiliência.
Certa vez ouvi em uma palestra que uma das poucas coisas certas na vida de um empreendedor é justamente a incerteza com suas muitas idas e vindas.
Há quem acredite que não dá para viver assim e, por isso, busca uma vida mais estável, muitas vezes por meio do serviço público, o que é perfeitamente compreensível, sobretudo em um país com sucessivas crises econômicas e problemas crônicos de política econômica.
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Dana Meschede conhece os dois lados dessa moeda. Engenheira agrônoma, ela fundou e é a atual CEO da Dana Agro, empresa criada a partir de suas pesquisas de mestrado e doutorado que desenvolve tecnologias inovadoras em forma de produtos mais sustentáveis. Dois deles reduzem os efeitos negativos das mudanças climáticas na lavoura, como em decorrência de estresse hídrico.
O trabalho de quase duas décadas entre pesquisa, docência e desenvolvimento de tecnologia já lhe rendeu prêmios, como estar entre as mulheres mais influentes do agronegócio do Brasil segundo a Revista Forbes.
Para chegar nesse patamar, contudo, Dana precisou lidar com pressões familiares, medo do futuro e a eterna incerteza de empreender. Filha de um comerciante, Dana foi encaminhada para ser médica, mas decidiu seguir a Agronomia. Deu aulas na Universidade Estadual Paulista (Unesp) e na Universidade Estadual de Londrina (UEL) como professora substituta. Foi servidora efetiva na Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat). Deixou tudo, porém, para abrir seu próprio negócio.
Com a ajuda do irmão, construiu um prédio no interior de São Paulo para fabricar a tecnologia que desenvolveu. Em plena pandemia, entrou no concorrido mercado de produtos para tratamento de sementes e pulverização foliar. Assim como tantos outros empreendedores, gastou suas economias, endividou-se e agora luta para obter maior espaço para sua empresa.
Com sorrisos, diz que o mercado de tecnologia agrícola é formado principalmente por jovens universitários com a idade de seus filhos, mas que isso não a intimida. Com a experiência típica dos empreendedores natos e confiança que hoje a mantém inabalável, Dora acredita no potencial de suas tecnologias e no quanto ainda pode ir longe com elas.
Já dei exemplos de professores empreendedores aqui nesta coluna. Seja mantendo o trabalho em sala de aula ou dedicando-se exclusivamente ao negócio, eles têm em comum a força e a crença na ciência como um diferencial para crescer. As startups formadas a partir de pesquisa científica geralmente são robustas, pois vão além do básico benchmarking que a maioria pratica. Quando os docentes resolvem ir à campo, maior a chance de sucesso porque conhecem o assunto profundamente como poucos. Se eles têm paixão pelo que fazem, daí o sucesso é quase uma certeza.
Enquanto as salas de aula perderam uma excelente professora, o Brasil ganhou uma empreendedora nata.
Muito sucesso a você, Dora. Que bom que você decidiu pelo caminho incerto ;)
*Lucas V. de Araujo: PhD e pós-doutorando em Comunicação e Inovação (USP). Professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), parecerista internacional e mentor Founder Institute. Autor de “Inovação em Comunicação no Brasil”, pioneiro na área.