Quando o assunto é apertar os cintos para ajustar o orçamento, ficam as prioridades. Cortar o que onera, é a ordem muita gente e no caso da Páscoa, o bacalhau está fora de cogitação. Com o preço salgado, as pessoas usam a criatividade e buscam alternativas para comer bem e gastar o que podem.
Esse não é o primeiro ano em que o bacalhau não vai dar as caras no almoço da Sexta-feira Santa na casa de Leonora Marlene, 70 anos. "Muito caro", resume. Em dia com a realidade econômica, a dona de casa não é fã de desperdício e dá uma dica. "Há anos faço substituições. É perfeitamente possível". E ensina: "Eu uso filé de tilápia congelado. O pacote com meio quilo sai por R$ 12 e daí a pessoa coloca o que a família gosta. Eu uso batata, tomate, cebola e se todos gostarem, dá pra acrescentar um punhadinho de bacalhau – daqueles vendidos em lasca. Com 100 gramas, ao valor de R$ 2, já dá pra dar sabor", explica a moradora do jardim Shangri-la A, na região oeste da Londrina.
Em um supermercado dessa região, vimos os seguintes preços: o peixe do tipo bacalhau, citado por dona Leonora, sai por R$ 19,90 o quilo. E conforme a qualidade vai aumentando, o preço também: há bacalhau de R$ 28,90, de R$ 38,90 e o gadus morhua, considerado o filé do filé, por R$ 48,90.
Leia mais:
Uber defende no STF que não há vínculo de emprego com motoristas
Da tradição do café ao cinema: os ciclos da economia de Londrina
Concessão de rodovias no Paraná recebe quatro propostas; leilão nesta quinta
Confira o funcionamento do comércio de rua e shoppings durante o aniversário de Londrina
Diante das opções, no que depender da diarista Maria Inês Apolinário Salvi, 51 anos, o último da lista ficará só na vitrine. "Minha sogra é bem vivida. Tem 84 anos e sabe que com dinheiro não se brinca. Ela faz um peixe, mas não o bacalhau. São mais de 20 pessoas reunidas no almoço. Como é ela que banca, a gente nem reclama", diz. "Fica muito bom e no domingo tem um almoço bem tradicional com leitoa, frango assado e maionese de sítio. Já na quinta-feira, tomo mundo vai pra Joaquim Távora para não deixar dona Regina, a minha sogra, brava. Gosta de mesa cheia".
A auxiliar de serviços gerais Sandra Vieira, 40 anos, também abriu mão do bacalhau há tempos. "Sou simples e embora católica, estou perdendo o costume porque tudo que a gente vai fazer acaba gastando. É cada um na sua casa, cada um com suas lembranças. Pra mim, tendo um arroz, feijão e uma saladinha de pepino, já tô feliz".
No ritmo da economia, a balconista Iolanda dos Santos, 61 anos, dá uma receita para quem não pode mexer no planejamento da família. "Faço filé de tilápia ao forno e com molho. Um peixe ótimo porque não tem espinha e nem cheiro forte", indica.
Mas nesse ano, a mesa da família dela vai ter filé de salmão. "Meu irmão compra fresco e sabe onde tem preço bom. Ele faz com molho vinagrete para não ficar seco". No encontro de família de Iolanda, são 15 pessoas em torno da mesa: "É tudo dividido. Desde o churrasquinho do fim de semana até essas datas especiais. Fazemos assim porque fica bom pra todo mundo. No gosto e no bolso. Hoje não dá só para uma pessoa bancar", enfatiza. Agora para quem não abre mão mesmo do bacalhau, dona Iolanda dá uma sugestão: "Olha, a minha irmã faz todo ano. Coloca batata, azeite, azeitona preta e sempre fala que nos mercados de atacado estão os melhores preços".