Sabe aquela expressão: “não está fácil para ninguém”? Pois é, ela também está valendo para as startups, um segmento que até pouco tempo atrás estava imune às turbulências econômicas.
A lista é extensa e dos mais variados segmentos da economia: Ebanx (pagamentos internacionais) demitiu 340; Kavak (compra e venda de carros usados por aplicativos) mandou para casa 300; Facily (plataforma de compras de mercadorias em grupo) dispensou em torno de 200 colaboradores; Quinto Andar (venda e aluguel de imóveis) 160 menos trabalhadores; Olist (empresa de ecommerce que conecta lojistas com marketplaces) 150 desligamentos.
Estes são apenas alguns exemplos. Selecionei as maiores e que já chegaram na categoria dos unicórnios, as firma cujos valores de mercado ultrapassam a marca de US$ 1 bilhão. Fiz isso propositalmente, para mostrar ao nobre leitor que a crise está instalada em startups de todos os tamanhos, de todas as regiões, de todos os setores da economia.
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A explicação para esse momento nada positivo está em fatores como inflação global, escalada de juros e Guerra na Ucrânia. Estes fatos teriam supostamente gerado incertezas no mercado e segurado os investimentos, atingindo principalmente as firmas maiores que dependem de recursos vindos de fora do país. De fato, podemos observar que a situação é preocupante em todo o mundo. Não se pode ignorar o impacto que uma Guerra provoca, não só em termos de violação dos Direitos Humanos, perda de vidas humanas e ainda problemas econômicos associados a tudo isso que estamos observando. No entanto, também existem fatores internos no Brasil e outros que dizem respeito às características inerentes das startups que precisam ser levados em conta.
Primeiro que o investimento em startups no Brasil vinha apresentando números avassaladores recentemente. Nos últimos cinco anos, os investimentos em startups no Brasil foram multiplicados em 21 vezes. Em 2016, eles somavam US$ 452,2 milhões. Em 2021, alcançaram a marca de US$ 9,4 bilhões. Isso mesmo com uma pandemia mundial que reduziu drasticamente a atividade econômica, provocou falências e até hoje os países ainda tentar reverter as perdas. Evidente que não daria para segurar essa onda de bonança por muito tempo em um cenário tão negativo.
Segundo que as startups não têm caixa. O que entra em termos de recursos, é usado principalmente para contratar pessoas, comprar equipamentos, investir em marketing e vendas. Não porque as startups queiram necessariamente que seja assim, mas sim pela exigências dos próprios fundos de investimento. Estes alocam recursos com expectativa de lucrar muito em pouco tempo, exigindo das startups que não guardem os recursos recebidos no caixa, mas sim gastem com rapidez para ampliar a base de clientes e, consecutivamente, o lucro da própria firma e dos fundos, que geralmente se tornam sócios quando aplicam dinheiro.
As demissões estão em curso e pelo jeito não terão fim rápido. Resta as startups se adaptarem a essa nova realidade ;)
*Lucas V. de Araujo: PhD e pós-doutorando em Comunicação e Inovação (USP). Professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), parecerista internacional e mentor Founder Institute. Autor de “Inovação em Comunicação no Brasil”, pioneiro na área.