No ano passado, o Brasil atingiu o patamar mais elevado de toda a série histórica de endividamento, com 78% das famílias inadimplentes, segundo a Peic (Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor). Dados da Serasa Experian apontavam que no final de dezembro de 2022, o país contabilizava 69,4 milhões de pessoas negativadas e, em maio deste ano, esse número chegou a 71,9 milhões. Além do constrangimento ao cidadão, ter o nome incluído no cadastro de inadimplentes impede que ele contraia empréstimos, financiamentos, impossibilita a abertura de crediários ou a assinatura de contratos de aluguel.
Lançado no último dia 17 pelo governo federal, o programa Desenrola Brasil propõe a renegociação de dívidas e a retirada do CPF do cadastro de devedores e, assim, permitir que os brasileiros reorganizem a sua vida financeira. A expectativa do governo é que R$ 50 bilhões possam ser renegociados e 30 milhões de pessoas sejam beneficiadas na primeira fase do programa, que compreende a faixa 2, na qual estão incluídos aqueles que têm dívidas de até R$ 100 com instituições financeiras e também a população endividada que recebe salário mensal entre R$ 2.640 e R$ 20 mil. Os débitos devem ter sido contraídos no período de 1 de janeiro de 2019 e 31 de dezembro de 2022.
Mas antes de aderir ao programa, no entanto, é preciso avaliar com muito cuidado e atenção as condições propostas pelos credores. O economista Marcos Rambalducci lembrou que neste primeiro momento os bancos não são obrigados a ceder crédito ou oferecerem descontos. “É interessante para eles porque são clientes inadimplentes e eles recuperam um dinheiro que não entrava no caixa do banco. O que o banco vai fazer agora é oferecer por conta própria um desconto para o consumidor, que vai ter que analisar”, destacou.
Leia mais:
Bancos restringem oferta de empréstimo consignado do INSS
Prefeitura de Londrina vende mais quatro lotes da Cidade Industrial
Brasil fica em 46º lugar de ranking de competitividade com 66 países, diz novo índice
Planos de saúde que viraram alvo do governo lideram lucros em 2024
O programa também não pode ser visto como um meio de impulsionar a economia do país ou contribuir para reaquecer as vendas do comércio. “O Desenrola Brasil deve ser encarado como um benefício ao consumidor, não aos varejistas ou para a economia. É para ajudar o consumidor a limpar o seu nome”, disse o economista.
Para que a renegociação seja vantajosa para o consumidor, orientou Rambalducci, os descontos devem ficar acima de 25%, com juros de até 2% ao mês. E as duas condições devem estar juntas. Descontos menores somados a taxas de juros superiores a 2% deixam de ser um bom negócio. “Não adianta dar o desconto e depois te achacar na taxa de juros. Precisa saber se a taxa é compensatória para você.”
O programa prevê o parcelamento da dívida em, no mínimo, 12 prestações. O número máximo de parcelas varia para cada instituição. A Caixa, por exemplo, oferece a possibilidade de pagamento em até 90 meses. O prazo de pagamento é definido pelas instituições financeiras, não pelo programa do governo. Feita a renegociação, o nome do devedor deve ser retirado do cadastro de inadimplentes até o próximo dia 28 de julho.
Para aqueles com dívidas de origem bancária abaixo de R$ 100, o CPF deverá ser retirado imediatamente do cadastro de inadimplentes caso esta seja a única dívida pendente. Para estes, não há necessidade de fazer nenhum tipo de solicitação à instituição financeira, embora a orientação de Rambalducci é para que também procurem o banco para renegociar os valores devidos, uma vez que a retirada do nome da lista de devedores não significa o perdão da dívida. “Para dívidas menores de R$ 100, a negociação tem que ser diferenciada.” O Ministério da Fazenda estima que 2,5 milhões de pessoas estejam negativadas em razão de dívidas inferiores a R$ 100.
LEIA MAIS NA FOLHA DE LONDRINA.