A injeção de R$ 15 bilhões na Caixa Econômica Federal por meio de uma operação com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) traz um alívio em termos de capital para o banco, mas não deve ser um impulso para a oferta de crédito, acreditam analistas do mercado. A medida, assinada pelo presidente Michel Temer e publicada nesta sexta-feira, 5, no Diário Oficial da União (DOU), permitirá que a instituição cumpra as exigências regulatórias em torno de Basileia III sem passar apertos.
A operação, que ainda depende do aval do Conselho Curador do FGTS e do posicionamento do Tribunal de Contas da União (TCU), vai evitar que a Caixa precise de um socorro do governo em 2018. Na prática, atualmente, o banco público não está desenquadrado. No entanto, a implementação das regras de Basileia III, que endurecem neste ano, consome recursos, exigindo do banco mais capital.
O índice que se refere ao capital principal da Caixa, ou seja, próprio dos acionistas, estava em 8,97% no término do primeiro semestre. Pelas novas regras de Basileia, o mínimo terá de ser de 7,0% a 9,5% em 2019.
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Na visão da analista de bancos públicos da agência de classificação de risco Fitch Ratings no Brasil, Esin Celasun, os R$ 15 bilhões são positivos em termos de capital regulatório. "Os R$ 15 bilhões não são muito relevantes em relação à carteira de crédito do banco, de cerca de R$ 600 bilhões, mas apoia o crescimento porque vai permitir que banco aumente seu funding e repasse como crédito", explica ela, em entrevista ao Estadão/Broadcast.
Exatamente pela pouca relevância ante a carteira total do banco, analistas do mercado não esperam que a operação junto ao FGTS seja suficiente em termos de estratégia de concessão de crédito, principalmente do lado da habitação, que responde por cerca de 70% deste setor. "Os R$ 15 bilhões devem funcionar mais como um tapa buraco. Não resolvem o problema. A Caixa terá de reduzir a sua carteira de crédito de pessoa jurídica para voltar a crescer com mais vigor no crédito imobiliário", avalia um analista, na condição de anonimato.
Neste contexto, contribui, conforme o responsável por instituições financeiras da Fitch no Brasil, Cláudio Galina, o fato de a demanda por crédito no Brasil não estar tão forte. "Os bancos públicos não estão com tanto apetite de crédito como estavam no passado", avalia ele, em entrevista ao Estadão/Broadcast, lembrando que o cenário eleitoral também traz uma dinâmica diferente para o ano de 2018.
Galina destaca ainda que o principal desafio do banco é obter recursos para continuar aumentando sua carteira de crédito e tocando programas como o Minha Casa Minha Vida após 2018. O próprio presidente da Caixa Econômica Federal, Gilberto Occhi, tem dito que o problema do banco não é capital, mas recursos suficientes para seguir tocando as políticas do governo.
Além dos R$ 15 bilhões, o analista da Fitch lembra que a Caixa tem outras medidas que devem ser usadas para endereçar melhor a questão do capital e de sua carteira de crédito. Neste momento, o banco busca sócios para seu balcão de seguros, o que deve render uma injeção de recursos adicional na instituição, fora o esforço que fez para redução de despesas com um plano de demissão voluntária (PDV).
Outra medida que deve dar um fôlego extra para a Caixa é a retenção de recursos. Depois de um ano com lucro recorde, o banco deve reter mais resultado, como já fez nos últimos anos. Para 2017, segundo fonte ouvida pelo Estadão/Broadcast, a Caixa espera pagar no máxima 25% do seu lucro líquido ajustado, como já fez no ano anterior. O porcentual é menor que os cerca de 50% registrados em 2015, que também estiveram abaixo do patamar de 100% que vigorou entre os anos de 2011 e 2014.
A divulgação será feita, contudo, depois de uma sequência de atrasos nos balanços. Com isso, os números do terceiro e quarto trimestre de 2017 - e os dados anuais - devem ser publicados em conjunto nos próximos meses.