Uma semana após a solenidade de anúncio sobre os investimentos de R$ 185 milhões para reforma e ampliação do Aeroporto de Londrina, o Decea (Departamento de Controle do Espaço Aérea) da FAB (Força Aérea Brasileira) informou que não tem previsão de aquisição e instalação do ILS CAT I no terminal. O instrumento, com siglas em inglês, auxilia os pilotos em procedimentos de pousos em condições adversas de tempo na aproximação com a pista do aeroporto. A informação foi revelada pela RPCTV e confirmada pela Folha de Londrina nesta sexta-feira (1º).
O Decea concluiu que os procedimentos de aproximação por instrumentos atuais já atendem às necessidades operacionais para a cabeceira 13, que é a de uso preponderante para pousos e decolagens do aeródromo, o que possibilita aos usuários capacitados em voo por instrumento regularidade, segurança e fluidez das operações aéreas. Ou seja, o órgão da Força Aérea descarta, neste momento, a substituição pelo ILS. Quanto aos questionamentos sobre aquisição e instalação, a Força Aérea esclarece que "não cabe ao Decea a obrigatoriedade de aquisição e instalação do referido equipamento", diz a nota enviada pela FAB.
Já a CCR Aeroportos, concessionária que administra o aeroporto de Londrina, informa que o contrato aponta que apenas os custos para obras de infraestrutura para receber o instrumento são de responsabilidade dela, como foi anunciado em evento no Aeroporto de Londrina no dia 24 de agosto.
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Em nota enviada à imprensa, a CCR aponta que a concessionária será responsável pelos custos decorrentes da eventual realocação de instalações e de infraestrutura para receber o ILS. A empresa informou que as únicas exceções que são de responsabilidade previstas em contrato são equipamentos de auxílios visuais e elencou: "PAPI, VASIS, ALS, balizamento de pista de pouso e de taxi, luzes de eixo de pista de pouso e de eixo de pista de taxi, luzes de zona de toque, barras de parada, farol de aeródromo e biruta".
No evento de anúncio de investimentos, o prefeito Marcelo Belinati (PP) lembrou que a Prefeitura já destinou R$70 milhões na desapropriação de imóveis no entorno, viabilizando as obras de ampliação de pista e que um dos objetivos principais seria viabilizar a instalação do ILS. Embora o anúncio cause temor, em entrevista nesta sexta-feira, o prefeito informou que o instrumento de segurança está garantido pelo Governo Federal. "Essas obras de adequação do terminal serão feitas pela concessionária e assim que elas estiverem andando, a CCR fará a solicitação ao órgão da aeronáutica e só depois disso eles autorizam ou não a aquisição. Eu conversei com várias autoridades federais que me garantem que Londrina terá sim o ILS", disse Belinati.
O prefeito avalia que a solicitação à FAB deve ser feita apenas quando o terminal estiver de fato adaptado para receber o instrumento de segurança. "Tem que se feitas as obras e, a partir do momento que elas avançarem, é o momento de fazer uma solicitação formal do aeroporto para aquisição do ILS. O aparelho não será da concessionária e sim de segurança de voo da aeronáutica. Londrina, no momento adequado, terá o ILS." afirma.
ANÁLISE
O ILS é tido por especialistas como necessário para diminuir cancelamentos de voos em dias de chuva e neblina. Para o professor de Arquitetura e Urbanismo da UEL (Universidade Estadual de Londrina), André Silvestri, a postura do órgão da FAB é 'estranha', diante do histórico de cancelamentos no terminal e dos debates realizados sobre o tema inclusive pela ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) . "Não entendi a origem desse documento. A maioria dos aeroportos do nordeste que não tem as mesmas condições climáticas, já possuem o ILS. Eu não vejo justificativa para esse posicionamento, pois até a própria ANAC elaborou um edital solicitando o instrumento", avalia o especialista em construção de aeroportos.
O professor lembra que desde 2013 havia compromisso firmado pelo próprio Decea prevendo a instalação do instrumento até 2019, mesmo antes do processo de concessão do aeroporto à iniciativa privada. "O ILS não traz 100% de garantia, mas é fundamental para operacionalidade do aeroporto. O ILS será instalado na cabeceira contrária e a pista volta a ter 2.100 metros e será mais segura para correr a aeronave em melhores condições. O ILS já está há muito tempo programado e o contrato prevê que a CCR já deixará todas essas bases preparadas. O instrumento é fundamental para Londrina e é lamentável essa nota diante do histórico que o terminal tem" .
O especialista ainda ressalta que as desapropriações de imóveis, que custaram milhões aos cofres públicos, foram feitas com base em normas internacionais e por exigência da Infraero. "O cálculo foi feito para receber o ILS e regula a distância do eixo da pista de táxi e o eixo da pista de rolamento -que é a pista de pouso e decolagem. Quando você coloca o ILS, você avança 158 metros e avançou pelas casas que tinham lá. O ILS foi gerador da desapropriação de casas. Se vierem dizer que não tem mais necessidade, quem pagará essa conta?", questiona.
A previsão da CCR é que as melhorias anunciadas na semana passada sejam entregues até o final de 2024 e incluem a adequação das áreas de escape na pista, reforma e ampliação do terminal de passageiros e implantação de duas pontes de embarque. construção de de um novo pátio para seis aeronaves e uma nova estrutura de SCI (Seção Contra Incêndios), além da instalações do ALS e ILS.