Economia

Na retomada, lojista encontra cliente inseguro e adaptado às compras virtuais

09 jun 2020 às 08:58

Além de enfrentar uma crise financeira, empresários que estão reabrindo seus negócios têm de lidar com clientes que se sentem inseguros ao voltar às ruas e que se acostumaram a fazer suas compras pela internet durante a quarentena.

Depois de autorizada a retomada, o empreendedor deve avaliar se vale a pena abrir as portas. Ele deve voltar no momento em que manter o nível de atividade custar menos do que ficar com a empresa fechada, diz Bruno Quick, diretor técnico do Sebrae.


Uma possibilidade é retornar gradativamente, simplificando o atendimento da empresa, com redução no horário, quadro de funcionários e mix de produtos. Também é importante administrar todos os custos para não ficar com o fluxo de caixa negativo.


Não adianta reabrir a empresa achando que ela vai voltar exatamente como era antes, diz Ligya Aliberti, diretora da consultoria Multivias. É preciso reinventar o negócio, adaptando-o às mudanças do mercado e aos novos hábitos dos consumidores, diz ela.


Não é possível tirar o pé do mercado digital agora. Vai ser necessário administrar a atividade presencial e a remota, afirma Quick.


Aqui, tenho certeza de que não vamos voltar ao normal, diz Luiz Henrique Mendes, 55, dono da Fralda & Cia, loja de artigos para bebês em São José do Rio Preto (SP), no interior paulista.


O estabelecimento de 900 m² reabriu na última segunda (1º), com permissão para funcionar durante a semana, das 9h às 13h. O movimento chegou à metade do que a loja tinha antes da pandemia, conta o empresário.


Nos dois meses em que a casa permaneceu fechada, as vendas começaram a ser feitas pelas redes sociais e pelo WhatsApp, com entregas em domicílio ou por drive-thru.


A empresa passou a usar uma plataforma digital para comercializar produtos para chás de bebê. Isso garantiu que 50% do faturamento mensal fosse mantido e que não houvesse demissões na equipe de 15 funcionários.


Nós aprendemos novas formas de vender, e os clientes já se acostumaram com isso, afirma Luiz Henrique.


Também houve mudança no fluxo e no comportamento do consumidor nas lojas da empresária Giovana Giostri, 34, que tem franquias da Calçados Bibi em dois shoppings de Curitiba e um de Ponta Grossa, no Paraná.


As pessoas vêm, fazem uma compra rapidinho e vão embora. Não tem mais aquela coisa de passear, diz ela.


Aberta há mais de 40 dias, a loja de Ponta Grossa está operando em horário reduzido. Alguns funcionários estão com o contrato suspenso, e postos temporários não foram renovados.


O faturamento da unidade caiu 50% em comparação com o cenário anterior ao coronavírus, afirma Giovana.


Durante este período, as administradoras dos shoppings deram descontos em custos como condomínio, fundo de promoção e aluguel.


A empresária espera que a medida se estenda por mais alguns meses. Para conseguir manter a loja tem que ter ajuda do shopping. O valor do aluguel é alto, e o preço de antes não vai mais ser viável, principalmente se o fluxo de clientes continuar reduzido.


Segundo Giovana, 40% do faturamento da unidade de Ponta Grossa está vindo de entregas de produtos em domicílio, mesmo depois da reabertura da loja física. É uma realidade que veio para ficar, diz.


No primeiro dia de funcionamento do restaurante Saikoo Sushi Lounge, em Barretos (SP), na terça-feira (2), a casa alcançou sua ocupação completa, que agora é de 45 pessoas, o equivalente a 50% da lotação pré-pandemia.


A gente ficou esperançoso com a casa cheia, mas ainda não sabe como vai ser. Às vezes, é o boom do começo, diz Fabrício Rocha, 35, dono.


Na nova realidade, as mesas precisam estar a uma distância de dois metros umas das outras e comportar no máximo quatro clientes, de acordo com as regras locais. Isso é exigido porque os fregueses não conseguem comer ou beber usando máscaras mas são orientados a recolocá-las ao se levantarem das mesas.


O espaço de 150 m², dividido entre salão e área externa, permitiu que o restaurante acomodasse 15 mesas com a nova formatação.


Mas o espaçamento pode se tornar um desafio para casas menores, dificultando que os custos de funcionamento sejam cobertos.


A gente pode esquecer lucro para este ano. Não vamos ter. Nosso foco agora é tentar pagar as contas e os funcionários. Esperamos ir aumentando aos poucos a capacidade, afirma Fabrício.


Entre as medidas de segurança em prática estão a higienização da máquina de cartão de crédito, a medição da temperatura da equipe e a comunicação de procedimentos adotados (incluindo uma cópia do decreto municipal).


A casa também tem procurado trabalhar com reservas para o primeiro horário do jantar, que começa às 19h, para evitar aglomerações.


Há duas coisas importantes: a segurança e a percepção de segurança. Por isso a comunicação é tão importante. As pessoas estão com uma sensação de risco à saúde, e a segurança seguirá como requisito de escolha, diz Bruno Quick, do Sebrae.


É preciso que as medidas de proteção estejam sinalizadas com clareza em avisos dentro do estabelecimento, orienta a consultora Ligya Aliberti. Também devem ser divulgadas nas redes sociais da marca.


Para passar mais confiança aos consumidores, o próprio empreendedor pode gravar vídeos para explicar o que está sendo feito, sugere ela.

O mais importante, diz Quick, é treinar bem a equipe e fazer lembretes diários com todas as medidas até que elas virem uma cultura.


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