Os agricultores não se conformam com a brutal queda no preço do milho, que começou na segunda quinzena de dezembro, antes mesmo da entrada da nova safra. O preço desabou de R$ 10,50/R$ 12,00/saca, em outubro, para R$ 7,00/7,30, ou menos, esta semana.
Analistas de mercado, dirigentes de indústrias e cooperativas, cada um tem uma explicação para o fato. Mas, há pelo menso dois pontos em comum: erro nas informações sobre os estoques da safra anterior e ausência de uma política de sustentação de preços ao produtor.
Só a primeira safra de milho, que começa a ser colhida no Paraná deverá render uma produção de 7,8 milhões de t. Volume semelhante a esse não é colhido desde a safra 94/95, denominada "a safra do Real", que rendeu 7,5 milhões de t. A safra de milho deste ano foi favorecida pelo aumento da área plantada, que avançou para 1,8 milhão de ha e pelo clima que ficou regular este ano.
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Além do aumento da área plantada, a produção esperada é maior este ano em função da reavaliação dos índices de produtividade, que avançou de 3,8 mil kg/ha para 4,2 mil kg/ha. A reavaliação foi feita por técnicos do Deral, que perceberam que o agricultor paranaense está investindo mais na cultura para elevar os índices de produtividade.
De acordo com a engenheira agrônoma Vera Zardo, atualmente existe uma ótima tecnologia disponível para o plantio de milho e o agricultor está consciente que precisa recorrer a este mecanismo para se manter competitivo no mercado. O aumento do uso de tecnologia e dos níveis de tecnologia foi constatado até nas áreas onde predomina a agricultura familiar, acrescentou.
Versão da indústria
Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria Processadora de Milho (Abimilho), Nelson Kowalski, a queda no preço do produto foi causada basicamente por dois fatores: primeiro, a frustração da safra de trigo. "Como o trigo perdeu qualidade, acabou sendo utilizado para ração, no lugar do milho". O segundo motivo foi uma falha nas informações sobre os estoques do produto. Houve sonegação de informação da iniciativa privada sobre os seus estoques, acredita ele. Por causa dessa sonegação, criou-se uma expectativa de entrar na safra com o estoque de milho zerado. Como isso não aconteceu, o preço despencou antes mesmo da nova colheita.
Para a indústria, no entanto, a queda do preço do milho não é interessante. Kowalski alega que os consumidores hoje são bem informados e com as notícias da queda do preço do produto in natura, eles fazem pressão para que o produto industrializado tenha uma redução nos mesmos níveis. "O consumidor final não chega a sentir uma queda tão expressiva no preço, mas a briga entre as cadeias produtivas fica acirrada", conta o presidente da Abimilho. A indústria moageira (moagem a seco e úmido) deve consumir esse ano algo em torno de quatro milhões de toneladas de milho.
Para o presidente da Associação de Abatedouros e Produtores Avícolas (Avipar), Paulo Muniz, a substituição do milho por triguilho já não está interferindo na queda do preço do produto. "Essa substituição teve um reflexo no mercado de milho no fim do ano. Hoje essa interferência já foi absorvida", analisa.
Para Muinz aquilo que seria aparentemente uma vantagem -a queda de preços - acaba sendo prejudicial a longo prazo para os produtores de aves. "Conseguimos produzir um frango mais barato esse ano, mas no ano que vem os produtores acabam não plantando milho e o preço volta a subir", considera.
O gerente comercial da Coopagrícola - Cooperativa Agrícola Mista de Ponta Grossa, Silvério Laskos, também acredita que a sonegação de informações sobre estoques foi a grande vilã para o preço do milho na atual safra. Na Região dos Campos Gerais, a colheita deve ser 30% maior esse ano. "Como havia uma boa expectativa para o preço, muitos produtores voltaram a plantar milho", explica Silvério. A expectativa, no entanto, foi frustrada. "Se o preço continuar caindo os cooperados terão que armazenar o milho e esperar uma época melhor para comercializar", diz Silvério. Os armazéns da Conab no Paraná têm hoje 34 mil t de milho, volume considerado pequeno.
A expectativa é que a safra de milho ocupe a rede de armazéns do estado, que estavam ociosos nos últimos anos. O Paraná está se preparando para colher uma safra de grãos que deve atingir 19,33 milhões de t, segundo o Deral. Apesar da safra "cheia", nem tudo vai para armazenagem.
A safra de soja só passa pelos armazéns, para beneficiamento e limpeza, antes de ser enviada ao porto para exportação. Em função disso, a logística que deverá haver com a entrada da soja e do milho poderá ocorrer problemas localizados de armazenagem. O algodão, que é colhido nesta mesma época é destinado para beneficiamento em usinas das cooperativas e de particulares. E o feijão vai para os armazéns de cerealistas no Interior do Estado.