A Sociedade Protetora de Vida Selvagem (SPVS) encaminhou esta semana para a Secretaria Estadual de Agricultura um documento em que alerta sobre o risco de a Estrada do Colono servir como porta de entrada para a febre aftosa no Paraná. Como não há fiscalização e barreira sanitária na estrada, os ambientalistas temem que carne clandestina da Argentina acabe circulando. Além de atingir o rebanho bovino, outro risco seria a contaminação de algumas espécies de animais que vivem no Parque Nacional do Iguaçu, como os cervos e veados.
Estes animais não são vacinados e, eventualmente, poderiam ser contaminados, conforme atesta o doutor em Ciências Biológicas da Universidade Paranaense (Unipar), José Ricardo Pachaly. Atendendo a um pedido da SPVS, ele encaminhou parecer que diz: "A situação (trânsito de carros argentinos pela estrada) representa um ponto de fragilidade em termos da sanidade da população de ungulados artiodáctilos (cervos e veados) domésticos e selvagens, havendo risco potencial de contaminação dessas populações pelo vírus da febre aftosa".
Em um documento encaminhado à SPVS, o professor recomenda que haja uma consulta aos técnicos da Secretaria de Agricultura com a finalidade de obter um posicionamento oficial sobre "os riscos mencionados". Ele ressalta, no entanto, que sua avaliação é "genérica" a respeito da problemática da Estrada do Colono.
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O diretor-executivo da SPVS, Clóvis Borges, alerta para as consequências de não se fiscalizar bem a área. "Partimos de uma suposição de risco em potencial. Não estamos falando que poderá haver a contaminação dos animais do parque, mas temos de fazer um alerta", afirma. Borges cita o exemplo do Pantanal, onde há casos de brucelose, doença típica de bovinos, em cervos da região.
A Secretaria da Agricultura assegura que o risco de contaminação dos animais do Parque Nacional do Iguaçu com vírus da febre aftosa, pela Estrada do Colono, é inexistente. "A estrada não fica na fronteira com a Argentina. Antes de chegar lá, os argentinos têm de passar, obrigatoriamente, pela alfândega em Capanema. Ali há uma forte barreira. Ninguém passa sem ser vistoriado", explica o diretor do Departamento de Fiscalização da Secretaria da Agricultura, Luis Carlos Hatschbach.
Ele descarta a possibilidade de colocar fiscais no início da Estrada do Colono, por considerar o procedimento desnecessário. "O trânsito vindo da Argentina está sendo fiscalizado 100%", reforça. Ele diz que não há estradas secundárias. Há ainda o rio Santo Antônio, com 150 metros de largura, que impede a passagem.
Segundo o diretor, há 35 fiscais da Secretaria da Agricultura e da Claspar (departamento de classificação de produtos do Paraná), 45 soldados do Exército, três Urutus (semelhantes ao tanque de guerra), quatro Jipes e uma caminhonete de apoio. Esse grupo se reveza em 39 pontos de fiscalização que vai de Capanema até Barracão. Hatschbach diz que há equipes nas estradas, mas também há fiscais circulando dentro das fazendas que fazem fronteira com propriedades argentinas.
O secretário-executivo da Associação de Integração Comunitária Pró Estrada do Colono (Aipopec), Marcos Pagani, também descarta a hipótese de a estrada servir como local para escoamento de carne clandestina. "Os veículos que vém da Argentina não tem acesso à Estrada do Colono sem antes passar pela fiscalização alfandegária brasileira", afirma. Ele admite que caminhões circulam pela estrada, que pela Justiça deveria estar fechada por tratar-se de uma rodovia dentro de um parque nacional considerado patrimônio da humanidade pela Unesco. Pagani ressalta que sem passar pela alfândega de Capanamena não é possível chegar na estrada, pois o acesso seria pelo Rio Santo Antônio, que tem 150 metros de largura.