O produtor de leite que não modernizar o sistema de produção na propriedade e não adotar higiene na hora da ordenha, terá seu produto rejeitado na indústria. Essa regra começa a valer com a entrada em vigor da nova legislação sobre o setor leiteiro que vai exigir adaptação e investimentos por parte dos produtores. Porém, a alteração que pode provocar maior impacto será a mudança cultural, acredita o representante dos produtores Ronei Volpi que é presidente da Comissão Técnica de Produtores de Leite da Federação da Agricultura do Paraná (FAEP).
Em Curitiba, representantes de Indústrias, de Produtores e Técnicos debateram a implantação do Programa Nacional de Melhoria da Qualidade do Leite essa semana, durante a realização do II Simpósio Internacional de Qualidade do Leite. O representante do Ministério da Agricultura, Marion Ferreira Gomes falou sobre a legislação que entra em vigor.
Para Volpi, representante dos produtores, a adaptação que prevê a instalação de novos equipamentos nas propriedades não será dificil. " Difícil vai ser a adaptação para o produtor que não está acostumado a submeter sua produção a testes de laboratórios". " Isso exisge uma mudança cultural", acrescenta.
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Isso porque, além dos resfriadores na propriedade passa a vigorar tambem a exigência de exames laboratoriais na indústria que vão indicar a qualidade do leite. O produto que for entregue com elevada taxa de bactérias que indica a falta de higiene na ordenha e manejo inadequado com os animais, será rejeitado pela indústria.
O Programa Nacional de Melhoria da Qualidade do Leite coincide com a nova legislação que entra em vigor a partir de 1º de julho de 2002 nos estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. A partir de 1º de julho de 2004, entra em vigor nos estados das regiões Norte e Nordeste.
Com a nova legislação, o leite Tipo C será extinto dando lugar ao leite cru refrigerado. Para isso, será fundamental que os produtores se enquadrem em regras de educação sanitária, higiene na ordenha, sanidade do rebanho, eletrificação rural, melhoria das vias de acesso às propriedades e refrigeração rápida do leite na fazenda, detalhou Gomes. O resfriamento do leite na fazenda vai exigir a instalação de resfriadores, onde a temperatura mínima exigida é de 7ºC. Com isso pode-se evitar a proliferação das células bacterianas que podem inviabilizar a entrega do leite na indústria.
Esse equipamento está à venda no mercado a partir de R$ 3 mil para um resfriador de 300 litros aproximadamente. Os micro e pequenos produtores que não podem investir na compra de um resfriador pode ter acesso à esse equipamento através de associações de produtores ou coooperativas, disse Volpi. A linha de crédito Pró-Leite, disponível no Banco do Brasil, financia esse tipo de equipamento com juros anuais de 8,75% ao ano e prazo de 36 meses para pagamento e carência de três a seis meses. Além disso, Volpi sugere que o financiamento pode ser feito pelo Pronaf para os micro-produtores.
No entanto, é fundamental que além do equipamento o micro-produtor pense também em reformular o sistema de manejo com os animais na propriedade e também na hora da ordenha, que seja feita com muita higiene. "A falta dela será revelada na hora dos exames de laboratório", avisa Volpi.
Gomes admite que todas as mudanças são difíceis no início. Segundo ele, existe uma cultura de décadas que terá que ser revertida. " O produtor irá se conscientizar que as mudanças são necessárias e quem não se adequar ficará em dificuldades, pois será difícil encontrar compradores para a sua produção", alerta. Gomes lembra que a modernização da produção de leite é necessária para que haja uma matéria prima de melhor qualidade e o país possa se tornar competitivo neste setor. Também o consumidor terá um produto de melhor qualidade microbiológica e os produtores receberão pagamento pela qualidade do leite.
O Ministério da Agricultura está empenhado em acabar com o leite informal ou clandestino que é um dos graves problemas que existe no país, declarou Gomes. Segundo ele, muitas doenças que ocorrem hoje como tuberculose, alergias e outras podem ser vinculadas através do consumo desse tipo de produto. Além disso, o consumidor pode estar adquirindo um leite fraudado, seja através da adição de água ou conservantes muitas vezes nocivos à saúde. Gomes lembra que a redução do leite clandestino vendido no país será possível com a ajuda dos próprios consumidores. " Se esse leite existe é porque tem gente comprando", lembra.
A indústria, por sua vez, deverá investir na coleta de leite a granel através de caminhões tanques. A coleta do leite cru refrigerado ocorrerá a cada 48 horas que deverá proporcionar uma economia de transporte, que poderá ser revertida para o pagamento ao produtor, sugere Gomes.
Para monitorar a qualidade do leite que chega na indústria, o Ministério da Agricultura vai credenciar laboratórios que façam esse tipo de trabalho. No Paraná, o laboratório da Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (APCBRH), já vem fazendo esse tipo de monitoramente à pedido das cooperativas do Estado. Os exames que medem a qualidade do leite são feitos em parceria com a Universidade Federal do Paraná.
Os laboratórios oficiais do Ministério e as unidades credenciadas farão a contagem de células somáticas e monitoramento do índice de bactérias. Com isso, os produtores serão orientados a fazer correções no manejo dos animais, nas condições higiênico-sanitárias de produção e pagamento do leite pela sua qualidade.
Atualmente as cooperativas Clac, Witmarsum, Batavo, Castrolanda, Arapoti Cativa e Sudcoop, responsáveis por 60% do leite captado no Estado já estão pagando por qualidade, o que obrigou o produtor a melhorar o sistema de manejo e sanitário na propriedade. Quando a produção de leite estiver "granelizada", o país estará apto a exportar o produto. O Brasil ainda importa 10% da produção nacional de leite, o equivalente à produção paranaense que é de 1,9 bilhão de litros por ano. O país está produzindo em torno de 20 bilhões de litros por ano e consumindo 22 bilhões de litros.