Uma segunda lavoura de soja transgênica foi interditada nesta quinta-feira pela Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento. A propriedade fica no distrito de Divisa, em São Mateus do Sul (Sul do Paraná). De acordo com o agrônomo André Vallim, que participou da ação, os quatro hectares cultivados na propriedade seriam suficientes para plantar outros 200 hectares do grão geneticamente modificado para a próxima safra.
A propriedade pertence ao agricultor Iberê Becker de Oliveira, que afirma ter comprado o grão de um vendedor ambulante que usava um automóvel com placa do Rio Grande do Sul. Oliveira foi denunciado por vizinhos, que viram o agricultor aplicar sobre a lavoura um glifosato (herbicida) específico para produto transgênico e proibido no Paraná.
Por causa disso, o agricultor vai responder a dois processos administrativos estaduais: um por plantar alimento transgênico – atividade que é considerada crime no Brasil – e outro por uso de agrotóxico não autorizado no Estado.
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Segundo os técnicos da secretaria, existe uma forte suspeita de que o grão foi adquirido de um comerciante de Canoinhas (SC), cidade próxima da lavoura ilegal, e que Oliveira estaria cultivando a semente para vender a agricultores vizinhos. O agricultor nega. Segundo ele, que não vê crime nenhum no cultivo de transgênicos, a finalidade da plantação era servir de ração animal.
A equipe da Secretaria da Agricultura ainda vai visitar outras três propriedades suspeitas de cultivar soja transgênica em São Mateus do Sul, para colher amostras para análise laboratorial. O material é coletado de locais mapeados por GPS (equipamento de georeferenciamento).
Caso se confirmem as suspeitas, as lavouras terão o mesmo destino que as outras duas já identificadas: interdição, até nova orientação do Ministério da Agricultura.
A outra lavoura interditada fica em Toledo (Oeste do Paraná), onde também existem seis casos suspeitos. Em São Mateus do Sul, são oito propriedades suspeitas, das quais três pertencem a familiares do agricultor Iberê Becker de Oliveira. Amostras dessas propriedades já foram enviadas para análise.
Também há indícios na região de Irati e Guarapuava. Além disso, laudos laboratoriais emitidos pela Universidade Federal do Paraná confirmaram a existência de lotes de sementes de soja ilegal em nove municípios – oito na região de Londrina (Norte) e um em Cambará (Norte Pioneiro).
De acordo com o agrônomo Levi Barbosa, um dos objetivos da Secretaria da Agricultura para prevenir o plantio de mais lavouras transgênicas é organizar reuniões de esclarecimento com as comunidades de agricultores. "Mas agora nossa atenção está totalmente voltada para a identificação das áreas que já estão plantadas e impedir que o grão seja colhido e comercializado", explicou.
Barbosa disse que o trabalho é difícil porque não conta com o apoio da vigilância sanitária vegetal dos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, de onde estariam vindo os grãos e as sementes ilegais. "Se esses Estados não organizarem sua fiscalização, nosso trabalho ficará cada vez mais difícil", completou.
Além de ser considerado crime no Brasil, o plantio de plantas transgênicas representa um outro problema grave: inviabiliza o comércio internacional. Os países da União Européia compram do Brasil por causa da garantia do não cultivo de organismos geneticamente modificados, que não são aceitos em seu território