O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e a Comissão Pastoral da Terra protocolaram no Ministério Público Federal, em Curitiba, uma representação contra o superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária do Paraná (Incra), José Carlos de Araújo Vieira, alegando uso indevido de dinheiro público.
As duas entidades, que formam o Fórum Nacional Pela Reforma Agrária e Justiça no Campo, acusam Vieira de ter desviado verbas oficiais para o financiamento de matérias do jornal Folha de S. Paulo, contrárias ao movimento.
O Incra rebate afirmando que não executou nenhum operação irregular. O Ministério Público tem ainda dez dias para acatar ou não a representação dos sem-terra.
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De acordo com um dos coordenadores nacional do MST, José Damasceno de Oliveira, o jornalista da Folha de S. Paulo, Josias de Souza, teria usado a infraestrutura do Incra regional, que cedeu um carro e pagou diárias de um motorista para levá-lo aos assentamentos do MST. Damasceno apresentou um requerimento de diária do motorista Benedito Malaquias Ribeiro, no qual informa que R$ 128,86 devem ser pagos pelo trabalho de transportar o diretor da Folha de São Paulo aos assentamentos de Águas de Jurema, Recanto Estrela e Ireno Alves dos Santos, no interior do Paraná.
Na série de reportagem da Folha de São Paulo, iniciada em 14 de maio, dirigentes dos sem-terras são acusados de cobrar uma tarifa de 3% sobre o dinheiro federal repassada para cada assentado.
A Folha do Paraná tentou obter uma posição sobre o assunto do jornal paulista. Na cidade de São Paulo, sede da empresa, a orientação foi que se procurasse Josias de Souza, na sucursal em Brasília. Nas quatros tentativas, Souza estava sempre ao telefone e uma secretária prometia ligar novamente, tão logo o jornalista desligasse. Até o fim da edição não houve retorno.
A advogada do MST, Teresa Cofren Rodrigues, disse que a reportagem da Folha foi orquestrada pelo governo federal. Ela afirmou que as solictações de sindicância e abertura de processos públicos na Polícia Federal e Ministério Público Federal se baseia nas reportagens. ""Com base nessas matérias, o Incra abriu uma sindicância, que cancelou a assistência técnica dos assentamentos, feita pela cooperativa Lumiar, e causou a demissão de 55 profissionais"", acrescentou José Damasceno.
O advogado da Comissão Pastoral da Terra, Darci Frigo, disse que os gastos do Incra com a Folha de S. Paulo podem ter sido maior. ""Não conseguimos provar, mas queremos saber se o governo não gastou dinheiro com a hospedagem ou com a vinda dele de Brasília"", disse.
Frigo disse que o MST quer que José Carlos Vieira restitua o dinheiro gasto. ""Contra o jornalista a ação é política"", afirmou. Ontem, um grupo ligado ao sem-terra entregou uma carta de protesto à direção da Folha de S. Paulo.
Para o Incra, a assessoria de imprensa informou que o financiamento da reportagem foi normal e legal. O pagamento de diária teria sido feito para ajudar o jornalista, que pretendia alugar um carro. No entanto, afirmou a assessoria, como Josias de Souza não conhecia a região foi cedido um carro, para levá-lo em áreas estipuladas por ele.