Produtores de leite da região Noroeste do Paraná estão revoltados com a queda no preço do produto nos últimos 50 dias. Afirmam que no mês passado, receberam 30% menos do que recebiam no mês de setembro e não sabem quanto vão receber este mês.
Em Goiás, outra grande região produtora de leite, a queda no preço pago ao produtor chegou a 40%. Os produtores atribuem essa derrocada nos preços do leite à importação excessiva que abarrotou o mercado de leite e derivados.
Os produtores estiveram reunidos, nesta terça-feira, no Sindicato Rural de Paranavaí e estão programando um encontro de contas com a indústria na próxima semana, em Maringá.
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O produtor José Edgard Pereira, secretário da Associação de Produtores de Leite do Noroeste, disse que os produtores vão pedir às indústrias o estabelecimento um preço mínimo para o leite e a divulgação com antecedência do preço do produto que será pago no mês. Conforme o sistema atual, os produtores entregam o produto e somente depois de fechado o mês, ficam sabendo quanto vão receber pelas entregas já realizadas.
O produtor da região de Paranavai, Marcos Ebenezer Teixeira, que tem uma produção de 800 litros de leite por dia, disse que os produtores da região receberam entre R$ 0,40 e R$ 0,45 o litro no mês de setembro. Em outubro, o preço caiu para R$ 0,29 o litro. O temor agora é quanto vão receber em novembro.
Segundo Teixeira, os produtores estão revoltados porque enquanto o valor da produção nacional de leite está em queda livre, nos meses de setembro e outubro foram importados 300 milhões de litros de leite do Mercosul, sendo que o custo desta importação ficou entre R$ 0,45 e R$ 0,53 por litro, ou seja, mais do que o preço pago ao produtor nacional.
Pereira disse ainda que enquanto o governo federal libera R$ 200 milhões para as indústrias de laticínios fazerem estoques para que os preços dos produtos derivados de leite não caiam no mercado no período da entressafra, os produtores estão amargando sozinhos a queda nos preços do leite, sem nenhum tipo de apoio por parte do governo.
Para Nelson Costa, assessor da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), as cooperativas que recebem e industrializam o leite são repassadoras e não formadora de preços. "Além disso, as cooperativas são defensoras da produção nacional." Costa esclareceu que as importações não são feitas nem pelas cooperativas nem pelas indústrias de laticínios. Na maioria das vezes essas operações são feitas por escritórios comerciais sem qualquer vinculação com as indústrias. "São os chamados sem-fábricas que importam e negociam direto com o varejo", explicou.
Costa disse que os titulares desses escritórios não têm compromisso com os produtores como têm as cooperativas e por isso não estão preocupados com os baixos preços pagos ao produtor. Ele estima que para o mês de dezembro, os produtores vão receber bem menos, em torno de R$ 0,25 o litro, que ficará abaixo dos custos de produção.
O problema é que no varejo, muitas redes de supermercados estão utilizando o leite como arma para atrair o consumidor e vender outros produtos. Na última sexta-feira, o preço do leite estava sendo ofertado por R$ 0,68 o litro no supermercados Condor e R$ 0,74 o litro no Mercadorama, em Curitiba. "Se continuar essa maré baixa, vai ser difícil para as cooperativas sustentarem o preço de leite ao produtor", avisou.