O setor produtivo do Paraná não se abalou com a posição da União Européia (UE), em não negociar os subsídios agrícolas dados aos agricultores europeus. A Federação da Agricultura do Paraná (Faep) já esperava por isso e defende a posição que a manutenção dos subsídios na Europa pode ser compensada com a retirada das tarifas de importação e com a redução do Custo Brasil.
O diretor da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara, acha que com a manutenção dos subsídios na Europa dá para conquistar apenas mercados parciais, ou seja "comer pelas beiradas". Ortigara lamenta a radicalização da posição européia, porque "desta forma fica difícil evoluir as negociações de parceria entre Mercosul e União Européia", declarou. "Só a redução das tarifas de importação não basta para tornar os produtos brasileiros competitivos. A Europa tem que ceder mais", acrescentou.
Segundo Ortigara, o Brasil não tem recursos financeiros para bancar subsídios a seus agricultores. Portanto, se a União Européia está procurando firmar sua parceria com o Mercosul, deverá negociar a redução dos subsídios e das barreiras alfandegárias. "Aliás, essa é a proposta do Brasil ao grupo de Cairns, na Organização Mundial do Comércio (OMC), que não avançou até agora", disse.
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Ortigara destacou que o Paraná tem amplo potencial para ser fornecedor de alimentos para a Europa, desde que eles flexibilizem a posição com relação as artificialidades nos preços dos produtos europeus. Ele lembrou que produtos como frango, soja, milho, carnes bovina e suína, e açúcar ficariam bem mais competitivos no mercado internacional, não fossem os subsídios em outros países.
Custo Brasil - Para o representante da Faep, Carlos Augusto Albuquerque, a redução do Custo Brasil e a retirada da proteção tarifária para entrada dos produtos brasileiros na Europa poderiam compensar a manutenção dos subsídios europeus, conforme manifestou Pascal Lamy, comissário de comércio da União Européia.
Segundo Albuquerque, alguns produtos brasileiros já são competitivos na Europa, como a soja. Cerca de 70% da soja paranaense é destinada à Europa. O produto perde margem de lucro com os custos de escoamento da produção. Cerca de 25% do custo total da soja representa custos de transporte, transbordo e portuários.
Além disso, o embarque no Brasil é lento com capacidade máxima de 1,5 mil toneladas por hora, enquanto que existem portos com embarques de 5 mil toneladas por hora. "Fica difícil competir em custos com essa defasagem", disse. Segundo Albuquerque, os produtos brasileiros são bastante competitivos dentro da porteira, mas passam por fases de estrangulamento depois da porteira, que encarece os custos.
Apesar disso, se a UE quiser fazer acordo com o Mercosul, deve ser vantajosa para as duas regiões, disse Albuquerque. Ele defende que a UE promova a abertura de cotas para importação dos produtos brasileiros.