Servidores, alunos e professores de Londrina envolvidos na greve que paralisou as atividades na educação estadual confirmam que policiais à paisana, do setor de Inteligência da Polícia Militar, a P2, acompanham as ações dos sindicatos e do movimento estudantil nos últimos meses. Os servidores afirmam que não existe necessidade do monitoramento, já que os atos são públicos, e as assembleias, abertas ao público.
"Lamentamos apenas o método, que lembra a ditadura militar. Mas, não temos nada a esconder", comenta a diretora de comunicação do Sindiprol, que representa os docentes da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Silvia Alapanian. Ela também diz que a presença dos policiais não foi confirmada, mas existe a suspeita de que integrantes do setor de Inteligência teriam se infiltrado em assembleias no campus da UEL.
Já a Assuel Sindicato, que defende os servidores técnicos do Hospital Universitário (HU), confirma a presença dos policiais à paisana nas assembleias realizadas antes da aprovação do polêmico projeto de lei que alterou o Paranaprevidencia. "Para entrar no hospital, eles se identificaram na portaria e foram acompanhar a assembleia, onde não avisaram que eram policiais. As reuniões são abertas e a presença policial não tem relevância", comenta o diretor do sindicato, Adão Brasilino.
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O presidente da APP Londrina, Márcio André Ribeiro, lembra que o acompanhamento dos policiais à paisana é "frequente" nos atos públicos desde o início do movimento grevista. "Não vemos necessidade, já que o nosso grupo não possui histórico de violência. Nenhuma ocorrência foi registrada nas manifestações na cidade. Mas, preferimos entender que são servidores cumprindo ordens superiores", diz.
A APP realizou a assembleia geral da categoria em Londrina no final de abril, quando teve início a segunda paralisação dos professores no ano, mas Ribeiro lembra que o sindicato controla a entrada nos locais de reuniões da categoria. "Mesmo que a pessoa não seja sindicalizada, ela precisa se identificar como professor, com holerite ou outro documento, para participar das votações."
Os estudantes que integram o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UEL afirmam que o monitoramento passou a ocorrer com maior frequência após a repressão policial no dia 29 de abril no Centro Cívico em Curitiba. De acordo com eles, um suposto policial teria se apresentado como estudante, mas sem identificação deixou o local da assembleia dos universitários. "Estamos discutindo mecanismos para identificar as pessoas que participam das reuniões, já que consideramos o acompanhamento de policiais à paisana uma maneira de coação e repressão dos estudantes", informa Artur Boligian Neto, membro da gestão do DCE.
"NÃO COIBIR"
O porta-voz do 5º Batalhão da Polícia Militar, capitão Ricardo Eguedis, afirma que os acompanhamentos são realizados para levantamento de informações e planejamento de ações preventivas com repercussões na área de segurança pública. "O nosso objetivo não é coibir, mas temos que saber realmente o que está acontecendo para sermos pegos de surpresa", diz. Ele argumenta que um grande número de pessoas se reúne nas reuniões e manifestações e sugere um "contato preliminar" das entidades com a polícia para garantir a segurança dos participantes e das outras pessoas na região. "O trabalho não é de polícia política. O acompanhamento é preventivo para segurança de todos, sem prejuízo aos servidores e pessoas que se manifestam", garante.