De 1998 para 2010, o número de motos em Londrina cresceu, comparado à população, pouco mais de 100% – de 60 por 1.000 habitantes para 128 por 1.000 habitantes. No entanto, o número de motociclistas que se envolveram em acidentes de trânsito e receberam atendimento do SIATE ou do SAMU subiu bem mais – de 1.576 para 3.968, ou seja, 151,7%.
Aí está uma estatística que, somada ao noticiário cotidiano sobre a quantidade de acidentes sérios envolvendo motos em Londrina – não passa mês em que não haja morte de motoqueiros na cidade –, aponta para a necessidade da tomada de providências, pelo poder público, para amenizar a gravidade da situação.
Essa é a opinião de Flávia Lopes Gabani, a autora da pesquisa da qual surgiram, entre muitas outras informações, os números citados na abertura. Flávia é professora do Departamento de Enfermagem da UEL e fez a pesquisa no Mestrado em Saúde Coletiva da instituição, sob a orientação da professora Selma Maffei de Andrade. Sua dissertação teve o título "Motociclistas atendidos por serviços de atenção pré-hospitalar em Londrina: características dos acidentes e das vítimas em 1998 e 2010".
Leia mais:
Quinta-feira será de tempo instável e com chuvas em Londrina e região
Cena musical em Londrina: idosos são destaques no palco e na plateia
1ª edição do Dia da Saul Elkind vai acontecer neste sábado
Londrina e Cambé recebem do Ministério Público selo de ‘Município Antirracista’
O trabalho de Flávia foi o de fazer um levantamento dos registros de atendimentos dos socorristas do SIATE e do SAMU em 2010 e comparar com uma pesquisa com o mesmo foco realizada por uma aluna anterior do mesmo curso, Christiane Lopes Barrancos Liberatti, em 1998.
Flávia analisou 31.401 registros de atendimentos – e ali encontrou o número de 3.968 motociclistas vítimas de acidentes. Esse total representa um coeficiente de motociclistas acidentados por 1.000 habitantes de 783,1 em 2010, quase o dobro de 396,4 em 1998. E o coeficiente de vítimas para cada 1.000 motos também subiu: de 53,1 em 1998 para 61,1 em 1998.
As duas pesquisas deram resultados semelhantes em relação a várias características dos acidentes. Por exemplo: são mais frequentes as colisões de motos com carros e camionetes, assim como os acidentes à noite ou no fim de semana, e entre as vítimas predominam o sexo masculino e a idade entre 20 e 29 anos.
Quanto à gravidade dos ferimentos, duas constatações relevantes em 2010: houve um aumento das lesões múltiplas, sendo os membros (braços e pernas) os segmentos do corpo mais afetados, mas registrou-se uma queda importante de traumatismos cranianos. "Talvez isso se deva ao fato de que, em 1998, ano da introdução do novo Código Brasileiro de Trânsito, ainda não havia tanto rigor na exigência do uso do capacete pelos motoqueiros", diz Flávia.
Outras constatações: aumentou a frequência das quedas isoladas de motos e dos acidentes entre motos e subiu a proporção de vítimas nos dias úteis e no período da manhã. Sobre este último aspecto, Flávia diz acreditar que isso se deva ao fato de haver, hoje, muita gente que usa a moto para trabalhar, e essas pessoas "trabalham demais e dormem mal", ficando, assim, mais sujeitas a se envolver em acidentes de trânsito.
Atualmente, mulher que se envolve em acidente de moto é, em maior número, condutora, e não passageira, como ocorria em 1998. Outro fato relevante: a "percepção de álcool etílico" por parte dos socorristas – ou seja, a anotação de que a vítima tem hálito de quem ingeriu bebida alcoólica – diminuiu, em 2010, para 7,1% dos carros, metade dos 13,9% registrados em 1998. "Provavelmente como efeito da Lei Seca", diz a autora da pesquisa.
Por tudo isso, e observando as crescentes dificuldades do trânsito de Londrina, Flávia Lopes Gabani traz à tona a necessidade de providências das autoridades em relação ao planejamento viário, principalmente para facilitar a circulação de veículos de duas rodas – motos e também bicicletas. "Vemos que foram tomadas iniciativas voltadas para o pedestre, como a campanha Pé na Faixa, e para os ônibus, com a faixa exclusiva. Mas, para os usuários de veículos de duas rodas não temos nada. O que eles fazem então? Criam corredores virtuais, passam entre os carros, excedem a velocidade, porque a agilidade do veículo permite".
Ela não perde, porém, a perspectiva de que boa parte da responsabilidade pelos acidentes com motos é dos próprios motoqueiros, da maneira como se comportam no trânsito. "Li artigos sobre a realidade de outros países. Reparei que a China e outros países asiáticos são os lugares onde existem mais motos no mundo. Lá, embora não exista a organização que o trânsito requer, existe respeito na via pública. Uns respeitam os outros e todos tomam os cuidados necessários. Ou seja: sem educação, o problema não tem solução".